Os 10+ (Arcos do Triunfo)

Os arcos do triunfo são uma criação romana*, um monumento normalmente isolado (isto é, que não está ligado a outros edifícios ou inserido em uma muralha ou parede), e cujo elemento principal é a existência de uma passagem sob uma ou mais arcadas, atravessadas por uma estrada ou via (quando o arco do triunfo é em formato cúbico e apresenta um arco em cada um dos seus lados, é chamado de “Tetrápilo“, do grego Tetrapylon).

Assim, basicamente, os arcos do triunfo são estruturas retangulares ou quadradas, com um ou mais arcos em suas fachadas, decoradas com relevos e ostentando uma inscrição comemorativa no ático (parte superior de uma construção, que fica acima das cornijas, na frente do telhado, ocultando este) erguidos sobre caminhos que os atravessavam, e em cujo topo havia um grupo de estátuas. A criação dos arcos do triunfo decorre do antigo costume romano de realizar uma procissão triunfal (Triunfo) pelas ruas da cidade de Roma, por ocasião das vitórias militares obtidas contra seus inimigos, onde desfilavam o general vitorioso e suas tropas vitoriosas, acompanhadas do produto do saque e dos chefes inimigos eventualmente capturados. Essa procissão também tinha um caráter religioso.

Mais tarde, durante o Império, arcos do triunfo também foram erguidos para homenagear a pessoa do imperador, não necessariamente em função do sucesso em alguma guerra (vale citar que, a partir de Augusto, os Triunfos eram exclusivos dos imperadores). Durante a República, os arcos do triunfo não eram erguidos para serem permanentes, e geralmente, no início, eram feitos de madeira (e eram então chamados de “fornices”, plural de “fornix“). Os arcos em alvenaria, revestidos de mármore, que chegaram aos dias de hoje, são do período imperial. 

A construção de arcos do triunfo espalhou-se por todo o Império e praticamente toda cidade que se prezasse construiu um. Após a Queda do Império Romano, a prática reviveu durante o período carolíngio e, principalmente, durante a Renascença. Depois disso, quase todos governantes que se propuseram a exaltar a sua própria grandeza ou a de seu país ergueram arcos do triunfo ao redor do mundo, sendo o mais famoso, o Arco do Triunfo de Paris, erguido por Napoleão, mas eles existem também, entre outros inúmeros lugares, como Moscou, Berlim, Londres, Nova York e até em Pyongyang, na Coréia do Norte.

*Nota: Os romanos não inventaram o arco e provavelmente o assimilaram da arquitetura etrusca, mas não há registro de algum povo que os tenha precedido ao construí-los do mesmo modo e com o mesmo propósito dos seus arcos triunfais.

Dito isso, sem mais delongas, vamos àqueles que eu considero os arcos do triunfo romanos sobreviventes mais bem preservados e/ou impressionantes (OBS: trata-se de uma seleção discricionária minha, e a posição na lista não indica primazia. Aceitamos outras sugestões nos comentários).

1- Arco de Tito, em Roma

Foto Jebulon, CC0, via Wikimedia Commons

Decidimos começar nossa relação pelos três arcos mais importantes sobreviventes na cidade de Roma, e destes, o Arco de Tito é o mais antigo.

O Arco de Tito foi erguido após a morte deste imperador, cujo reinado foi pelo seu irmão e sucessor, Domiciano, em 81 D.C, no Fórum Romano, para comemorar tanto a deificação do querido e finado Tito (que reinou por menos de dois anos e cuja morte foi muito pranteada pelo Senado e pelo povo), quanto a vitória que este obteve ao conquistar Jerusalém, ainda durante o reinado do pai de ambos, Vespasiano, na Guerra da Judéia, em 70 D.C.

Composto por um arco singelo, ladeado por quatro colunas coríntias, é uma construção elegante, com cerca de 15 m de altura e 13 metros de largura. Uma de suas características mais notáveis são os painéis de relevo nas paredes sob o arco, retratando a procissão triunfal com os despojos do Templo de Jerusalém, incluindo o célebre candelabro de sete braços (Menorá).

