Os 10+ (Anfiteatros)

Olá, amigos do blog!

Decidimos criar uma nova categoria no blog, sobre os mais significativos exemplares da Arte e da Arquitetura Romanas, e nessa categoria, inauguramos a série “Os 10+“, começando pelos Anfiteatros Romanos.

Anfiteatro é uma palavra grega que significa “teatro com dois lados” ou “teatro de ambos os lados”, já que, basicamente, um teatro é um semicírculo ou uma meia-lua, e um anfiteatro é um círculo perfeito, ou uma elipse. Apesar disso, todos os anfiteatros antigos que sobreviveram são romanos, e, até onde eu sei, não se conhece nenhum de origem grega, o que dá a entender que de fato eles sejam uma invenção romana.

Os anfiteatros estão diretamente relacionados com os jogos de gladiadores e suas variações, como os espetáculos de caçadas ou lutas contra animais (inclusive como forma de execução de condenados) ou entre as próprias feras (venationes), e até mesmo de batalhas navais (pelo menos a arena do Coliseu podia ser preenchida com água para esse fim).

Segundo o historiador romano Tito Lívio, as lutas de gladiadores seriam um costume iniciado pela tribo dos Campânios, que fazia parte do povo Osco, da região da Campânia. Já para os historiadores modernos, elas seriam um costume fúnebre etrusco. O anfiteatro mais antigo sobrevivente e provavelmente o primeiro a ser construído em pedra é o Anfiteatro de Pompéia. Considerando que Pompéia foi fundada pelos Oscos, e, posteriormente, dominada pelos Etruscos, qualquer que seja a verdadeira origem dos jogos, isto provavelmente explica o fato dela ter sido a primeira cidade que construiu um anfiteatro.

Sem mais delongas, vamos àqueles que eu considero os anfiteatros romanos sobreviventes mais bem preservados e/ou impressionantes:

1- Anfiteatro de Nîmes (antiga Nemausus, França)

O mais bem preservado do mundo, na minha opinião, sua capacidade original era de 20 mil espectadores, construído no início do reinado de Trajano (por volta de 100 D.C). Ainda é utilizado para uma série de espetáculos, incluindo touradas. Tive a oportunidade de visitá-lo em 2003 e recomendo a visita para todos.

Foto do Autor
Foto By Krzysztof Golik, edited by Janke – This file was derived from: Arenes de Nimes (18).jpg, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=116261573
Arènes de Nîmes (By Herbert Frank from Wien (Vienna), AT – Arènes de Nîmes (1. Jhdt.n.Chr.), CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=77739282

2- Anfiteatro de El-Djem (antiga Thysdrus, Tunísia)

O Anfiteatro de El-Djem, que é claramente inspirado no Coliseu, dependendo das fontes, seria o terceiro maior do Império Romano e foi construído por volta de 238 D.C, talvez pelo governador da Província, Gordiano, pouco antes dele ser aclamado imperador. Mas, talvez o mais impressionante quanto a este anfiteatro é a comparação do seu tamanho com o da cidade onde foi construído. Sua capacidade estimada é de 35 mil espectadores, enquanto que El-Djem tem somente 21 mil habitantes. E sabemos que a cidade não era maior do que isso na época do Império Romano. Então, ele só devia ficar cheio em grandes eventos, que provavelmente atraíam aficionados de toda a Província da África e além.

By Diego Delso, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=51315489

3- Anfiteatro de Verona, Itália

O Anfiteatro de Verona é certamente o mais bem preservado da Itália, e que, assim como os Anfiteatros de Nîmes e de Arles, continua a ser utilizado para espetáculos. É um dos mais antigos existentes, datando de 30 D.C, sendo precedido pelo de Pompéia. Sua capacidade estimada na Antiguidade era de 30 mil lugares. Apesar de seu estado excepcional, ele perdeu o anel externo durante um terremoto no século XII, e por isso, perde para o de Nîmes neste quesito.

