Os 10+ Filmes sobre Roma

Desde os primórdios da arte cinematográfica, isto é, a partir da invenção do cinema pelos irmãos Lumiére, em 1895, histórias tendo como pano de fundo Roma e o Império Romano têm sido temas de roteiros de filmes.

Com efeito, já em 1899, o grande pioneiro francês da Sétima Arte, George Mélies, filmou “Cleópatra“; em 1907, os norte-americanos produziram a primeira versão de “Ben-Hur“; e, em 1910, os italianos lançaram o filme “Agripinna“, sobre a vida atribulada da célebre mãe do imperador Nero. Quatro anos depois, em 1914, o filme “Gaius Julius Caesar“, baseado na obra de Shakespeare foi produzido também na Itália.

Mas, indubitavelmente, os anos 50 e 60 foram o auge do tema “Roma”na telona, tendo a indústria cinematográfica vivido uma verdadeira “Romamania” (inserindo-se em uma moda, assim apelidada pela crítica especializada de sword-and-sandals, ou, em português, “espada e sandálias”) lançando películas que iam de grandes superproduções hollywoodianas, como “Ben-Hur” (versão de 1959), “Quo Vadis“, “Manto Sagrado“, “Spartacus” e “Cleópatra” (1963), e até mesmo uma febre de filmes sobre gladiadores, notadamente de produção italiana, abrindo um filão que foi aproveitado por atores musculosos e inclusive fisiculturistas que viraram atores (além de filmes sobre personagens mitológicos).

Não obstante, pesquisando os registros disponíveis na internet sobre filmes abordando a temática sobre Roma, podemos constatar que eles se dividem nos seguintes grandes grupos (devendo ser notado que frequentemente vários desses temas apareçam entrelaçados nos respectivos enredos):

1- Filmes sobre a vida de uma grande figura histórica romana ou ligada à História de Roma, sobressaindo, em indisputado primeiro lugar, Cleópatra, a rainha do Egito, seguida por Júlio César e por Espártaco (vale notar que filmes sobre este último também se incluem no tema “gladiadores”). Vindo bem mais atrás, aparecem Cipião, o Africano, Messalina, Agripina, a Jovem, e alguns poucos imperadores, como Calígula e Nero. Observe-se que alguns grandes inimigos de Roma também foram temas de filmes, como Aníbal e Átila, o Huno;

2- Filmes com temática central focada nos primórdios do Cristianismo, envolvendo passagens da vida de Jesus Cristo, dos Apóstolos ou de personagens fictícios, mas vivendo em ambiência romana, como “Ben Hur“, “Quo Vadis“, “O Manto Sagrado“, “Barrabás” (estes dois últimos também abarcam o tema “gladiadores”) e o “Cálice Sagrado“;

3- Filmes sobre a erupção do Vesúvio e a destruição de Pompéia, existindo vários exemplos, como “Os Últimos Dias de Pompéia“, que por si só já teve quatro refilmagens;

4- Filmes sobre gladiadores, sendo o exemplo mais famoso, o “Gladiador” (2000), de Riddley Scott, valendo citar “Demetrius e os Gladiadores“, de 1954, um precursor em Hollywood neste tema (o filme é uma continuação de “O Manto Sagrado“) e cuja temática também aborda o Cristianismo;

5- Filmes sobre a decadência e queda do Império Romano, cujo exemplo mais significativo é “A Queda do Império Romano” (1964), mas esta temática também abrange filmes mais recentes como “A Última Legião” (2007) e “Rei Arthur” (2004), com Clive Owen. Também podemos incluir o excelente “Alexandria” (2009), estrelando Rachel Weisz, nesta subcategoria.

Há também alguns filmes sobre batalhas importantes travadas pelos romanos (embora elas não estejam entre os temais mais recorrentes na telona), como por exemplo, sobre a Batalha da Floresta Teutoburgo, e o cerco à Masada. Aliás, um tema que vem tendo crescente interesse pela indústria cinematográfica, são os conflitos de romanos contra bárbaros, valendo como exemplo os dois filmes recentemente produzidos sobre o suposto desaparecimento da IX Legião na Britânia: ”Centurião” (2010) e ”A Legião Perdida” (2011) e a minissérie “Bárbaros“, da Netflix (embora a rigor, esta não seja uma produção cinematográfica, hoje em dia tal distinção está cada vez mais fluida).