A inscrição original diz: 

“SENATVS POPVLVSQVE ROMANVS . DIVO TITO · DIVI · VESPASIANI · F(ILIO) VESPASIANO · AVGVSTO”

(“O Senado e o Povo de Roma (ao) Divino Tito Vespasiano Augusto, filho do divino Vespasiano Augusto”)

2- Arco de Septímio Severo, em Roma

Foto A. Hunter Wright, CC BY-SA 3.0 http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/, via Wikimedia Commons

Este arco foi construído no Fórum Romano, quase na frente à Cúria do Senado, em 203 D.C, e dedicado à vitória do imperador Septímio Severo, e seus filhos, Caracala e Geta, na campanha contra os Partas.

O Arco de Septímio Severo tem cerca de 23 m de altura e 25 m de largura, e é composto de um arco central maior ladeado por dois arcos laterais menores, entremeados por quatro colunas em estilo compósito, e tem sua fachada, bem como as paredes interiores dos arcos, ricamente decoradas por relevos retratando a campanha, sendo que nos ‘tímpanos” (espaços triangulares entre a moldura quadrada onde o arco se insere e este) foram esculpidas vitórias aladas carregando trófeus de despojos dos inimigos. Infelizmente, os relevos externos encontram-se bastante erodidos pelo tempo e pelas intempéries.

Como curiosidade, nota-se que as efígies retratando Geta, o filho mais novo de Septímio Severo, foram intencionalmente apagadas em função da “damnatio memoriae” (condenação de uma pessoa a ter sua imagem excluída dos registros e monumentos públicos) decretada pelo Senado Romano por ordem de seu irmão e assassino, Caracala.

A inscrição dedicatória existente no ático deste arco diz:

IMP · CAES · LVCIO · SEPTIMIO · M · FIL · SEVERO · PIO · PERTINACI · AVG · PATRI PATRIAE PARTHICO · ARABICO · ET PARTHICO · ADIABENICO · PONTIFIC · MAXIMO · TRIBUNIC · POTEST · XI · IMP · XI · COS · III · PROCOS · ET IMP · CAES · M · AVRELIO · L · FIL · ANTONINO · AVG · PIO · FELICI · TRIBUNIC · POTEST · VI · COS · PROCOS · (P · P · OPTIMIS · FORTISSIMISQVE · PRINCIPIBUS) OB · REM · PVBLICAM · RESTITVTAM · IMPERIVMQVE · POPVLI · ROMANI · PROPAGATVM · INSIGNIBVS · VIRTVTIBVS · EORVM · DOMI · FORISQVE · S · P · Q · R.

(“Ao Imperador César Lúcio Septímio Severo Pio Pertinax Augusto Pártico Arábico Adiabênico, filho de Marco, Pais da Pátria, Pontífice Máximo, no décimo-primeiro ano do seu Poder Tribunício, no décimo-primeiro ano de seu governo, Cônsul por três vezes, e Procônsul, e ao Imperador César Marco Aurélio Antonino Augusto Pio Feliz, filho de Lúcio, no sexto ano de seu Poder Tribunício, Cônsul e Procônsul, Pais da Pátria, melhores e mais fortes Príncipes, por conta da restauração da República e extensão do Império do Povo Romano propagados pela sua insigne virtude, em casa e no exterior, o Senado e Povo Romano (dedicam este monumento”).

3- Arco de Constantino, em Roma

Foto Paris Orlando, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

Foi dedicado em 25 de julho de 315 D.C para comemorar a vitória do imperador Constantino sobre seu rival Maxêncio, na Batalha da Ponte Mílvio, em 312 D.C., entre o Coliseu, o sopé da colina do Palatino e o Templo de Vênus e Roma. Segue o estilo arquitetônico do Arco de Septímio Severo, com um arco principal ladeado por dois arcos menores, só que entremeados por quatro colunas em estilo coríntio. Alguns estudiosos sugerem que este arco teria sido construído por Adriano ou Maxêncio, e remodelado após a vitória de Constantino, para homenageá-lo. Embora seja um dos mais imponentes (e bem preservados) arcos do triunfo que sobreviveram, na verdade o Arco de Constantino foi decorado com relevos e estátuas retiradas de monumentos mais antigos, erguidos pelos imperadores Trajano, Adriano e Marco Aurélio, tendo algumas cabeças sido retrabalhadas para representar Constantino. Um elemento notável que foi reutilizado neste Arco, que já referimos em nosso artigo sobre Antínoo é o “tondo” (painel circular) retratando uma caçada a um leão realizada por Adriano e seu amante, um episódio real no qual Adriano salvou a vida de Antínoo. Para muitos estudiosos, a necessidade de retirar peças de monumentos antigos seria uma prova do declínio da arte da escultura ocorrida no período do Império Romano Tardio, dentro de um quadro geral de decadência técnica e artística, o que para outros seria um tanto discutível, já que grandes obras arquitetônicas e artísticas foram produzidas nesta época, ainda que abandonando os canônes da arte clássica.

