A BATALHA DA FLORESTA DE TEUTOBURGO ( OU O DESASTRE DE VARO – CLADES VARIANA – VARUSSLACHT)

O DESASTRE DE VARO – CLADES VARIANA – VARUSSLACHT

PRÓLOGO

Estamos na Floresta de Teutoburgo, em algum dia de setembro do nono ano depois do, então historicamente irrelevante, nascimento de Jesus Cristo (9 D.C), situada no noroeste da Baixa Saxônia, moderna Alemanha – uma região que fazia parte do território que era conhecido pelos Romanos como Germania Magna (Germânia Maior).

No estreito espaço plano entre uma colina íngreme e um vasto terreno pantanoso, pilhas de corpos inertes ensanguentados jazem em ziguezague …

Observando mais de perto, distinguem-se cadáveres de homens, mulas e cavalos, todos juntos e misturados… A terra encontra-se encharcada da água da chuva que caiu incessantemente nos últimos dias, e poças de sangue fluem lentamente, aqui e ali, na direção dos pântanos. Pouco a pouco, a base dos tufos de caniços das respectivas margens começa a ficar avermelhada…

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Um estranho que testemunhasse a cena, isso, claro, caso ele fosse alfabetizado em latim, descobriria, ao ler os estandartes esfarrapados espalhados pelo solo, que aquelas montanhas de cadáveres, um dia, foram a XVII, a XVIII e a XIX Legiões do Exército Romano do imperador Otávio Augusto

Em seguida, o silêncio sepulcral é interrompido por uma multidão excitada e ruidosa, que, em volta de cada uma das pilhas de corpos, cuidava de arrancar, avidamente, espadas, lanças, escudos, couraças, elmos, sandálias e cinturões das mãos e dos corpos das vítimas, fazendo com que alguns fragmentos caíssem na lama. Alguns, mais minuciosamente, procuram, nas vestes e nos corpos dos caídos, qualquer invólucro que pudesse conter objetos valiosos.

O bando urra extasiado e o clima de júbilo é geral. Pelas suas roupas (muitas feitas de peles), cortes e arranjos de cabelo ,quase sempre louro e pelas suas armas e modo de falar, nota-se que os homens são nativos de várias tribos germânicas: Catos, Cheruscos, Bructeros, Chaucos, Marsos entre outros (nomes conforme a forma latina registrada pelos Romanos),

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De repente, lancinantes e tenebrosos gritos de dor e terror fazem todos pararem o que estavam fazendo e se voltarem para uma clareira ao pé de um enorme carvalho na colina de onde vinha o terrível som: naquele instante vários soldados, ainda vestindo a túnica vermelha característica das legiões romanas, acabavam de ser atirados em fumegantes caldeirões de cobre enfeitados com estranhas figuras.

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(Caldeirão de Gundestrup, Dinamarca)

Agora, um grupo de homens a cavalo desmonta e começa a subir em um pódio adornado por estacas com cabeças humanas cortadas. No centro do grupo, um jovem homem alto começa a fazer um discurso exaltado em sua língua germânica. Mas, examinando detidamente o homem, percebe-se imediatamente que sua aparência é a de um típico comandante romano, vestindo couraça, elmo, cingulus, pteruges e um fino manto encarnado.

Os milhares de guerreiros respondem com um grito uníssono e ritmado a cada pausa da arenga. Até que um dos guerreiros entrega ao oficial o que parece de longe serem duas varas com suas pontas cobertas por um pano. O oficial retira os panos e exibe, triunfante, duas águias douradas, que, mesmo naquele dia nublado, rebrilham com fulgor, parecendo hipnotizar toda a multidão.

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Aos pés do oficial jaz um corpo decapitado e parcialmente queimado. Mesmo naquele estado, é possível perceber, pela couraça de bronze dourado, ricamente ornamentada, que se trata de um general romano importante. No meio da exortação, o jovem oficial baixa a estaca com a águia dourada e , quando a levanta, exibe a cabeça ensanguentada de um homem já idoso…

Durante os quase 800 anos de existência de Roma, desde a lendária fundação por Rômulo em 753 A.C., os Romanos tinham sofrido várias derrotas militares, as quais apenas interromperam brevemente a sua marcha inexorável para se tornarem senhores do maior império que o Mundo Antigo conhecera. No entanto, o aniquilamento de três legiões inteiras era um raro e terrível revés.