Praticamente todos esses filmes (eu não me lembro de nenhum que não o tenha feito) repetem algumas idiossincrasias que são praticamente convenções na filmografia envolvendo Roma, embora sejam historicamente incorretas:

a) Soldados romanos envergando armaduras de placas articuladas (lorica segmentata) e escudos retangulares seja qual for a época: As primeiras começaram a ser usadas por volta de 9 D.C, e praticamente abandonadas por volta 250 D.C; já os segundos começaram a ser usados também por volta do início do reinado de Augusto e abandonados por volta de 250/300 D.C, no entanto, quase sempre se vê nos filmes os soldados romanos usando esses modelos em períodos anteriores ou posteriores aos mencionados (diga-se de passagem, os elmos quase sempre também são historicamente imprecisos).

b) Romanos usando uma espécie de munhequeira de couro ou de metal nos pulsos ou punhos: Não há sequer uma imagem ou estátua sobrevivente da Roma Antiga que mostre que os romanos envergassem tal ornamento nos pulsos, seja qual for o período (Alguns acham que o motivo disso seria esconder marcas deixadas pelo uso de relógio de pulso pelos atores, mas o mais provável é que seja apenas pura repetição de filmes anteriores)

c) Romanos em suas casas comendo sentados em cadeiras em torno de uma mesa: Os Romanos comiam reclinados ou mesmo deitados em triclínios, como era de costume, ao menos na elite e classes médias.

d) Gladiadores profissionais lutando até a morte sem a presença de um árbitro: Gladiadores profissionais podiam ocasionalmente morrer repentinamente em função de um golpe recebido, seja na arena ou posteriormente, mas, quando isso não ocorria, cabia ao patrocinador, ou à autoridade mais elevada presente, decidir se o perdedor seria morto (às vezes eles deixavam que o público decidisse) – algo que, no caso de lutadores profissionais não era comum. Essas lutas mais qualificadas não devem ser confundidas com aquelas travadas por condenados à morte obrigados a lutarem entre si. Na verdade, sabemos que os combates travados entre profissionais sempre tinham um árbitro que intervinha em determinadas situações, como um juiz de luta moderno.

e) Soldados romanos cavalgando cavalos com estribos: Os estribos só foram introduzidos na Europa e no Mediterrâneo entre os séculos VI e VII D.C, e somente no período do Império Romano do Oriente, chamado de Império Bizantino, quando o Império do Ocidente já havia caído. Os romanos antes disso utilizavam um tipo de sela com quatro protuberâncias, que ajudavam a dar um apoio melhor ao cavaleiro.

f) Templos e estátuas romanas de mármore imaculadamente brancos, sem qualquer pintura ornamental: As Estátuas e os detalhes arquitetônicos dos templos greco-romanos, como frisos, relevos, capitéis das colunas, entre outros, eram pintados, frequentemente, em cores vivas.

Assim, sem mais delongas, vamos aos dez filmes sobre Roma que eu considero (é uma avaliação pessoal e discricionária minha, mas claro que apreciaríamos sugestões nos comentários) os mais interessantes (atenção! contém “spoilers“):

1 – BEN-HUR (1959)

Baseado no livro de ficção “Ben-Hur, a Tale of Christ“, escrito por Lew Wallace, que já havia sido filmado em 1907 e 1925, e, no total, pelo que pude apurar na internet, teve cinco versões produzidas no total. A versão do filme dirigido por William Wyler, um dos maiores cineastas de todos os tempos (diretor de clássicos como “A Princesa e o Plebeu”, “Da Terra Nascem os Homens”, “Jezebel”, o “Morro dos Ventos Uivantes”, entre outros), foi durante muito tempo, com onze estatuetas, o longa-metragem recordista isolado em premiações do Oscar, que até hoje não foi superado (“Titanic” e o “Senhor dos Anéis, o Retorno do Rei”, posteriormente, o igualaram). Trata-se de um história em sua maior parte ambientada na Jerusalém da época do ministério público e martírio de Jesus Cristo, no início do século I D.C, durante o período romano e centrada no antagonismo entre o nobre judeu Judá Ben-Hur e o comandante da guarnição romana, Messala, que foram amigos durante a infância e adolescência de ambos, passada na aristocrática residência da família de Ben-Hur. O roteiro e a bela atuação de Charlton Heston no papel principal conseguem expressar bem a tensão existente entre uma elite judaica – já um tanto romanizada (ou, mais propriamente, helenizada) e relativamente submissa ao domínio romano, da qual faziam parte o protagonista do filme e sua família – e os anseios pela independência da Judéia, inspirados pelo patriotismo e sentimento nativista judaico, dois pólos entre os quais eles parecem oscilar. Um atentado ao novo governador da Judéia, ao qual Ben-Hur é injustamente vinculado, fazem com que ele e sua família caiam em desgraça e, em virtude disto, várias vicissitudes o fazem entrar em contato com Jesus Cristo e seus ensinamentos, afetando decisivamente a vida dele. Uma passagem não muito citada nas críticas, mas que me agrada muito, é a relação afetuosa criada entre Ben-Hur e o Comandante da Frota Romana, Cônsul Quintus Arrius, que Ben-Hur salva do naufrágio da galera onde ele havia sido condenado a servir como remador, terminando por ser adotado como filho pelo Romano, assumindo o seu nome e posição social, enquanto vivia na própria Roma. Embora haja algumas impropriedades um tanto irrelevantes no que se refere a uniformes militares, vestuário e estilos arquitetônicos, “Ben-Hur” é uma superprodução primorosa, e a trilha sonora (Miklos Rozsa), na minha opinião, é simplesmente fantástica. A cena mais eletrizante do filme é uma sensacional corrida de quadrigas, no que seria o Hipódromo de Jerusalém .