O Arco de Constantino tem cerca de 21m de altura e 26 de largura.

A inscrição dedicatória existente no ático deste arco, originalmente feita com letras de bronze, está escrita assim:

“IMP(eratori) · CAES(ari) · FL(avio) · CONSTANTINO · MAXIMO · P(io) · F(elici) · AVGVSTO · S(enatus) · P(opulus) · Q(ue) · R(omanus) · QVOD · INSTINCTV · DIVINITATIS · MENTIS · MAGNITVDINE · CVM · EXERCITV · SVO · TAM · DE · TYRANNO · QVAM · DE · OMNI · EIVS · FACTIONE · VNO · TEMPORE · IVSTIS · REMPVBLICAM · VLTVS · EST · ARMIS · ARCVM · TRIVMPHIS · INSIGNEM · DICAVIT”

(“Ao imperador César Flávio Constantino, o maior, pio e bendito Augusto, porque ele, inspirado pelo Divino, e pela grandeza de sua mente, livrou o Estado do tirano e de todos os seus seguidores ao mesmo tempo, com seu Exército e pela força justa das armas, o Senado e o Povo de Roma dedicaram este Arco, decorado com triunfos”).

Muitos estudiosos acreditam que a incomum alusão à inspiração de Constantino pelo “Divino” constituiu já uma alusão sutil â sua devoção ao Cristianismo, ou ao menos, um prenúncio da sua conversão (que somente seria oficializada com seu batismo no leito de morte, em 337 D.C). Outros consideram que a expressão utilizada é propositadamente ambígua, de modo a não desagradar tanto os cristãos como os pagãos. Vale lembrar que as fontes relatam que, antes da Batalha da Ponte Mílvio, Constantino teria tido uma visão ou um sonho no qual uma cruz de luz apareceu no céu, acompanhada da inscrição “In hoc signus vinces” (“Neste sinal, vencerás”).

4- Arco de Trajano, em Benevento, Itália

Foto Decan, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

Este arco, um dos mais bem preservados entre todos os arco romanos sobreviventes, foi construído entre 114 e 117 D.C., comemorando as vitórias do imperador Trajano contra os Dácios (provavelmente também adicionando-se posteriormente elementos relativos às suas vitórias contra os Partas), e tem 15,60 m de altura por 8,60 de largura. Podemos considerá-lo um tipo intermediário entre o Arco de Tito e o Arco de Septímio Severo, tendo apenas um grande arco central com a fachada coberta de relevos, dos quais os mais interessantes são os que retratam o imperador distribuindo pães para crianças pequenas nos ombros dos seus pais, uma alusão ao programa dos Alimenta, instituído por Trajano em favor da população pobre da Itália.

Consta de sua inscrição dedicatória o seguinte texto:

IMP(peratori) CAESARI DIVI NERVAE FILIO NERVAE TRAIANO OPTIMO AUG(usto) GERMANICO DACICO PONTIF(ici) MAX(imo) TRIB(unicia) POTEST(ate) XVIII IMP(eratori) VII CO(n)S(uli) VI P(atri) P(atriae) FORTISSIMO PRINCIPI SENATUS P(opulus) Q(uo) R(omanus)”.

(“Ao Imperador César filho do Divino Nerva, Nerva Trajano, o melhor Augusto, Germânico Dácico, Pontífice Máximo, no décimo oitavo ano de seu Poder Tribunício, sete vezes aclamado imperador, seis vezes escolhido Cônsul, Seis Vezes aclamado Pai da Pátria, Princípe mais forte, o Senado e Povo de Roma (dedicam este monumento”).

