BATALHA DE POLLENTIA

 

Em 6 de abril de 402 D.C, em Pollentia, próximo à atual Asti, no norte da Itália, o exército visigodo do rei Alarico celebrava o domingo de Páscoa.  Os Visigodos eram cristãos que professavam a “heresia” ariana,  e, por conta disso, eles fizeram uma pausa na luta contra o exército romano do general Stilicho (Estilicão), para festejar o dia santo, e, certamente, acreditaram que os romanos fariam o mesmo…

Os Godos vinham sendo um espinho na carne do Império desde 378 D.C, quando, em uma das maiores catástrofes militares sofridas pelos romanos, um exército de cerca de 20 mil Godos, liderados pelo Chefe Fritigern, de um total de 200 mil que tinham cruzado o Danúbio e se refugiado no Império Romano do Oriente,entrincheiraram-se próximo à cidade de Adrianópolis e derrotaram o exército romano comandado pelo imperador Valente,  matando cerca de 40 mil soldados romanos, na chamada Batalha de Adrianópolis, incluindo o próprio imperador.

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A horda goda vagou pela Trácia e outras províncias orientais causando muito estrago, mas acabou sendo contida pelo imperador Teodósio I, que com eles celebrou um tratado de paz, em 382 D.C. Pela primeira vez, na História de Roma, um povo bárbaro inteiro foi admitido como foederati (aliados) dentro das fronteiras do Império Romano. Embora os Visigodos estivessem formalmente obrigados a prestar serviço militar à Roma, eles podiam fazê-lo sob o comando de seus próprios chefes. Os Godos, então, receberam autorização para se assentar na província da Mésia.

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Teodósio, dessa forma,  conseguira o seu objetivo de conter a ameaça goda, pois, durante o resto do seu reinado, os Godos respeitaram o tratado. Assim, quando, no final de seu reinado, em 394 D.C, na Batalha do Rio Frígido, Teodósio teve que combater o usurpador Eugênio, que havia sido colocado no trono como fantoche pelo general de origem franca Arbogaste, vinte mil visigodos combateram ao lado de Teodósio, e foram eles quem suportaram o maior castigo.

As derrotas militares sofridas na Pérsia, em 363 D.C, e nos confrontos com os Godos em Adrianópolis, em 378 D.C e no período logo a seguir, tinham destroçado boa parte do efetivo militar romano, e Teodósio preferiu, ou foi forçado pelas circunstâncias, a recrutar bárbaros para completar as fileiras desfalcadas do Exército.

Entretanto, logo após a Batalha do Rio Frígido, Teodósio morreu, deixando como sucessores, seus filhos Honório, na metade ocidental do Império, cuja capital era Milão, e Arcádio, na metade oriental, cuja capital era Constantinopla.

Os dois novos imperadores eram ainda crianças, e assim, Honório teve como tutor e virtual regente do Império do Ocidente o general Flávio Estilicão, filho de pai Vândalo e de mãe romana; já Arcádio, naquele momento, era controlado pelo ministro Rufino.

 

Com a morte de Teodósio, os Visigodos sentiram-se estimulados a exigir grandes recompensas pelo sacrifício que tinham feito no Rio Frígido. Seu rei agora era o astuto e competente Alarico, que ambicionava nada menos do que o cargo de Magister Militum per Illyricum, ou seja, marechal do exército da Ilíria, o que obteve após devastar a província da Grécia.

Alarico aproveitou o cargo, que lhe dava acesso aos arsenais romanos, para equipar o seu exército e saquear até a exaustão, durante cerca de cinco anos, as províncias da Dácia e da Macedônia.

Procurando novas regiões que oferecessem a perspectiva de mais e polpudos saques, mas, considerando que a capital do Oriente, Constantinopla, era inexpugnável para os bárbaros, Alarico voltou sua atenção para o Ocidente e dirigiu-se para a capital Milão.

A corte de Honório, julgando Milão vulnerável, resolveu se mudar para Arles, na Gália, contudo Alarico mandou ocupar os passos alpinos com sua cavalaria e ao mesmo tempo cercou Milão, obrigando Honório a se refugiar na cidade fortificada de Hasta (a moderna Asti, na Liguria).

Fazendo um movimento que denotava que ele visava capturar o próprio imperador, Alarico partiu para sitiar Hasta, iniciando o cerco em fevereiro de 402 D.C. Porém, mesmo após  terem se equipado com armas romanas, os visigodos ainda não dominavam a arte da guerra de sítio e Honório tinha uma boa expectativa de que os bárbaros suspenderiam o cerco devido à fome ou doenças.

O general Estilicão, enquanto isso, estava ocupado com a luta contra incursões bárbaras dos Vândalos e dos Alanos nas fronteiras da província da Récia. Quando a notícia do cerco chegou ao seu conhecimento, Estilicão conseguiu reunir tropas romanas do Reno e da Britânia e também recrutou os próprios guerreiros alanos e vândalos que ele estava combatendo, para vir em socorro do Imperador.

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Assim, quando Estilicão e seus homens chegaram, os Visigodos foram forçados a recuar para Pollentia (Polenza),

Estilicão chegou a Pollentia no dia 06 de abril e hesitou em lutar no domingo de páscoa, um dia sagrado para os soldados cristãos. Porém os homens, especialmente os aliados alanos, queriam lutar imediatamente e Estilicão resolveu aproveitar o élan deles para fazer um ataque da cavalaria alana sobre os desatentos visigodos.

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O ataque foi repelido, mas Estilicão acudiu com a infantaria e os Alanos se reanimaram. Na confusão, os Visigodos acabaram deixando o seu acampamento exposto e Estilicão conseguiu capturar a esposa de Alarico e seus filhos. Todavia, as indisciplinadas e barbarizadas tropas que agora constituíam agora o exército romano, ao invés de perseguirem os Visigodos, entregaram-se a pilhagem do acampamento inimigo, que estava repleto do produto dos saques que aqueles bárbaros haviam feito desde Adrianópolis, mais de 20 anos antes.

Após a Batalha de Pollentia, Alarico reagrupou suas forças e recuou para Verona, onde, em junho de 402 D.C, seria novamente derrotado, porém, mais uma vez, Estilicão falharia em destruir o rei visigodo e seu exército. Ele seria criticado duramente pelos historiadores por ter deixado Alarico escapar e, em vista disso, até a sua lealdade ao Império Romano seria questionada, o que parece duvidoso considerando toda a sua trajetória. Ele, por exemplo, não resistiu quando, anos mais tarde, foi preso em um motim fomentado por seus adversários na Corte e aceitou resignadamente a sua sentença de morte, executada em 22 de agosto de 408 D.C.

A principal consequência dos eventos narrados foi a mudança da capital do Império Romano do Ocidente de Milão para Ravenna, fato que facilitaria o posterior saque de Roma, em 410 D.C, por Alarico e seus visigodos. Essa mudança, segundo muitos historiadores, foi uma decisão errada, pois ocorreu em detrimento da defesa da fronteira do Reno, o que expôs a Gália, a maior e mais rica província do Ocidente, a mais ataques dos bárbaros. Para Arther Ferril (“A Queda do Império Romano, a Explicação Militar”), naquele momento, para o Império Romano do Ocidente o mais importante estrategicamente era a defesa da Gália, o que recomendaria até a instalação da capital em Arles).

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