Trailer oficial de Ben-Hur

2- GLADIADOR (2000)

Dirigido pelo consagrado cineasta inglês Ridley Scott (“Alien, o 8º Passageiro”, “Blade Runner”, “Cruzada”, “Thelma & Louise”, “Napoleão”, etc), Gladiador pode ser considerado o filme que, após algumas décadas de ostracismo, ressuscitou a onda de filmes épicos com temática da Antiga Roma. Fizemos uma análise detalhada desta produção, sob o aspecto da historicidade, em nosso artigo MAXIMUS DECIMUS MERIDIUS-GLADIADOR-O QUE É FATO E O QUE É FICÇÃO?, onde apontamos algumas inconsistências e inverossimilhanças. Mesmo assim, Gladiador é seguramente um dos melhores filmes sobre Roma. O prezado leitor, caso os tenha assistido, perceberá que Ridley Scott sem sombra de dúvidas procurou inspiração em “A Queda do Império Romano“, “Spartacus” e “Ben-Hur” e, de certa forma, o filme pode ser considerado uma mistura bem-sucedida dos três filmes citados: A trama centrada no homem que cai em desgraça, tem sua família destruída e volta para se vingar no Circo ou na Arena é nitidamente inspirada em “Ben-Hur“; Já o contexto envolvendo o fim do reinado do imperador romano Marco Aurélio (Richard Harris), sua suposta preferência em entregar o poder a um general de caráter reto e confiável (Maximus, interpretado por Russell Crowe), com a finalidade de restaurar um governo republicano, em vez de ser sucedido pelo filho Cômodo (Joaquin Phoenix), que o assassina (passagem sem suporte histórico) e se torna o novo imperador, instaurando um governo inepto e corrupto, bem como o envolvimento amoroso de Lucilla (Connie Nielsen), irmã de Cômodo, com Maximus e o combate de gladiadores entre o imperador e o general foram extraídos diretamente de “A Queda do Império Romano“; E a trajetória da transformação e treinamento do general Maximus para virar gladiador ecoa claramente esta mesma parte do filme “Spartacus“. A reconstituição do Coliseu é de tirar o fôlego. O filme teve uma sequência lançada em 2024, “Gladiador 2”, que a crítica considerou bem inferior, mesma avaliação que eu tive ao assisti-lo.

Gladiador, Trailer oficial

3-A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO (1964)

O enredo do filme, de 1964, foi, conforme declarou seu próprio diretor, Anthony Mann (“El Cid”, “O Homem do Oeste”, “Winchester ’73”, etc.), inspirado no clássico livro “A História do Declínio e Queda do Império Romano“, de Edward Gibbon, escrito no século XVIII e até hoje uma das obras mais influentes sobre o tema, fruto de uma copiosa leitura sobre praticamente todas as fontes antigas existentes sobre o Império Romano, e cuja tese central é que este caiu pela corrupção interna agravada pela ação conjunta dos bárbaros e do Cristianismo. Assim como no livro, a trama se inicia no final do reinado do imperador Marco Aurélio, quando, nas palavras do historiador romano Cássio Dião: o Império regrediu “de uma época de ouro para uma de ferro e ferrugem“. No filme, assistimos o velho imperador-filósofo (interpretado por Alec Guiness), após externar o seu desejo de entregar o trono a um fiel auxiliar, o honesto general Lívio, que também era amante de sua filha, Lucilla, esperando que este implante um bom governo em prol de todos os habitantes do Império, em detrimento de seu próprio filho Cômodo (Christopher Plummer), que, transtornado, assassina o pai. Como já dissemos, as cenas iniciais do filme, retratando a sombria fronteira do Danúbio, bem como a trama central, certamente inspiraram o “Gladiador“, de Ridley Scott, mais de 45 anos depois. O ponto alto do filme, além do bom desempenho dos atores, incluindo Sophia Loren, no auge da beleza, no papel de Lucilla, é a excelente reconstituição cênica de ambientes externos e internos, destacando-se o que talvez seja a mais exata reprodução do Fórum Romano já feita nas telas (veja vídeo abaixo). Um personagem importante do filme é o liberto de origem grega Timonides (James Mason), filósofo estoico e homem de confiança de Marco Aurélio, que, junto com Lívio e Lucilla, tentam, inutilmente, convencer Cômodo a acomodar e integrar os bárbaros derrotados na campanha como cidadãos do Império Romano.