5- Arco de Germânico, Saintes, França

Foto By Propre travail – Own work, CC BY-SA 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1965184

Este é um arco dedicado não apenas a um imperador, mas a um integrante da família imperial, Germânico, o sobrinho-neto de Augusto, que, ao adotar seu enteado Tibério, obrigou este, por sua vez a adotar o primeiro como herdeiro. O arco também é dedicado a este imperador e ao filho deste, Druso, mas estas inscrições encontram-se bem erodidas.

O Arco de Germânico foi construído na cidade de Saintes, França, então conhecida como Mediolanum Santonum, na Província da Gália Aquitânia, entre os anos 18 e 19 D.C, por iniciativa e às custas de um provincial importante, Caius Julius Rufus, e, originalmente, ficava no término da estrada que ligava Saintes a Lugdunum (atual Lyon), às margens do rio Charente. Mede 15 m de altura por 15,9 m de largura e possui dois arcos do mesmo tamanho, lado a lado.

Há uma inscrição dedicatória do monumento e outra inscrição alusiva ao financiador do monumento:

GERMANICO [CAESA]R[I] TI(berii) AUG(usti) F(ilio)
DIVI AUG(usti) NEP(oti) DIVI IULI PRONEP(oti)
[AUGU]RI FLAM(ini) AUGUST(ali) CO(n)S(uli) II IMP(eratori) II

(“A Germânico César, filho de Tibério Augusto, neto do divino Augusto, bisneto do divino Júlio, áugure, sacerdote dos augustais, Duas vezes Cônsul, aclamado imperador duas vezes“).

C(aius) IVLI[us] C(aii) IVLI(i) OTUANEUNI F(ilius) RVFVS C(aii) IVLI(i) GEDOMONIS NEPOS, EPOTSOVIRIDI PRON(epos) [SACERDOS ROMAE ET AUG]USTI [AD A]RAM QU[A]E EST AD CONFLUENT[E]M, PRAEFECTUS [FAB]RUM, D(at).

(Dado por Caius Julius Rufus, filho de Caius Julius Otuaneunus, neto de Caius Julius Gedemonius, bisneto de Epotsovirid(i)us, sacerdote do Culto de Roma e Augusto no altar de Confluens, prefeito dos trabalhos)”.

Esta é uma inscrição muito interessante porque nela podemos ver uma expressão do processo de romanização da Gália iniciado com a conquista por Júlio César. O bisavô, Epotosvirid, é mencionado com seu nome unicamente gaulês, já o seu filho, provavelmente o primeiro integrante da família a receber a cidadania romana, e seus netos, assumem prenomes romanos e o “nomen” da gens Júlia, em homenagem ao conquistador da Gália, como era comum no Mundo Romano, ainda acompanhados de um gentílico gaulês. Já o bisneto, o doador do monumento, Gaius Julius Rufus é apresentado com os seus três nomes na forma tradicional romana (tri nomina) completamente romanizados. Era característico da colonização romana manter as lideranças locais que aderiam aos conquistadores na condição de magistrados governantes das cidades, por isso, a família de Rufus provavelmente já devia ser da nobreza gaulesa mesmo da Conquista da Gália por César, o que, implicitamente, é orgulhosamente afirmado pela menção ao bisavô. Observe-se que “Confluentem” refere-se à Lugdunum (Lyon), que fica na confluência dos rios Ródano e Saône.