Qual seria o impacto desta catástrofe?

E quem era aquele homem e como ele derrotou as três legiões? Essa é uma história que começou 60 anos antes…

A EXPANSÃO ROMANA NA GERMÂNIA

Em 52 A.C, Caio Júlio César e suas legiões, após cerca de dez anos de cruentas campanhas, conseguiram conquistar a Gália, incorporando-a à República Romana, como uma província que, pelo seu tamanho, fertilidade e recursos, prenunciava grande prosperidade. Ali, nas décadas seguintes, colônias de veteranos soldados italianos foram fundadas e, em pouco tempo, a própria nobreza gaulesa nativa cada vez mais ia assumindo os usos e costumes romanos.

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Ainda durante a Guerra da Gália, Júlio César teve que conter a crescente penetração de tribos germânicas vindas da margem leste do Rio Reno, notadamente dos Suábios, povo que começava a se assentar naquele país, então majoritariamente celta e começouo a interferir militarmente  em conflitos envolvendo as diversas tribos gaulesas.

Com efeito, na grande Batalha de Vosges, travada em 58 A,C, Júlio César derrotou fragorosamente as forças do rei suábio Ariovistus, que foi obrigado a voltar para a margem leste do Reno. Nesta ocasião, cento e vinte mil germânicos morreram. Algum tempo depois, em um ato com nítido propósito dissuasório, mas também de autopromoção, César mandou construir, em apenas 10 dias, uma ponte de madeira em um trecho largo do Rio Reno e atravessou suas legiões para a outra margem, marchando por alguns dias em território germânico, sem encontrar oposição, após o que, ele voltou para a margem ocidental e desmontou a ponte.

Depois desses sucessos romanos, a Gália ficou um tempo livre de invasões germânicas. Nesse intervalo, a nova província romana começou, rapidamente, a prosperar e desenvolver-se economicamente. Todavia, essa prosperidade acabo por atrair, novamente, os Germanos,. Assim, os Suábios, por duas vezes, em 38 A.C. e 29 A.C., cruzaram novamente o Reno com o objetivo de saquear a província, mas foram derrotados pelas legiões romanas que tinham sido estacionadas permanentemente na Gália.

Em 16 A.C., ocorreu uma nova invasão, agora das tribos germânicas dos Sicambri, Usipetes e Tentceri, que foi enfrentada pelo governador romano da Gália, Marco Lólio que, todavia, desta vez foi derrotado, ocasião em que até chegou a ser capturada a águia-estandarte da V Legião.

Consequentemente, o imperador Augusto teve que mandar o seu enteado, o capaz general Tibério Cláudio Nero (que se tornaria o futuro imperador Tibério), para conter essa nova invasão germânica. Porém, com a chegada de Tibério, os bárbaros fugiram para a “sua” margem (oriental) do Reno.

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A partir de então, a política imperial de Augusto passou a incluir a Germânia como uma de suas prioridades. E, ao menos segundo o historiador romano Floro, Augusto planejava transformar a Germânia Maior em província, pelo mesmo motivo que o seu pai adotivo Júlio César, conquistara a Gália: aumentar a glória do nome dele.

Assim, em 12 A.C, o general Druso, irmão de Tibério, iniciou uma série de campanhas que o levariam muito além das margens do Rio Reno, derrotando várias tribos e penetrando profundamente na terra germânica, indo até o Rio Elba e até mesmo ao Mar do Norte (vale esclarecer que Augusto já tinha criado as províncias da Germânia Inferior e da Germânia Superior, a oeste do Reno, correspondendo aproximadamente, a primeira, aos territórios de Luxemburgo, do sul da Holanda e Bélgica, e, a segunda, à parte ocidental da Suíça, à Alsácia e, ambas, compreendendo os territórios da atual Alemanha a oeste do Reno).