4- QUO VADIS (1951)

Baseada no livro homônimo do escritor polônes Henryk Sienkiewicz, que já havia sido filmado três vezes anteriormente à versão que estamos comentando, sendo a primeira no remoto ano de 1901, ainda na infância da Sétima Arte, a versão dirigida por Mervyn LeRoy talvez seja o maior e melhor exemplo dos filmes de temática cristã em que o cerne é o antagonismo entre a nascente religião e o Império Romano, que tenta, inutilmente, sufocá-la. No enredo, vemos o laureado general Marcus Vinicius (Robert Taylor), retornando de campanha na Britânia, apaixonar-se por Lígia (Deborah Kerr), moça nativa da região da Lygia, na Europa Central, que foi enviada à Roma como refém do Império e acolhida como filha de criação por Aulus Plautius, ex-governador da província e também general aposentado. Lígia e seu pai de criação converteram-se ao Cristianismo e ela, inicialmente, embora sinta-se atraída por ele, reluta em aceitar as investidas de Marcus, que apela a seu tio, o famoso novelista Petronius, amigo do imperador Nero, para que este intervenha junto ao imperador e ordene que a refém lhe seja entregue como esposa. Lívia acaba se apaixonando por Marcus, mas tenta convertê-lo à fé cristã, com o auxílio do apóstolo Paulo, que frequentava a casa de Aulus, mas o romano resiste. Durante o romance, acontece o terrível Grande Incêndio de Roma (64 D.C.). Nero coloca a culpa nos cristãos e ordena que sejam presos para serem executados, o que acarreta a prisão de Lígia e de seu pai de criação, que também havia se convertido. Marcus tenta salvá-los, mas também é preso. Todos deverão ser executados no Circo. Na prisão, Lígia e Marcus, que começa a aceitar a fé da amada, casam-se, em uma cerimônia celebrada pelo apóstolo Pedro, preso com eles na mesma cela, e que havia retornado à Roma, de onde havia fugido da Perseguição movida por Nero, após ouvir a voz de Jesus Cristo, quando ele já estava na Via Ápia, perguntar: “Aonde vais” (Quo Vadis?), um episódio narrado nos Atos dos Apóstolos. A imperatriz Popéia, enciumada por ter tido suas investidas sexuais rejeitadas por Marcus em razão de seu amor por Lígia, arquiteta uma maneira de executá-los com requintes de crueldade no Circo, mas a Plebe se toma de simpatia por eles, os antigos soldados subordinados de Marcus aderem, e daí a trama se entrelaça com os eventos que culminaram no suicídio de Nero e sua sucessão por Galba, que se encontrava a caminho de Roma.

Sem dúvida, a atuação brilhante de Peter Ustinov como o imperador Nero contribuiu decisivamente para tornar “Quo Vadis” um dos melhores filmes sobre o Império Romano. Ele conseguiu incorporar e transmitir vários traços da personalidade de Nero que brotam das fontes antigas: mimado, vaidoso, dramático, licensioso, inseguro, etc. Outro ponto marcante é a cena inicial do filme, onde Nero, cercado de seus cortesãos, ensaia uma ode sobre a Queda de Tróia, que na verdade se aplicaria à destruição da própria Roma: embora a letra da canção seja fictícia, a melodia que a acompanha é da única música autêntica do período romano que chegou até os nossos dias – Trata-se do “Epitáfio de Seikilos“, que foi descoberto em um mausoléu aproximadamente do século I D.C, na Turquia, onde foram gravados os versos, acompanhados da notação musical que permitiu a reconstrução da música. O belíssimo texto em grego, que, aliás constitui uma perfeita expressão da filosofia epicurista, diz:

Enquanto viveres, brilha.