6- Arco dos Sérgios, Pula, Croácia

Foto By Sailko – Own work, CC BY 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=68380995

Escolhemos este arco (que na verdade é um arco funerário), porque ele é um dos raríssimos arcos sobreviventes dedicados não a um imperador ou membro da família imperial, mas a integrantes de uma família da elite, no caso, da cidade de Pola (atual Pula, na Croácia), que foi elevada ao status de colônia entre 45 e 46 A.C., durante a ditadura de Júlio César. Com efeito, as inscrições existentes no arco contam que ele foi erguido às expensas de Sálvia Póstuma Sérgia, provavelmente esposa (ou mãe) de Lúcio Sérgio Lépido, filho de Lúcio, que foi Edil (magistrado da cidade) e Tribuno Militar da Legião XXIX, e que deve ter falecido na Batalha de Actium, em 31 A.C. Poucos anos depois, o imperador Augusto, em 27 A.C., dissolveu a XXIX Legião, dentro do seu projeto de manter apenas 28 legiões compondo o Exército Romano. Portanto, estudiosos estimam que o arco deve datar aproximadamente do ano da dissolução da referida legião. Além dos dois, o Arco dos Sérgios também ostenta inscrições em memória de Lúcio Sérgio e Cneu Sérgio, filhos de Caio Sérgio, sendo o primeiro o pai de Lúcio Sérgio Lépido, e o segundo, tio deste. As inscrições e as marcas existentes no topo do ático implicam que deveria haver estátuas dos quatro indivíduos mencionados dominando o monumento.

Devemos observar que é um fato muito raro a dedicação de um arco do triunfo a alguém que não fosse imperador ou seu familiar, entretanto, no início do reinado de Augusto, sabe-se que houve a construção de arcos dedicados a heróis militares caídos, sendo apontada a existência de um arco erigido em homenagem a Nero Cláudio Druso, morto em campanha contra os bárbaros em 9 A.C, na Germânia (em função da queda do cavalo). Druso era enteado de Augusto e irmão do seu futuro sucessor, Tibério. Neste mesmo ano, o Senado decretou a construção de um arco honorário em sua homenagem (o qual não chegou até os nossos dias). E, de fato, há elementos decorativos no Arco dos Sérgios que denotam que se trata de um monumento a um herói caído em uma batalha vitoriosa. Mais informações sobre este arco podem ser obtidas neste ótimo artigo na revista Histria Archeol., no link https://hrcak.srce.hr/file/390387.

As inscrições existentes no arco são:

Salvia Postuma Sergi (uxor) de sua pecunia

L(ucius) Sergius C(ai) f(ilius), aed(ilis), (duo)
vir (L).
L(ucius) Sergius L(uci) f(ilius) Lepidus, aed(ilis), tr(ibunus)
mil(itum) leg(ionis) XXIX (M).T

Cn(aeus) Sergius C(ai) f(ilius), aed(ilis),
(duo)vir quinq(uennalis) (N).

Salvia Postuma Sergi (uxor)

(Salvia Postuma Sérgia, esposa, com seu (próprio) dinheiro; Lúcio Sérgio, filho de Caio, edis, duúnviros; Lúcio Sérgio Lépido, filho de Lúcio, edis, tribuno militar da XXIX Legião; Cneu Sérgio, filho de Caio, edis, duúnviros quinquenais; Salvia Postuma Sérgia, esposa)

7- Arco de Septímio Severo, Leptis Magna, Líbia

Foto By Daviegunn – self-made by David Gunn, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2217905

Um exemplo de arco do tipo “tetrapylon“, isto é com quatro arcos, um em cada fachada da estrutura quadrada sobre duas passagens em ângulos retos, o Arco de Septímio Severo, com 16 m de altura, foi construído por este imperador (193-211 D.C) em Leptis Magna, sua cidade natal na Província da África, que foi especialmente agraciada por ele com a construção de diversas obras públicas grandiosas. Acredita-se que o arco deve ter sido inaugurado por ocasião da visita que o imperador fez à cidade, em 203 D.C. O monumento comemora a vitória obtida contra os Partas, o que se infere de alguns relevos retratando estes inimigos, mas também homenageia a própria família real. Somente em 1928 o Arco de Septímio Severo foi escavado, em ruínas e com parte de seus relevos dispersos pela cidade, sendo reconstituído com o auxílio dos arqueólogos. Praticamente toda a inscrição dedicatória deste arco se perdeu, remanescendo apenas as palavras “divo” (divino), certamente referente ao próprio imperador Severo, e “diva” (divina), provavelmente alusiva à imperatriz Júlia Domna, esposa dele.