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Nessa campanha, que durou até 9 A.C, Druso (avô do futuro imperador Calígula e pai do sucessor deste, o futuro imperador Cláudio) derrotou as tribos germânicas dos Sugambri, dos Frísios, dos Chaucos, dos Catos (Chatti) e dos Queruscos (Cheruschi). Os bárbaros acabaram pedindo a paz e tendo que entregar membros da própria tribo, como reféns, em garantia. Druso também construiu uma série de acampamentos militares permanentes ao leste do Reno, no interior da Germânia, como, por exemplo, em Oberaden, no Rio Lippe, em Rodgen e, provavelmente, também em Hedemünden, às margens do Rio Werra, local que já fica bem mais próximo ao Rio Elba. Infelizmente para os Romanos, Druso, naquele mesmo ano ,morreria devido a uma queda de cavalo. Ficou, assim, a cargo de seu irmão Tibério completar a tarefa: Em 8 A.C, Tibério cruzou o Reno novamente e desta vez, várias tribos germânicas, intimidadas com o avanço romano, enviaram embaixadores para pedir a paz.

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As sucessivas vitórias romanas na campanha de Druso e o estabelecimento de quartéis militares além do Reno levaram os historiadores romanos do período, como Floro e Dião Cássio, a considerar que, depois desses fatos, toda a Germânia tinha sido subjugada. Para o primeiro, ela já era uma província romana. Mas, de acordo com Dião Cássio, embora Roma controlasse apenas parcialmente todo aquele território, os Germanos já estavam até se adaptando aos costumes romanos, reunindo-se em assembleias pacíficas e fazendo negócios em mercados centrais instalados pelos romanos.

Até pouco tempo atrás, os historiadores modernos (ex: Mommsen) consideravam fantasiosas as narrativas de Floro e Dião Cássio  e defendiam que os Romanos jamais teriam tido a intenção de transformar a pouco desenvolvida Germânia em uma província romana, concluindo que as incursões ao leste do Reno ocorridas durante o reinado de Augusto teriam apenas caráter punitivo.

Contudo, a partir de 1993, as escavações arqueológicas em Waldgirmes demonstraram que os romanos, a partir de 4 A.C, construíram naquele sítio uma cidade com planta tipicamente romana, incluindo um fórum, uma basílica, um quartel militar, canalizações para esgoto e uma praça. Nesta praça, encontraram-se fragmentos de uma estátua equestre dourada, (que, naquele tempo, somente poderia tratar-se de uma estátua do próprio Imperador Augusto). Vale a pena ressaltar que, além de artefatos romanos, foram encontradas peças de cerâmica doméstica de origem germânica, em um contexto que denotava que Romanos e Germânicos estavam vivendo, lado a lado, na cidade (ver http://www.roemerforum-lahnau.de/startseite_englisch.htm)

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(Cabeça do cavalo da estátua equestre romana encontrada em Waldgirmes)

Faço aqui um parêntese para prestar um tributo a Dião Cássio, um historiador romano muitas vezes, a meu ver, negligenciado pelos historiadores modernos, mas que, cada vez mais, venho constatando ter escrito relatos coerentes e fidedignos.

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(Reconstituição da cidade romana cujos vestígios foram encontrados em  Waldgirmes)

Prosseguindo, no ano 1 D.C, Lúcio Domício Enobarbo (avô do futuro imperador Nero), que era governador da Germânia, interceptou a tribo dos Hermunduri, que deixara suas terras à procura de novas, assentando-a no território dos Marcomanos, uma tribo que fizera parte da aliança dos Suábios na época de César, e, após a campanha de Druso, fugindo dos romanos, havia migrado para a região do Danúbio. Depois disso, Domicio levou seu exército até o Rio Elba, onde ele ergueu um altar em homenagem a Augusto, chegando, inclusive a cruzar este rio, indo mais a leste do que qualquer outro general romano antes dele (para o leitor se situar, o Rio Elba marcava boa parte da fronteira entre as antigas Alemanhas Ocidental e Oriental, entre 1949 e 1990). Esta campanha terminou com Domício voltando e estabelecendo seu quartel no Reno.

Note-se que, segundo Dião Cássio, naquele mesmo ano de 1 D.C., Domício teria desagradado aos germânicos em uma questão envolvendo a devolução de exilados Queruscos (que, talvez, poderiam até ser os mesmos reféns que esta tribo entregou aos romanos para garantir o tratado de paz durante a vitoriosa campanha de Druso). Esse fato teria influência, como logo veremos, no desenrolar do evento principal dessa nossa história.

