A BATALHA DE CTESIFONTE

Em 29 de maio de 363 D.C, o Exército Romano, comandado em pessoa pelo imperador Juliano I, que mais tarde seria cognominado “O Apóstata“, derrotou, às portas da capital do Império Sassânida, Ctesifonte, parte do exército persa.

Acredita-se que esta cabeça de estátua possa ser do imperador Juliano. Foto: George E. Koronaios, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

Os romanos mataram cerca de 2.500 soldados persas e somente perderam 70 homens.

Seria o coroamento da campanha iniciada em 05 de março daquele mesmo ano pelo imperador romano, que avançou invicto pela Mesopotâmia até as portas da capital persa.

Porém, como várias vezes ocorreu na longuíssima história dos confrontos entre Roma e Pérsia, os segundos, sabedores da superioridade romana em combate aberto, preferiram a tática de fazer emboscadas e limitar a luta a escaramuças, sempre que percebiam que a batalha estava indo contra eles (confira, a esse respeito, nossos artigos sobre a Batalha de Carras e sobre a campanha do imperador Trajano contra o Império Parta).

Os Persas sabiam que o tempo estava do lado deles, pois a campanha nos desertos da Mesopotâmia, quando se afastava do curso dos rios Tigre e Eufrates, impunha grande esforço logístico aos romanos, que marchavam sempre ameaçados pela sede.

Para piorar, Juliano não se preocupou em trazer consigo material em quantidade suficiente para a construção de muitas máquinas de assédio (ele inclusive mandou precipitadamente queimar a frota que acompanhava o avanço romano pelo rio Tigre). Assim, apesar da vitória tática no campo de batalha, ele fracassou em tomar Ctesifonte.

Àssim, o Shainshah (Rei dos Reis) Sapor II (Shapur) que tivera a cautela de colocar a maior parte do seu exército à distância, quando viu os Romanos serem obrigados a suspender o Cerco e marchar de volta pelo deserto, aproveitou a oportunidade para voltar a atacar os romanos durante o trajeto.

Em 26 de junho de 363 D.C, quando avisado que a retaguarda do Exército Romano estava sendo atacada pelos Persas, próximo à Samarra, Juliano deixou a vanguarda das tropas, com tanta pressa que não teve tempo de vestir a sua couraça, correndo para repelir o ataque.

Porém, durante os combates, uma lança foi atirada e atingiu seu dorso. Juliano foi levado ferido para sua tenda, agonizando, e morreu antes da meia-noite. Os comandantes romanos em conselho de guerra resolveram eleger o relativamente jovem general Joviano (32 anos) como sucessor.

Detalhe de relevo Sassânida em Naq i Rostan, mostrando o imperador Juliano morto (foto: Philippe Chavin, CC BY-SA 3.0)

Joviano tentou retirar o restante do Exército Romano dos domínios do Império Sassânida, porém, na cidade de Dura, os Persas conseguiram impedir que os Romanos cruzassem o rio Tigre e retornassem para o seu território.

Assim, Joviano foi obrigado a assinar um Tratado de Paz humilhante, abrindo mão de várias províncias e das estratégicas cidades de Nísibis e Síngara, além da predominância sobre a Armênia.

Como se sabe, Juliano foi o último imperador da dinastia inaugurada por Constâncio Cloro e seu filho Constantino, o Grande (ele era filho de Julius Constantius, meio-irmão deste imperador) que tornou o Cristianismo uma religião legal, refundando a cidade de Bizâncio como Constantinopla, fazendo dela uma capital essencialmente cristã e favorecendo muito a Igreja, que a partir de então começou a predominar no Estado Romano.

Solidus do imperador Juliano, foto: Classical Numismatic Group, Inc. http://www.cngcoins.com, CC BY-SA 2.5 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5, via Wikimedia Commons

Porém, Juliano (que foi elevado ao trono em novembro de 361 D.C) resolveu reverter todas as medidas pró Cristianismo de seus antecessores, voltando a prestigiar as religiões pagãs, reinstaladas como cultos oficiais do Império, motivo pelo qual foi cognominado de “O Apóstata”, pelos historiadores cristãos.

Portanto, podemos considerar que o resultado não conclusivo da Batalha de Ctesifonte e a resultante morte precoce de Juliano foi também um evento decisivo na História de Roma.