De tudo não te aflijas,

Pois curta é a vida

E o tempo cobra seu tributo

Acima, inserimos um link com o vídeo da execução da canção original. E abaixo, segue o vídeo com a cena do filme:

5- SPARTACUS (1960)

Dirigido pelo magistral Stanley Kubrick (“2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “Laranja Mecânica”, “O Iluminado”, etc.), o filme conta a história de um escravo trácio que é treinado como gladiador e lidera uma revolta de escravos que põe em cheque a própria República Romana, constituindo um dos enredos sobre Roma preferidos pelos cineasta (tendo sido filmado duas vezes anteriormente e, no mínimo quatro vezes no total), dando também origem a uma série televisiva já na terceira temporada. Embora, por conveniência, tenhamos incluído o filme dentro do grupo “Gladiadores”, na verdade é um filme que ultrapassa essa temática, adentrando com relativa profundidade (para os padrões da indústria cinematográfica norte-americana) o campo da crítica social. Centrado na história real de Espártaco, o roteiro é consideravelmente baseado nas fontes originais romanas, notadamente Apiano e Plutarco, não obstante, com inclusões de alguns personagens fictícios, como o político Gracchus, a escrava Varínia e o escravo Antoninus. Assim, o filme começa com Espártaco (Kirk Douglas), um escravo trácio capturado em batalha e enviado para trabalhar nas minas, que é condenado à morte por insubmissão e chama a atenção do lanista (empresário dono de uma escola e de uma trupe de gladiadores) Lentulus Batiatus (personagem real mais uma vez brilhantemente interpretado por Peter Ustinov), que o compra e o leva para ser treinado em sua escola de gladiadores, em Cápua, de onde ele acaba fugindo, junto com seus companheiros e sua namorada, a escrava Varínia (Jean Simmons), liderando uma revolta à qual se juntam milhares de escravos da região, no decorrer da qual derrotam várias expedições militares romanas enviadas contra eles, até que o Estado resolve recorrer ao cruel e ambicioso general Marco Licínio Crasso (Sir Lawrence Olivier), que deseja o comando para subverter a democracia e assumir poderes ilimitados, fato que gera grande preocupação em seu inimigo político, Gracchus, um político defensor das liberdades públicas e dos direitos dos plebeus no Senado Romano e que simpatiza com as demandas dos revoltosos. Entre os senadores moderados que os dois rivais políticos tentam atrair para o seu lado está o jovem senador Caio Júlio César (John Gavin), também partidário da plebe, mas que teme o enfraquecimento ao poder romano decorrente da Revolta. Como se sabe, Espártaco e seus companheiros no final são derrotados militarmente, mas não sem antes fazerem um comovente libelo pela Liberdade e Justiça Social. Esta mensagem candente do roteiro escrito por Dalton Trumbo, roteirista perseguido no auge do Macarthismo nos EUA, levou a protestos da extrema-direita e de grupos anticomunistas contra a exibição do filme (Vale observar que a figura de Espártaco inspirou as Olimpíadas do bloco socialista, as chamadas “Espartaquíadas”). Outra polêmica foi causada pelas cenas que apontam a atração homossexual de Crasso pelo escravo Antoninus (Tony Curtis), sugestão também presente, de modo mais sutil, em uma cena entre Crasso e Júlio César nas termas. As cenas de batalha, com milhares de figurantes, são também muito boas (vide vídeo abaixo).

6- JÚLIO CÉSAR (1953)

Nenhuma relação de filmes sobre Roma pode estar completa sem uma película sobre o romano mais famoso que já existiu, e ninguém expressou com mais brilho os eventos dramáticos que culminaram no assassinato do Ditador Caio Júlio César do que o inglês William Shakespeare. Assim é que dos nove filmes que pesquisamos com o título “Júlio César”, pelo menos quatro são baseadas na peça homônima escrita pelo Bardo. E de todos eles, a versão de 1953 é considerada pelos críticos como a melhor. Dirigida pelo medalhão de Hollywood, Joseph L. Mankiewicz, diretor, produtor e roteirista de grandes filmes ( “A Malvada”, “A Condessa Descalça”, “Cleópatra”, etc), traz Marlon Brando, em grande atuação, como Marco Antônio, James Mason como Brutus e Sir John Gielgud como Cássio, e é, basicamente, uma encenação cinematográfica da célebre peça. Brando brilha no famoso discurso de Marco Antônio no funeral de César (vide abaixo).