Domício foi sucedido por Marcus Vinicius, que comandou as legiões estacionadas na Germânia entre 1 e 4 D.C., tendo também que travar combates contra algumas tribos germânicas. Depois disso, a partir de 4 D.C., o processo de conquista da Germânia voltou a ficar sob a responsabilidade de Tibério, que, em conjunto com o novo governador da província romana da Germânia, Gaius Sentius Saturninus (Saturnino), durante dois anos, subjugaram a tribo dos Cananefates, que viviam onde hoje é o sul da Holanda, a tribo dos Catos, cujo território ficava no alto rio Weser, correspondendo ao centro e ao sul dos atuais Estados Federais alemães de Hesse e da Baixa Saxônia, e a tribo dos Bructeri, que habitavam entre os rios Lippe e Ems, na região que atualmente fica no norte da Renânia e na Westfália, na Alemanha.

Entretanto, no momento em que Tibério iria dar início a planejada ofensiva contra os Marcomanos, combinada com as legiões de Saturnino,  operação essa que devia-se ao fato desse povo germânico, assentando-se na região do Danúbio, a apenas 200 milhas dos Alpes, tornar-se cada vez mais uma ameaça à própria Itália, estourou, em 6 D.C., uma rebelião nas regiões da Panônia e de Illyricum (província romana da Ilíria que correspondia aproximadamente , a uma boa parte do território da antiga Iugoslávia).

Efetivamente, vários povos das referidas províncias tinham-se unido para lutar contra os romanos, pois estavam especialmente ressentidos pelo excesso de tributos e pela captura de suas mulheres e crianças para serem escravizadas. E isso aconteceu justamente quando os contingentes militares estacionados em Illyricum estavam sendo convocados para lutarem na campanha de Tibério em andamento contra os germânicos.

Como os Ilírios eram um notório povo aguerrido e a província fazia fronteira com a Itália, os romanos sentiram-se consideravelmente ameaçados para reunirem 10 legiões, o que correspondia a quase a metade do Exército Romano de então (segundo o historiador romano Veleio Patérculo, que participou em pessoa da campanha, este era o maior exército reunido por Roma desde as Guerras Civis, que tinham ocorrido 40 anos antes, para combater a Revolta, sendo que esta sangrenta guerra de fato duraria quatro anos ( 6 a 9 D.C.).

Dião Cássio escreveu que Tibério teve que assinar uma trégua com os germânicos devido à necessidade do Império Romano lidar com a Grande Revolta Ilíria. Já Veléio Patérculo narra que o exército de Tibério estava a apenas cinco dias de marcha das posições dos Marcomanos e prestes a se juntar com as legiões de Saturnino, mas, segundo o seu relato, as tribos derrotadas por Tibério na Germânia tinham sido subjugadas antes da insurreição ilíria, sem mencionar nenhuma trégua.

Seja como for, a partida de Tibério e Saturnino para combater a Revolta da Ilíria faz entrar em cena o primeiro protagonista do nosso tema principal: Para ocupar o lugar deles, em 6 D.C., Augusto nomeou Públio Quintílio Varo (Publius Quinctilius Varus) para ser o  governador da província da Germânia…

PÚBLIO QUINTÍLIO VARO

Públio Quintílio Varo pertencia a uma família da classe senatorial, que, no entanto, encontrava-se em uma situação decadente no século final da República. Mas, a desfavorável situação familiar logo viria a progredir, pois o avô materno de Varo casou-se, em segundas núpcias, com a irmã de Caio Otávio, o sobrinho-neto de Júlio César que, em alguns anos, tornaria-se o primeiro imperador de Roma, com o nome de Augusto.

Embora o pai de Varo, Sexto Quintílio Varo, tenha escolhido o lado errado na guerra civil entre os partidários de César e a facção do Senado responsável pelo seu assassinato (Optimates), o filho dele, isto é, o nosso personagem Públio Quintílio Varo, quando ainda era bem jovem, tornou-se partidário de Otávio e, paulatinamente, foi ingressando no circulo íntimo de colaboradores do imperador,  e  ele acabou conseguindo casar-se com Vipsânia Marcela Agripina, que era filha de Marco Vipsânio Agrípa, o melhor amigo e o braço-direito de Augusto, e de Claudia Marcella, que, por sua vez, era sobrinha do próprio imperador (ela era filha da irmã mais nova de Augusto, Otávia, a Jovem).

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(Estátua do imperador Augusto)

Assim, não é de espantar, diante dessa estreita conexão familiar com a casa imperial, que a carreira política de Varo tenha decolado. De fato, entre 8 e 7 A.C, ele governou a província da África ( que corresponde a uma boa parte da atual Tunísia e um pequeno pedaço da atual Líbia). Em seguida, Augusto nomeou Varo para governar a rica província da Síria, onde ele ficou de 7 a 4 A.C.