8- Arco de Augusto, Susa, Itália

Foto By Duvilar (Lorenzo Rossetti) – photo taken by Duvilar (Lorenzo Rossetti), CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1138377

Trata-se de um arco do triunfo bem modesto, comparado com os outros de nossa relação, mas muito significativo, pelo motivo que explicaremos abaixo.

O Arco de Augusto foi erguido por Marcus Julius Cottius um líder de várias tribos ou povoados celto-lígures situados nos Alpes Cócios (assim batizados em razão do nome dele), na região do Piemonte, na atual província de Turim, no começo do reinado do imperador Augusto, no final do século I A.C, provavelmente por volta do ano 12 A.C. O Arco mede 11,93 m de altura por 7,3 m de largura.

A inscrição dedicatória do monumento relata:

IMP · CAESARI · AVGVSTO · DIVI · F · PONTIFICI · MAXVMO · TRIBVNIC · POTESTATE · XV · IMP · XIII · M · IVLIVS · REGIS · DONNI · F · COTTIVS · PRAEFECTVS · CEIVITATIVM · QVAE · SVBSCRIPTAE · SVNT · SEGOVIORVM · SEGVSINORVM · BELACORVM · CATVRIGVM · MEDVLLORVM · TEBAVIORVM · ADANATIVM · SAVINCATIVM · ECDINIORVM · VEAMINIORVM · VENISAMORVM · IEMERIORUM · VESVBIANIORVM · QVADIATIVM · ET · CEIVITATES · QVAE · SVB · EO · PRAEFECTO · FVERVNT

(“Ao Imperador Augusto, filho do Divino César, Pontífice Máximo, no exercício do Décimo Quinto Ano de seu Poder Tribunício, Treze Vezes Aclamado Imperador, (dedicado) por Marcus Julius Cottius, filho do rei Donnus, Governador das cidades dos Segovii, Segusini, Belaci, Caturiges, Medulli, Tebavii, Adanates, Savincates, Ecdinii, Veaminii, Venisamores, Iemerii, Vesubianii e Quadiates, e pelas cidades acima referidas, sob (a autoridade d)este Governador”)

Eu considero que esta inscrição é que torna o Arco de Augusto tão interessante, uma vez que ela demonstra como foi demorada e complexa a assimilação das tribos alpinas pelo Estado Romano. Sabemos quo rei Donnus,, pai de Marcus Julius Cottius, que dedicou este arco, fez um acordo com Júlio César, para permitir a passagem das tropas dele para a Gália. A inscrição contida no Arco de Augusto corrobora que Marcus Julius Cottius continuou sendo a autoridade na região, agora convertido em governador (Praefectus) romano. Inclusive, o filho dele, Gaius Julius Donnus II, e seu neto, Marcus Julius Cottius II foram seus sucessores (o cargo de governador romano não era hereditário), sendo que a região continuou a ser referida como “Reino dos Cócios” pelos historiadores romanos. E, para consagrar a surpreendente condição autônoma que esta região setentrional da atual Itália, tão próxima de Roma, conseguiu conservar, vale mencionar que, efetivamente, Marcus Julius Cotius II teve restaurado o título de rei, detido por seu mencionado bisavô, durante o reinado do imperador Cláudio.

9- Arco dos Gávios, Verona, Itália

Foto Andrea Bertozzi, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

É, junto com o Arco dos Sérgios, um raríssimo exemplar sobrevivente de um arco que comemora uma família privada. Os Gávios eram uma família proeminente de Verona, provavelmente conectados a gens Gavia, de Roma, que originalmente era de origem plebéia. Em algum momento durante a metade do século I D.C, algum membro da família dos Gávios comissionou a construção do Arco que leva o nome deles, em Verona, ou a Municipalidade o construiu em honra de quatro membros da família cujos nomes foram insculpidos no monumento, afinal, esta obra de fato obedece os 3 atributos que um edifício deveria possuir, segundo Vitrúvio: firmitas (força), utilitas (utilidade) e venustas (beleza)…

O Arco dos Gávios foi construído sobre a Via Postumia, estrada romana que ligava Gênova a Aquileia, passando por Verona, do lado de fora das muralhas da cidade, e mede 12,69 m de altura por 10,96 de largura.

