Em 8 de dezembro de 65 A.C, nasceu, em Venusia (atual Venosa), no sul da Itália, Quintus Horatius Flaccus (Horácio), filho de um escravo liberto que conseguiu tornar-se leiloeiro público. A cidade ficava na região do Samnium, que deu nome ao povo itálico dos Samnitas.

Embora tivesse origem humilde, o pai de Horácio conseguiu amealhar dinheiro suficiente para lhe dar uma esmerada educação, inclusive propiciando que ele fosse estudar em Roma.
Horácio nunca deixou de demonstrar sua extrema gratidão à formação que seu pai lhe proporcionou, referindo-se a ele afetuosamente na sua obra Sátiras:
“Se meu caráter é maculado por algumas pequenas falhas, mas, fora isso, é decente e moral, se tu podes apontar apenas algumas manchas numa superfície que, de resto, é imaculada, se ninguém pode me acusar de cobiça, lascívia ou desregramento, se vivo eu uma vida virtuosa, livre de corrupção (perdoem-me, por um instante, a minha auto emulação), e se sou eu para meus amigos, um bom amigo, meu pai merece todo o crédito…Como agora ele merece de mim irrestrita gratidão e exaltação. Eu jamais poderei me envergonhar de tal pai, nem sinto eu qualquer necessidade, como tanta gente sente, de me desculpar por ser filho de um liberto” (Sátiras, 1.6.65-92).
Depois de estudar em Roma, onde o pai havia se juntado a ele, Horácio foi completar a sua formação em Atenas, estudando na famosa Academia, fundada por Platão. Ali, ele foi influenciado pela escola filosófica de Epicuro e também pelos filósofos estoicos. É provável que, antes ou durante a viagem, o pai de Horácio tenha falecido, deixando-lhe uma boa herança.
Em seguida, Horácio alistou-se, entre 44 e 42 A.C., no exército de Marcus Junius Brutus (Bruto), o líder dos conspiradores e assassinos do Ditador Júlio César, e que se autointitulavam “Os Libertadores” (Bruto (após o assassinato, tinha fugido para a Grécia e visitou Atenas, onde procurou angariar adeptos para a causa dos Optimates – a facção dos partidários da nobreza no Senado Romano que se opunha ao Ditador).
Tendo sido nomeado para o alto posto de tribuno militar, normalmente reservado para jovens da nobreza romana, Horácio chegou a combater na Batalha de Fílipos, travada em outubro de 42 A.C. contra os sucessores políticos de César, integrantes do Segundo Triunvirato, Otaviano, Marco Antonio e Lépido. Com a derrota dos “Libertadores“, Horácio teve as suas propriedades confiscadas pelos Triúnviros.
Apesar de ter escolhido o lado dos perdedores na Guerra do Segundo Triunvirato, bem como do confisco de seus bens, Horácio, graças à sua esmerada educação, conseguiu um emprego como escrivão do Tesouro da República (Aerarium), cargo que lhe permitiu começar a sua produção literária sem ter que se preocupar com a própria subsistência.
Então, a sorte somou-se ao talento de Horácio, quando, em 38 A.C., ele foi apresentado pelo seu amigo Virgílio, que, então, já era um festejado poeta, ao rico Mecenas, um entusiasmado patrono das artes que era amigo íntimo de Otaviano, o herdeiro de César, que se tornaria o futuro imperador Augusto.

Horácio caiu nas graças de Mecenas, que inclusive deu-lhe de presente uma villa em Tívoli, e ele foi introduzido no círculo de poetas protegidos de Otaviano. Consequentemente, Horácio começou a receber encomendas de odes e poemas alusivos a eventos importantes para a propaganda imperial. Ele compunha seus versos em hexâmetros (métrica poética) e iambos (unidade rítmica).
Mecenas e Otaviano gostavam tanto de Horácio que o segundo, já transformado no imperador Augusto, convidou-o para ser seu secretário particular, o que era uma honra incomensurável, mas que foi delicadamente recusada pelo Poeta.
Em uma de suas Epístolas, datada 21 A.C., Horácio descreve a si mesmo como:
“tendo 44 anos e sendo baixo, bronzeado, prematuramente grisalho, de pavio-curto, mas facilmente acalmado.

Em 27 de novembro de 8 A.C., Horácio faleceu, poucos meses depois de Mecenas, e, em obediência às instruções de Augusto, o Poeta foi sepultado no Mausoléu do seu falecido amigo e benfeitor, situado na colina do Esquilino, em Roma.

As obras mais famosas de Horácio são as Sátiras e as Odes, além da Ars Poetica A poesia de Horácio, em muitas passagens, denota a influência da corrente filosófica do Epicurismo. Um dos versos mais famosos, de uma das “Odes”, é
“Carpe diem, quam minimum credula postero” (aproveite o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã)
O conhecido verso, vale notar, voltou a ficar célebre em nosso tempo na fala do Professor de Literatura Keating, personagem de Robin Williams, no filme “Sociedade dos Poetas Mortos“.

Já na Antiguidade, Horácio foi reconhecido como um dos maiores poetas latinos. O retórico Quintiliano considerava as Odes “os únicos versos latinos que mereciam ser lidos“.
A obra de Horácio atravessou os séculos e influenciou importantes poetas e pensadores como Montaigne, Garcilaso de la Vega, Milton e muitos escritores e poetas da língua inglesa, além do grande filósofo Immanuel Kant, que usou um verso de Horácio – “Sapere aude” (“Ouse saber!”) – como o lema para a Era do Iluminismo em um ensaio.

Segundo as palavras do próprio Horácio, o seu objetivo ao compor versos era o de dizer a verdade de um modo satírico:
“O que impede de dizer a verdade, rindo?”.
Os seguintes versos são um exemplo da refinada veia satírica do Poeta:
“Há um defeito comum a todos os cantores: entre os seus amigos, eles nunca cantam quando se pede; e jamais param de cantar quando não é“.
“Ajudar um homem contra a vontade dele é fazer o mesmo que matá-lo“.
Até um verso de Horácio foi citado recentemente em latim pelo juiz Sérgio Moro para minimizar as revelações do site Intercept (vide https://newsba.com.br/2019/06/23/moro-ironiza-the-intercept-em-latim-parturiunt-montes-nascetur-ridiculus-mus/):
“As montanhas pariram um ridículo rato.” (parturiunt montes, nascetur ridiculus mus.“)
Horácio provavelmente acharia graça na citação, uma vez que aquilo que o juiz chamou de “rato” terminou por mostrar-se ser animal muito maior e poderoso…
Bom dia!
Gostei das citacões de Horácio. Muito bom buscar resgatar as histórias dos nossos antepassados. Nossa cultura ocidental é riquíssima.
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Bom dia, Estéfano. Obrigado pelos comentários e por seguir o blog!
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