No que se refere à administração de Varo na Síria é importante dois traços que certamente teriam influência sobre os eventos que futuramente iriam ocorrer na Germânia:

Com efeito, na Síria, a conduta de Varo foi caracterizada: a) pela elevada e impiedosa taxação e, b) pela extrema severidade contra qualquer dissidência nativa.

Com relação à ganância de Varo (apesar de, nas províncias romanas admitir-se que o governador ficasse com uma parte dos tributos), é bastante esclarecedor o relato do historiador romano Veleio Patérculo sobre o governo dele na Síria:

“Ele entrou pobre em uma província rica e saiu rico de uma província pobre.”

A província da Síria englobava o reino cliente da Judeia, o qual era governado pelo rei Herodes, o Grande, nomeado pelo Senado Romano, em 37 A.C. Quando  Herodes morreu, em 4 A.C., houve disputas pela sucessão e uma facção judaica hostilizou os romanos.

A brutal resposta de Varo foi queimar algumas cidades, como Emaús, e crucificar dois mil judeus, como narrou Flávio Josefo, em sua obra “Antiguidades Judaicas”.

Curiosidade: Tendo em vista que Varo era o governador da Síria, em 4 A.C. , e que o rei Herodes morreu neste memso ano, é extremamente provável que Jesus Cristo tenha nascido durante a administração dele, pois, segundo a narrativa dos Evangelhos de São Lucas e de São Mateus, Jesus nasceu enquanto Herodes ainda estava vivo. Ocorre que, muito embora o primeiro evangelista citado expressamente afirme que o nascimento de Jesus ocorreu na época do censo ordenado pelo governador da Síria, Quirino, tudo indica que isso deve ser fruto de uma confusão de Lucas, pois Publius Sulpícius Quirinius foi governador da Sìria a partir de 6 D.C, ou seja, dez anos após a morte de Herodes. Por isso, alguns estudiosos realmente acreditam que o referido evangelista teria confundido “Publius Quinctilius”, o nome e sobrenome da gens de Varo, com “Publius Quirinius”. Além do mais, se o nascimento de Jesus tivesse ocorrido em 6 D.C., isto colocaria o ano de sua morte em 39 D.C, isto é, três anos após Pôncio Pilatos ter deixado o governo da Judeia, o que é incompatível com a narrativa evangélica e com as fontes romanas, tais como Tácito, Suetônio e Josefo.

Feita essa observação, o fato é que, em 6 ou 7 D.C., Públio Quintílio Varo assumiu o governo da Gália, tendo também autoridade sobre a Germânia. E os textos sobreviventes dos historiadores romanos que nos contam sobre a conduta de Varo na administração dos assuntos germânicos denotam que ele continuou agindo da mesma forma como na Síria: voraz quanto aos tributos e implacável em relação aos nativos…

Com efeito, os historiadores romanos Veléio Patérculo, Floro e Dião Cássio, em uníssono, relatam que Varo procedia com desprezo pelos Germanos, que, apenas recentemente tinham sido derrotados, mas não inteiramente subjugados, pelos Romanos.

E todos os historiadores citados chamam a atenção para o comportamento de Varo dar a entender que ele acreditava piamente que a Germânia ao Leste do Reno já era uma província romana, uma vez que ele passou a expedir decretos e enviar litores (que eram funcionários que agiam como uma espécie de oficial de justiça, com o poder de compelir os administrados a cumprirem as ordens dos magistrado, poder esse que era expresso por um feixe de varas, para açoitar os recalcitrantes, e um machado) para garantir o seu cumprimento (na foto abaixo, relevo romano retratando um litor).

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Em um ponto muito destacado por Patérculo, Floro e Dião Cássio, Varo também passou a reunir os Germanos em assembleias, onde os conflitos de interesses envolvendo os bárbaros seriam julgados por ele, na condição de autoridade judiciária máxima. Esse foi um fato que desagradou aos Germanos, já que, em muitos casos, de acordo com os costumes deles, as disputas entre homens eram resolvidas em combate, sendo que as penas estabelecidas pelas suas leis orais, eram, em geral, bem mais leves do que as penas romanas. por exemplo, um assassinato entre eles não era punido com a morte, mas sancionado como a  obrigação de pagar uma soma em dinheiro ou bens. Cabia à família da vítima, caso não ficasse satisfeita, , buscar a reparação desafiando o ofensor para uma luta.