7- CLEÓPATRA (1963)

A rainha egípcia figura em primeiro lugar entre os personagens da História de Roma levados às telas, com pelo menos 20 películas produzidas, inclusive um filme produzido no Brasil, em que Cleópatra foi interpretada por Alessandra Negrini. A superprodução de 1963, dirigida por Joseph L. Mankiewicz, custou tanto dinheiro que quase quebrou o estúdio Twentieth Century Fox, embora tenha sido um sucesso de público e sido indicada para nove Oscars, sendo vencedora de quatro estatuetas. O roteiro, baseado nos textos de Plutarco e Suetônio, inicia-se com a vitória de Júlio César (Rex Harrison) na Batalha de Farsália, após a qual, ele persegue seu rival Pompeu, o Grande até Alexandria, capital do Egito Ptolemaico. Ao desembarcar na cidade, César toma conhecimento que Pompeu havia sido morto pelos egípcios, e se vê obrigado a intervir na luta pelo trono travada entre o ainda menino Ptolomeu XIII e sua irmã Cleópatra (Elizabeth Taylor, deslumbrante), de quem César toma partido, após eles passarem a noite juntos. Boa parte do filme é centrada na relação amorosa entre Cleópatra e Marco Antônio (Richard Burton), até o trágico fim do casal. Na época, Elizabeth Taylor era a estrela máxima da Fox (ela recebeu pelo papel o maior cachê até então pago para uma atriz) e de certa forma ela se comportava no set quase como se fosse uma Cleópatra renascida (aliás, hoje, a escolha da superstar de pele alva como a neve e olhos azuis-violetas para interpretar Cleópatra certamente geraria polêmica nas redes sociais…), fazendo exigências e intervindo na produção do filme, e também tornou-se lendária a química entre ela e Richard Burton , e, de fato, os dois, apesar de ambos serem casados, iniciaram um tórrido romance durante as filmagens, fato que rendeu bastante publicidade. Mas seria Rex Harrison quem ganharia um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel de Júlio César. Há grandes cenas no filme, como a entrada triunfal de Cleópatra em Roma, como hóspede de César, a barcaça real de Cleópatra, a Batalha de Actium e a cena final, retratando a morte da Rainha.

8- CALÍGULA (1979)

Admitimos que muitos não concordarão com a inclusão desta versão de “Calígula” na nossa lista. De fato, este filme tem uma história conturbada. Ele foi produzido por Bob Guccione, dono e editor da revista masculina “Penthouse” e, inicialmente, parecia que a intenção era realmente produzir um filme épico com atores e roteiristas consagrados. Por exemplo, o roteiro original do filme foi escrito pelo consagrado escritor Gore Vidal, autor de romances bem densos sobre personagens e acontecimentos do Mundo Antigo e da História Americana (“Juliano”, “Criação”, “Império”, “Lincoln”, etc), mas começou sendo dirigido pelo diretor italiano Tinto Brass, que já tinha em sua filmografia filmes com conteúdo erótico. Vários atores consagrados aceitaram o convite e atuaram no filme, tais como Peter O’ Toole (Tibério), Malcolm Mcdowell (Calígula), Helen Mirren (Cesônia) e Sir John Gielgud (Nerva). A grande maioria das cenas desenvolve-se em aposentos fechados, com poucas externas, e, por isso, também não há muitos figurantes (exceto nas cenas de orgias…), mas a cenografia e os figurinos em geral são de ótima qualidade. O enredo segue fielmente o relato da Vida de Calígula escrito pelo historiador romano Suetônio. Então, a nosso ver, os que leram o texto de Suetônio não deveriam se indignar tanto com a quantidade de pornografia presente no filme. O ambiente de medo e apreensão no qual Calígula viveu ainda na adolescência, as atrocidades e a depravação que ele assistiu enquanto morou com seu tio Tibério, em Capri, as circunstâncias que resultaram na sua elevação ao trono, seu envolvimento amoroso com a própria irmã, Drusila, o seu comportamento paranóico e sua progressiva perda de contato com a realidade, resultando em seu reinado tirânico, vida devassa e assassinato, e, finalmente, os episódios de depravação e devassidão, tudo foi descrito com detalhes no livro de Suetônio, e reproduzido no filme. Todavia, o grande problema da obra foi o fato de Bob Guccione, após as filmagens terem sido concluídas, e já em trabalho de pós-produção, ter filmado e incluído várias cenas de sexo explícito encenadas com a participação de algumas “Pets” da Penthouse (como eram chamadas as modelos que posavam nuas na revista), o que, de fato, constituiu, a nosso ver, um motivo justo para os profissionais da indústria cinematográfica “mainstream” terem se sentido enganados. Devido a isso, o filme foi rejeitado por alguns participantes: Gore Vidal já havia abandonado o time durante a produção por discordâncias com Tinto Brass e este proibiu também que seu nome figurasse como diretor, e, finalmente, de modo geral, os atores mostraram contrariados. Helen Mirren, ferina, descreveu o filme como “Uma mistura irresistível de arte e genitais“. O filme também foi alvo de processos em vários países devido ao conteúdo considerado impróprio. Não obstante todas essas polêmicas, eu considero a atuação de Mcdowell no papel principal muito boa (embora muitos possam achar que ele de certa forma reproduz sua interpretação do psicopata personagem central de “Laranja Mecânica”, mesmo assim, esta cai bem em um personagem como Calígula). Para mim, o filme tem uma atmosfera sombria e surrealista que também se amolda bem ao relato de Suetônio.