Arne Müseler / http://www.arne-mueseler.com, CC BY-SA 3.0 DE https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/de/deed.en, via Wikimedia Commons

4- Anfiteatro de Pompéia, Itália

É o anfiteatro mais antigo existente, construído em 70 A.C., e é bem possível que ele seja o primeiro anfiteatro de pedra da História (anteriormente os anfiteatros romanos eram construídos de madeira). Como todos os anfiteatros romanos, tinha um setor separado para os cidadãos das classes superiores, mais próximo da arena. Como curiosidade, o historiador romano Tácito relata que, devido a uma briga entre os espectadores que se alastrou pelas ruas da cidade deixando vítimas fatais, envolvendo os moradores locais e os oriundos da cidade vizinha de Nuceria, o imperador Nero, como punição, proibiu durante dez anos a realização de jogos de gladiadores no Anfiteatro (Anais, XIV, 17). O relato é confirmado por um afresco encontrado em Pompéia, retratando exatamente este conflito, mas quando a erupção do Vesúvio ocorreu, em 79 D.C., esse prazo já tinha expirado e várias armas e armaduras de gladiadores foram encontrados nas escavações. Aliás, nessa pintura, é possível ver que o Anfiteatro de Pompéia, assim como o Coliseu e muitos outros de seus congêneres, possuía uma cobertura retrátil de algum tipo de tecido ou de lona, chamada de “velarium“. Sua capacidade estimada situa-se entre 12 e 20 mil lugares (ou seja, acomodaria toda a população provável da cidade). Foi palco de um célebre show da banda Pink Floyd.

By No machine-readable author provided. Buckeye~commonswiki assumed (based on copyright claims). – No machine-readable source provided. Own work assumed (based on copyright claims)., CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=554974
By Norbert Nagel – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=28315626
O afresco retratando a briga entre os cidadãos de Pompéia e de Nuceria, em torno do Anfiteatro de Pompeia. By U.D.F., Paris – Robert Etienne: Pompeji, die eingeäscherte Stadt, Ravensburg 1991, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=556721

5- Anfiteatro de Cápua (atual Santa Maria Capua Vetere), Itália

Este anfiteatro não está bem preservado, mas vale ser mencionado porque, além de ser o segundo maior do Império Romano, em capacidade, acredita-se que ele tenha servido de modelo para o maior e mais famoso anfiteatro de todos, o Coliseu. Além disso, alguns especialistas acreditam que ele seria mais antigo que o de Pompéia, pois teria sido construído em 100 A.C. Mas uma inscrição existente no anfiteatro parece indicar que ele foi construído quando Cápua já tinha o nome de Colonia Julia Felix Augusta Capua, o que só poderia ter ocorrido a partir de 27 A.C. De qualquer modo, mesmo antes disso, Cápua já era afamada como um centro de organização de jogos de gladiadores e escolas de treinamento. Inclusive, o mais famoso gladiador de todos os tempos, Spartacus, treinava e lutava em Cápua, na companhia de gladiadores de propriedade do lanista Lentulus Batiatus. Estima-se que tinha uma capacidade de 45 mil espectadores, embora haja quem calcule que coubessem 60 mil.

Stanley-goodspeed, CC BY-SA 3.0 http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/, via Wikimedia Commons

6- Anfiteatro de Arles (antiga Arelate, França)

Outro anfiteatro que está bem preservado e ainda é utilizado para touradas e outros espetáculos. Construído em 90 D.C., após a Queda do Império Romano o anfiteatro foi utilizado como fortaleza, tendo-lhe sido incorporadas quatro torres medievais, três das quais ainda persistem, sendo este o motivo principal da sua sobrevivência. Tinha capacidade original para 20 mil espectadores.