Outro elemento de descontentamento, obviamente, foi a cobrança de tributos sobre as tribos germânicas. Se hoje os tributos nos são desagradáveis, o que dirá para um povo que, até então, vivia da agricultura ou pecuária de subsistência, e não em cidades, mas em aldeias? Não podemos afirmar que Varo foi o primeiro governador romano a cobrar tributos dos Germanos, mas, considerando o que foi dito sobre sua passagem pela Síria, é bem provável que ele o tenha feito de modo mais ávido e duro do que o seu predecessor Saturnino...

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Assim, a semente da revolta germânica pode não ter começado a germinar durante o governo de Varo, mas, com certeza, por ele foi regada e se desenvolveu, incentivada, ainda, pelo fato de Augusto ter sido obrigado a transferira algumas legiões para debelar a Grande Revolta Ilíria, deixando Varo com somente três legiões para policiar a Germânia…

Essa era a situação da Germânia, quando, em setembro de 9 D.C, Varo marchava com seu exército de três legiões  e mais 6 coortes de auxiliares (unidades militares contendo cerca de 500 homens), incluindo destacamentos de cavalaria, que deixaram o seu quartel próximo ao Rio Weser, nas vizinhanças do território da tribo germãnica dos Cheruscos.

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Era a rotina dos romanos na Germânia Maior passar o verão nos quartéis ao leste do Reno, que ficavam bem no interior desta “proto-província”. Porém, como nesta região o o clima era mais frio e, considerando que, na Antiguidade,  todas as operações militares normalmente cessavam no inverno, os romanos, quando da chegada desta estação, deslocavam-se para os quartéis situados às margens do Reno, provavelmente em Mogúncia (Mainz), local em que o clima era mais ameno, e a distância para a Itália, menor.

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(Um típico quartel romano do período)

As fontes citam que alguns chefes germânicos recentemente tinham pedido a Varo que pequenos destacamentos de soldados romanos fossem enviados para algumas aldeias, com o objetivo de prender ladrões e guardar rotas de comércio, e que o governador, acreditando na veracidade do motivo, autorizou o envio

Enquanto isso, integrado à comitiva de Varo, estava um jovem germânico, comandante militar de tropas auxiliares romanas, com cerca de 21 anos de idade, filho do chefe querusco Segimerus, ou Segimer (Nota: somente cidadãos romanos poderiam ser legionários, mas os romanos costumavam alistar soldados de vários povos estrangeiros como tropas auxiliares, normalmente empregadas como unidades especializadas, tais como cavaleiros, arqueiros fundibulários, etc.). Não se sabe o seu nome em sua língua nativa, mas ele era chamado de Arminius pelos romanos (e muitos acreditam que este seria uma forma latinizada do nome “Hermann”) e ele é o segundo protagonista do drama que começava a se desenrolar…

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Nenhuma fonte romana afirma isso, mas é quase certo que Arminius deve ter sido um dos reféns queruscos entregues ao general Druso, por volta de 9 A.C (ver a primeira parte dessa nossa história). Arminius teria, então, cerca de doze anos de idade e deve ter sido entregue aos Romanos provavelmente junto com seu irmão, chamado Flavus, para garantir que os Queruscos mantivessem a paz.

Não se sabe em que parte do Império Romano Arminius cresceu, mas o certo é que ele recebeu a oportunidade de prestar serviço militar à Roma, destacando-se a ponto de ter recebido a cidadania romana, bem como a grande distinção de ser arrolado entre a classe dos Cavaleiros (Equestres/ Equites), ascendendo, assim, ao segundo nível da aristocracia romana, em uma posição social somente inferior aos senadores e suas famílias (a classe senatorial era o cume da nova nobreza imperial romana).

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Segundo Veléio Patérculo, antes de 9 D.C, Arminius participou de algumas campanhas militares, que podem muito bem ter sido aquelas promovidas por Tibério e Saturnino, das quais já falamos, depois de 4 D.C, pois, então, ele já teria idade suficiente para ser soldado, e também contra os rebeldes na Grande Revolta Ilíria, que durou de 6 a 9 D.C.