O que torna tão interessante este arco é o fato de ser o único em que consta o nome do seu arquiteto: Lucius Vitruvius Cerdo, liberto de Lucius. Outro Vitrúvio, o célebre arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio escreveu o único tratado de arquitetura sobrevivente da Antiguidade (De architectura), entre 30 e 20 A.C., e é uma possibilidade instigante que Lucius Vitruvius Cerdo possa ter sido um liberto da família do grande arquiteto, que aprendeu com eles o ofício.

O Arco dos Gávios ostenta as seguintes inscrições sobreviventes:

CURATORES L[ARUM] V[ERONENSIUM IN HONOREM …] GAVI CA… DECURIONUM DECRETO.

(“Curadores dos L[ares] de V[erona] em honra…Gávios Ca… (Por) Decreto dos Decuriões”).

Nos pedestais dos nichos existentes no Arco, que originalmente continha estátuas dos homenageados, constam os nomes de quatro membros da família dos Gávios, sendo ainda legíveis os nomes de Caius Gavio Strabo e Marcus Gavio Macrone, filhos de Caius Gavio, e de Gavia, filha de Marcus Gavio.

A outra inscrição, já mencionada, menciona o arquiteto do monumento:

L(UCIUS) VITRUVIUS L(UCI) L(IBERTUS) CERDO ARCHITECTUS.

(“L(ucius) Vitruvius Cerdo, Liberto de Lucius, Arquiteto”)

10- Arco Triunfal de Orange, Orange, França

Foto: Carole Raddato from FRANKFURT, Germany, CC BY-SA 2.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0, via Wikimedia Commons

O Arco Triunfal de Orange foi construído provavelmente por ordem do imperador Augusto na cidade romana de Arausio (Colonia Julia Firma Secundanorum Arausio), fundada em 35 A.C para acomodar veteranos da Legião II Sabina, no lugar de um antigo povoado gaulês. Esta Legião teria sido recrutada por Pompeu, o Grande ou por Júlio César, e após o assassinato deste, lutou ao lado do Segundo Triunvirato, terminando por aderir à causa do herdeiro escolhido por César, seu sobrinho-neto Otaviano, o futuro imperador Augusto, que rebatizou-a como Legião II Augusta. Acredita-se que o Arco tenha sido erguido em meados do reinado de Augusto (27 A.C-14 D.C), e, posteriomente, sofrido uma remodelação no reinado de seu sucessor Tibério, em 27 D.C., provavelmente por ter sido danificado, embora não saibamos a causa. O Arco mede 19,22m de altura por 19,57 de largura, e por baixo dele passa a Via Agrippa, construída por Marco Vipsânio Agripa, braço-direito de Augusto, ligando várias cidades romanas da Gália, entre 39 A.C e 13 A.C (as estimativas variam).

Este monumento é caracterizado por elaborados relevos, retratando cenas de batalhas entre romanos e celtas e entre romanos e germanos, e troféus de armas e armaduras bárbaras, muito bem detalhados, obtidos pelos romanos nestes combates, além de elementos alusivos à batalhas navais. Os elementos relativos aos germânicos teriam sido acrescentados para homenagear as vitórias obtidas por Germânico, filho adotivo de Tibério, na Germânia, que morreu em 19 D.C., e os navais seriam originais da construção do monumento e fariam referência à Batalha de Actium, da qual teriam participado os veteranos da Legião II Augusta.

Somente a inscrição dedicatória do reparo ou reconstrução feitos por Tibério sobreviveu, e a mesma diz:

TI • CAESAR • DIVI • AVGVSTI • F • DIVI • IVLI • NEPOTI • AVGVSTO • PONTIFICI • MAXIPOTESTATE • XXVIII • IMPERATORI • IIX • COS • IIII • RESTITVIT • R • P • COLONIAE (or RESTITVTORI • COLONIAE) 

(A Tibério César, filho do Divino Augusto, neto do Divino Júlio, Augusto, Pontífice Máximo, exercendo o Poder Tribunício pela vigésima oitava vez, aclamado Imperador pela oitava vez, em seu quarto consulado, que o restaurou ao patrimônio da Colônia”)

Finalmente, devemos mencionar que o leiaute deste arco possivelmente inspirou o do Arco de Septímio Severo.