By Jmalik at English Wikipedia, CC BY 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4496808
By Rolf Süssbrich – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=11123078

7- Anfiteatro de Pula, Croácia

Embora apenas um pequeno trecho das suas arquibancadas tenha sobrevivido, o Anfiteatro de Pula possui uma das fachadas mais bem preservadas, com a parede exterior completa, incluindo, desde a sua construção, uma característica incomum: quatro projeções externas em formato de torres. Foi construído no reinado do imperador Vespasiano, substituindo dois anfiteatros anteriores, o primeiro de madeira, datado do reinado de Augusto. Originalmente, ele tinha cerca de 22 mil lugares e hoje hospeda shows e concertos musicais.

Diego Delso, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

8- Anfiteatro de Pozzuoli (antiga Puteoli, Itália)

É o terceiro maior anfiteatro da Itália, e, talvez, de todo o Império Romano (disputa esta posição com o de El-Djem, uma vez que as estimativas variam), abrigando talvez até 50 mil espectadores. Situava-se no entroncamento de estradas que levavam a Puteoli vindas de Cápua, Nápoles e Cumas, o que demonstra que a região da Campânia era mesmo um polo irradiador e atrativo de espetáculos de gladiadores. Foi construído no reinado do imperador Vespasiano (quando, tudo indica, houve uma febre de construção de anfiteatros, provavelmente estimulada pela construção do Coliseu, iniciada no reinado dele) e por isso recebeu o nome de Anfiteatro Flaviano. Ainda possui, em bom estado de conservação, os corredores subterrâneos e as aberturas por onde as gaiolas com os animais eram içadas até a arena. Segundo a tradição cristã, em 305 D.C,. os mártires cristãos São Próculo e São Januário foram condenados a serem executados neste anfiteatro, mas como os animais não os atacaram, eles acabaram sendo decapitados em uma localidade próxima.

Wojtek-Rajpold, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

9- Anfiteatro de Mérida (antiga Emerita Augusta, Espanha)

Não é o maior da Espanha (certamente o de Córdoba e o de Itálica eram maiores) e, em termos de preservação, equivale ao de Itálica, porém escolhemos o Anfiteatro de Mérida pelo fato dele ser datado de 8 A.C, e portanto, ele é um dos mais antigos e provavelmente um dos primeiros construídos pelos romanos fora da Itália. Sua capacidade era de 15 mil espectadores.

By Daniel Di Palma – Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=134427057

10 – Anfiteatro de Uthina (atual Oudna, Tunísia)

Escolhemos o Anfiteatro de Uthina pelo seu bom estado de conservação. É um bom exemplo dos inúmeros anfiteatros espalhados pelas províncias romanas do Norte da África, o que demonstra a sua prosperidade durante o Império. Como a maior parte dos anfiteatros africanos, o de Uthina foi parcialmente escavado no solo e os degraus apoiados na encosta da elevação existente no local. Tinha cerca de 16 mil lugares e foi construído no reinado do imperador Adriano.

Hublitz, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons

Hors-Concours – O Coliseu

A epítome de todas as arenas romanas, frequentemente os historiadores romanos referiam-se ao Coliseu apenas como: “O Anfiteatro” e, obviamente, os seus leitores saberiam imediatamente que eles estavam se referindo ao Anfiteatro Flavio, de Roma (acredita-se que este era o seu nome oficial, embora isto não conste de nenhuma inscrição ou texto antigo), pois a sua construção começou em 72 D.C, no início do reinado do imperador Vespasiano (Tito Flávio Vespasiano), ficando pronto em 80 D.C, no reinado de seu filho, Tito.

O autor, no Coliseu, no ano 2000.

O apelido “Coliseu”, do latim Colosseum, decorre, sim, de um objeto de tamanho monumental, mas não o do próprio anfiteatro, como muitos podem pensar, e sim de uma enorme estátua do imperador Nero, de mais de 30 metros de altura (ou seja, quase do tamanho do Cristo Redentor) ao lado da qual ele foi construído. Provavelmente, a plebe romana passou a dizer que ia assistir as lutas no “anfiteatro do Colosso” e o nome pegou.