É provável, assim, que Arminius deve ter retornado à Germânia quando Varo já governava a região. Com certeza ele rapidamente conseguiu impressionar o general romano, a ponto de Dião Cássio registrar que Arminius era uma companhia frequente de Varo, chegando até ao ponto deles comerem juntos na mesma mesa.

Enquanto isso, só podemos especular como deve ter sido o reencontro de Armínius com seu pai….

Eles provavelmente não se viam desde que Segimerus entregara o filho aos Romanos, cerca de quinze anos antes. Talvez Arminius esperasse que o pai ficasse orgulhoso de ver como ele havia prosperado em Roma, apresentando-se vestido em trajes de oficial romano. Mas é bem possível que, naquele intervalo de tempo, Segimerus tenha sofrido muitos desaforos por parte de seus compatriotas, pois, ao ter entregado o próprio filho aos romanos, para garantir o tratado de paz, ele praticara um ato humilhante de acordo com os costumes germânicos.  É possível que os líderes rivais tenham se aproveitado disso para diminuir a posição de liderança do velho na tribo. E agora, além de ter entregue o filho como refém, este ainda virara um soldado romano!

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Arminius, garbosamente vestido com sua cota de malha coberta de fáleras (discos de prata com figuras gravadas que podem ser equiparadas as modernas medalhas), elmo emplumado e manto escarlate pode ter percebido no olhar do velho, ao invés do esperado orgulho paterno, a decepção , a vergonha e a tristeza que a surpresa causara; quem sabe, a pungente cena se passara na mesma cabana de madeira e teto de palha onde o próprio Arminius nascera, ele, filho de um antes respeitado chefe.

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Mas, sem dúvida, eles deviam ter muita coisa para conversar. Segimerus deve ter contado como as coisas tinham mudado em quinze anos. Como a orgulhosa tribo tinha sido várias vezes humilhada pelos pretores romanos e seus litores. Deve ter se queixado da obrigação de ter que pagar o pesado tributo, de ter que se inclinar perante a efígie de César Augusto, e até da vez em que eles, como era de costume, iam atacar os vizinhos que haviam roubado o gado, mas foram impedidos pelos tribunos, sendo obrigados a levar o caso ao pretor…

Segimerus pode ter mostrado a Arminius o lugar onde as cinzas de sua mãe haviam sido enterradas com seus pertences mais preciosos, o pântano de turfa onde tantas vezes eles jogaram as armas e os corpos dos inimigos vencidos e até o levou até o ponto onde se descortinava a floresta sagrada onde ficava o grande tronco de carvalho esculpido, Irminsul (talvez uma das explicações para o nome que ele dera ao filho), o lugar dos sacrifícios a Wodan, Zyo e Frea, deuses ancestrais dos germânicos (ilustração abaixo).

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Com o passar dos dias, circulando pela aldeia, Arminius deve ter visto como os orgulhosos oficiais de Varo tratavam com dureza e desdém aos seus compatriotas: a aspereza das ordens gritadas em latim, a arrogância dos gestos autoritários…E assim o prazeroso sentimento inicial de ocupar uma posição privilegiada em algo grandioso deve ter começado a se esvair do peito de Arminius como o ar de um balão…

Após o seu retorno a Germânia, que deve ter  ocorrido provavelmente no início daquele fatídico ano de 9 D.C., Arminius conheceu a bela Thusnelda, filha do nobre Segestes, que era um outro respeitado chefe querusco. Porém, Thusnelda, segundo nos conta o historiador romano Tácito, foi prometida para outro jovem. Como era costume entre os Germanos, as famílias aguardavam a chegada da idade adulta dos noivos para celebrar o casamento e consumar a união. Podemos crer que, neste momento, Armínius, tenha se apaixonado pela linda compatriota, de olhos claros e longos cabelos louros como ele jamais havia visto em todo o tempo que ele passara em Roma, e, ignorando os costumes ancestrais, ele tenha passado a cortejar a moça.