9-ALEXANDRIA (2004)

Escolhemos “Alexandria“, produção espanhola falada em inglês cujo nome original é “Ágora” porque é um dos poucos filmes que retrata com fidelidade o período do Império Romano Tardio e a ascensão do Cristianismo como religião oficial do Império Romano, em detrimento da civilização clássica greco-romana e do Paganismo, nas décadas que antecederam a Queda do Império do Ocidente. O filme, dirigido por Alejando Amenábar (“Mar Adentro”, “Os Outros”) é centrado na estória da personagem histórica Hipátia de Alexandria, uma filósofa neoplatônica e professora de Filosofia, Matemática e Astronomia na Escola Neoplatônica de Alexandria, que funcionava no Mouseion (Museu), considerado por alguns como uma instituição possivelmente sucessora da famigerada Biblioteca de Alexandria. Hipátia era filha do filósofo Téon, de quem ela herdou a inteligência e o amor pela ciência e cultura clássica greco-romana - que cada vez mais se viam cercadas e atacadas pelo fanatismo das lideranças cristãs – e ela trava uma luta inglória para tentar obter apoio das autoridades seculares romanas e impedir que a Escola seja engolfada pelas disputas entre cristãos e judeus, que assolam a cidade, no final do século IV D.C. Enquanto isso, seus alunos Orestes (Oscar Isaac), que se torna o Prefeito de Alexandria, e Davus (Max Minghella), escravo de Téon, debatem-se entre o amor que eles sentem pela Filósofa e as tensões provenientes da religião a qual se converteram. Hipátia é interpretada, com muita sensibilidade, pela ótima atriz inglesa de beleza suave, Rachel Weisz, e a reconstituição da antiga Alexandria é muito bem feita.

10- RESSURREIÇÃO (2016)

Produção mais recente da nossa lista, é mais um filme passado durante o período do Império Romano que aborda temas cristãos, notadamente a prisão, execução e alegada ressurreição de Jesus Cristo. Mas o interessante neste filme é que esses eventos são vistos pela ótica de um tribuno militar romano, Clavius (Joseph Fiennes), que é encarregado pelo governador romano Pôncio Pilatos (Peter Firth) de investigar o misterioso desaparecimento do corpo de Jesus da tumba onde foi sepultado, em Jerusalém. Clavius fora o encarregado de supervisionar a crucificação de Jesus e guardar o sepulcro, e, portanto, também está diretamente interessado em descobrir e punir os culpados. Entretanto, ao proceder a investigação, entrar em contato com os apóstolos e encontrar o próprio Jesus ressuscitado, Clavius acaba sendo profundamente mudado pelos acontecimentos. Reconhecemos que, de todos os filmes relacionados, este seja o que é menos representativo como obra cinematográfica, mas achamos muito original o enredo que faz torna parte do filme similar a um filme policial ou de detetive. Como curiosidade, observamos que nunca existiu, em Roma ou no Império Romano, uma instituição policial encarregada de investigar crimes comuns. Mas havia, no Exército Romano, tropas chamadas de “speculatores” que funcionavam como batedores e faziam trabalho de reconhecimento, e, ocasionalmente espionavam o território inimigo. Mais tarde, ainda durante o Império, foi criado um corpo de “Frumentarii“, que tinham o seu próprio quartel, em Roma (Castra Peregrina) e eram encarregados de tarefas de inteligência contra opositores internos, funcionando como uma polícia secreta ou polícia política, principalmente investigando indivíduos ou grupos internos considerados perigosos pelo regime imperial. Portanto, uma missão como a dada a Clavius no filme certamente seria executada pelos Frumentarii.