Aliás, o local onde o Coliseu foi construído era ocupado antes pelo também colossal palácio construído por Nero, chamado de Domus Aurea. Inclusive, o enorme lago artificial que havia, margeado por colunatas e aposentos, e alimentado pelo aqueduto de Cláudio (Acqua Claudia), foi drenado, e a infraestrutura hidráulica aproveitada para possibilitar uma das características mais incríveis do Anfiteatro: a sua capacidade de sua arena ser enchida com água, transformando-o em uma “Naumaquia“, em que batalhas navais eram simuladas. A escolha do local certamente foi um gesto político de Vespasiano, em que ele devolvia ao povo a área que havia sido apropriada por Nero para o seu prazer pessoal, e os recursos vieram do saque à cidade e ao Templo de Jerusalém, ocorrido em 70 D.C.

FeaturedPics, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

A capacidade do Coliseu é estimada entre 55 mil e 70 mil espectadores, alguns falando em 80 mil lugares. As 80 entradas em arco (sendo quatro maiores: uma exclusiva para o imperador e outras três para senadores e outros figurões), as escadarias e os setores eram numerados, assim como em um estádio moderno. O acesso e a saída das arquibancadas se dava, como nos estádios modernos, por túneis e aberturas chamados de vomitórios (vomitoria), e estudos mostram que o Anfiteatro poderia ser esvaziado em poucos minutos, graças ao primoroso projeto arquitetônico. Finalmente, havia um elaborado sistema de cobertura retrátil, o velarium, tão complexo e de fato semelhante aos cabos e velas de um navio, que tinha que ser manejado pelos marinheiros da Frota Imperial de Misenum.

Foto Wikicomons, domínio público

O Coliseu espelhava a estratificação vertical da sociedade romana, pois os lugares eram acessíveis de acordo com a classe social dos espectadores: O Imperador tinha seu camarote exclusivo, os senadores ocupavam os bancos mais próximos da arena (inclusive há vestígios de inscrições contendo nomes individuais de alguns senadores, como se fossem lugares cativos), vindo depois os Equestres, os cidadãos romanos plebeus livres, esses divididos entre ricos e pobres, e, por último, mulheres e escravos.

A fachada do Coliseu, assim como boa parte de todo seu revestimento exterior e interior é de mármore travertino (100 mil m³!), mas a sua estrutura é também em parte feita do resistente concreto romano e de tijolos. Esta fachada é de grande rigor arquitetônico clássico, pois os três andares são decorados por arcos emoldurados por meias-colunas, sendo os capitéis do estilo dórico, no primeiro (onde estão as entradas), jônico, no segundo e coríntio no terceiro. Embaixo de cada um dos arcos do segundo e terceiro andares havia uma estátua, provavelmente de divindades.

Embaixo da arena, havia um imenso labirinto de corredores e de celas para feras, e onde também havia guindastes para içamento de jaulas, constituindo um espaço subterrâneo que era chamado de “Hipogeu” (palavra grega que tem exatamente este significado). Vale citar que o Hipogeu foi construído mais tarde, durante o reinado de Domiciano, e, com isso, o Coliseu não pôde mais ser inundado, perdendo a sua breve funcionalidade como Naumaquia.

Segundo o historiador Cássio Dião, nos jogos inaugurais do Coliseu, em 80 D.C, foram mortos 9 mil animais e um número desconhecido de gladiadores. As lutas de gladiadores foram proibidas pela primeira vez pelo Imperador Romano do Ocidente, o cristão Honório, em 399 D.C, mas há registros de que elas voltaram a ser travadas e, no Coliseu, somente cessaram de vez em 435 D.C. E mesmo após a Queda do Império Romano do Ocidente, em 476 D.C, espetáculos de caçadas e lutas de animas (venationes) continuaram a serem organizados ali pelo menos até 523 D.C.

Como diria Maximus Decimus Meridius: “Vocês ficaram entretidos?” kkkk

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