“ROMA” (SÉRIE – 2005/2007) – BÔNUS

Embora, a rigor, não seja uma produção cinematográfica, mas sim uma série televisiva, eu considero impossível para o leitor interessado no tema não mencionar a série da HBO, que, infelizmente, só conseguiu ser produzida para duas temporadas, devido aos custos astronômicos.

E esses custos decorrem, em sua maior parte, da primorosa produção, que, por exemplo, investiu milhões de dólares na construção de cenários grandiosos e muito historicamente acurados nos célebres estúdios Cinecittá, na própria Roma.

Entre os principais motivos que tornam “Roma” uma série imperdível é o fato de ser a única, na minha opinião, que conseguiu chegar mais perto de como seria a Antiga Roma real do século I A.C: Uma cidade enorme para os padrões da Antiguidade, com algumas construções grandiosas, mas que cresceu quase sem planejamento nenhum, onde as multidões se espremiam pelas ruas, frequentemente sujas. Uma cidade ruidosa e multicolorida. Uma cidade onde a maioria comia na rua, em tabernas (termopólios) comidas exóticas, onde ricos aristocratas circulavam em meio a multidão de proletários e escravos tentando ganhar a vida. A série retrata bem uma República estraçalhada por conflitos sociais, corrupção disseminada e disputas políticas resolvidas na base da intimidação e violência, de certa forma como se fosse uma mistura de Washington, Brasília e Mumbai transplantados para a Antiguidade, sendo que muitos estudiosos já disseram que a política no Império Romano seria bem semelhante a de alguns países do que já foi chamado de Terceiro Mundo.

O fio condutor dos episódios são os dois personagens principais, o centurião Lucius Vorenus (Kevin McKidd) e o legionário Titus Pullus (Ray Stevenson), que servem na mesma legião sob o comando de Júlio César, na Gália, sendo que esses dois militares de fato foram expressamente mencionados por César em seus “Comentários sobre as Guerras Gálicas“, em uma passagem. Durante as duas temporadas, os dois participam diretamente de vários episódios históricos no contexto da Guerra Civil do Primeiro (César x Pompeu) e do Segundo Triunvirato (Otávio x Marco Antônio). Realmente, alguns acontecimentos são bem romanceados e outros são simplesmente inventados, mas, no geral, a série retrata bem o contexto histórico em que eles ocorreram. Ciarán Hinds talvez tenha feito a melhor interpretação de Júlio César já filmada. Outros personagens marcantes são: Atia (Polly Walker), mãe de Otávio (Mark Pirkis e Simon Woods, nas fases adolescente e adulta), que era amante de Marco Antônio (James Purefoy) e inimiga figadal de Servília (Lindsay Duncan), que por sua vez, era amante de César e mãe de Brutus (Tobias Menzies), o enteado e assassino do Ditador; Marco Túlio Cícero (David Bamber); e também: Posca (Nicholas Woodeson), escravo de César; Níobe (Indira Varma), esposa de Vorenus; e Cleópatra (Lindsay Marshal).

2 comentários em “Os 10+ Filmes sobre Roma

  1. Boa tarde,

    Como sempre, muito boas as suas considerações. Vc tem grupo de zap para interessados em história antiga? Gostaria de saber.

    Deixo meu celular, caso seja possivel participar mais ativamente. Não sei se tem canal no youtube, é para se pensar.

    Considero seu conteúdo é o melhor e mais didático de todos que recebo via email ou celular. Seria oportuno abranger mais pessoas com interesses semelhantes. Acho quase um curso de historia sobre Roma e afins.

    Abraços.

    Jorge 11 9376700112

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    1. Obrigado pelo comentário e pelo incentivo, Jorge.
      Ainda não tenho grupo de zap nem canal de YouTube.
      Tenho uma página no Facebook( https://www.facebook.com/historiasderomaoblog?mibextid=LQQJ4d) e um grupo associado , com o nome “Histórias de Roma”.
      Vou falar um pouquinho sobre o porquê de ainda não ter WhatsApp ou YouTube:
      Desde criança leio e estudo sobre o tema, mas eu tenho um cargo em outra área que exige bastante dedicação. Então, eu pesquiso e escrevo no blog à noite ou nos finais de semana, quando dá.
      Também estou vendo a possibilidade de fazer um mestrado em História.
      O fato é que as redes sociais são uma ferramenta maravilhosa, mas eu ainda preciso me familiarizar e aprender para criar conteúdo em vídeo
      Mesmo assim, suas sugestões são bem-vindas e quando eu criar o grupo de zap e/ou o canal de YouTube eu te aviso .
      Abraços

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