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Segestes, embora fosse ainda um altivo chefe guerreiro, à altura das melhores tradições germânicas, era um partidário dos Romanos, como registram as fontes. Inclusive, Augusto, em reconhecimento a sua amizade, tornou-o cidadão romano!  É possível que Segestes, ainda criança, tenha ouvido as estórias sobre as campanhas de Júlio César na Gália, e da grande matança que ele tinha feito entre os Gauleses e os Germanos que lutaram contra a conquista daquela província. E, de fato, ele mesmo, Segestes, experimentara o poder das legiões de Druso. É bem provável que, depois, ele tenha viajado à Gália para comercia e testemunhado como esta província vinha se desenvolvendo e, sobretudo, como a nobreza gaulesa que havia colaborado com Roma tinha prosperado: Vale lembrar que o próprio César inclusive havia nomeado nobres gauleses para o Senado Romano!

Todavia, embora Segestes se mostrasse solícito com o governador Varo, ele não poderia tolerar a investida de Arminius sobre Thusnelda. Ele a prometera para outro nobre e a sua honra seria seriamente comprometida caso ela não se casasse com o escolhido. Por isso, Segestes, segundo narra Tácito, passou a detestar Arminius.

Arminius, por sua vez, que agora tinha em Thusnelda  outro poderoso imã que o atraía para a sua pátria natal, possivelmente começou a visitar, no início de 9 D.C, outras aldeias e a viajar pela região entre os rios Lippe e Weser, para cumprir várias missões, tais como supervisionar rotas, escoltar suprimentos, distribuir sentinelas, etc. Em poucos meses, ele deve ter conhecido e estabelecido laços com chefes de vários povos vizinhos, notadamente Catos, Queruscos, Bructeros, Chaucos, Marsos e até alguns Suábios. Em todos esses lugares, Arminius perceberia que, embora vivessem separados e vez por outra até guerreassem, falavam todos eles a mesma língua e tinham os mesmos costumes, e, mais importante,  eles compartilhavam o mesmo sentimento de insatisfação com os Romanos.

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Mas como eles poderiam resistir aos Romanos? Varo tinha três legiões e várias coortes, cerca de 20 mil soldados no total. As tribos daquela parte da Germânia, quando muito, depois de tantas derrotas nos últimos anos, conseguiriam no máximo reunir o mesmo número. Desse modo, para vencerem os romanos, que tinham melhores armas e eram imbatíveis em campo aberto, somente através de uma emboscada. Porém, as legiões não dormiam um dia sequer fora do quartel fortificado com paliçadas e torres armadas com as temíveis catapultas e balistas. Já os Germanos não tinham a menor expertise em fazer guerra de cerco.

Voltando ao quartel-general romano, Arminius deve ter percebido como Varo estava seguro e confiante da completa submissão das terras germânicas, naquele início de 9 D.C… A disciplina no quartel de verão parecia estar relaxada e muitas mulheres e até crianças  conviviam entre os soldados. Enquanto isso, Varo  passava o dia no pretório, sentado em sua cadeira curul, resolvendo as disputas legais, rodeado pelos chefes das tribos.

Em algum momento, a ideia deve ter surgido na mente de Arminius. Após servir por cinco anos no Exército Romano e participar de várias campanhas, ele conhecia bem as táticas dos Romanos, as suas forças, mas também as suas fraquezas. Se os romanos pudessem ser atraídos para um terreno desfavorável, onde os soldados não pudessem entrar em formação e as legiões não conseguissem cooperar entre si, elas poderiam ser vencidas. E ele, que já gozava da confiança do governador, dificilmente seria suspeito de ser um rebelde. Assim, Arminius se sentiu encorajado a contar seus planos para o pai, que apoiou entusiasticamente a ideia. Seria a chance de seu povo vingar a humilhação de 15 anos atrás, e, sobretudo, livrar-se dos litores e dos publicanos.

Eles teriam apenas algumas semanas para colocar um plano em prática, pois, no final do outono, Varo voltaria para o quartel de inverno do Reno, onde ele poderia ter o suporte das outras legiões que ficaram ali estacionadas e onde as tribos eram realmente amistosas.

Arminius e Segimerus devem ter começado a falar com os chefes queruscos que eram mais próximos ao velho nobre, encontrando apoio imediato. Depois, nos meses seguintes, eles devem ter encontrado os chefes de outras tribos, em festivais religiosos ou em “things” (assembleias de homens livres ) de várias tribos vizinhas, e a conspiração foi tomando forma…

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(Este desenho de um relevo da Coluna de Marco Aurélio, em Roma, retrata um “thing”, a assembleia de germânicos, no caso, de Marcomanos)

                                                              A ARMADILHA

O plano que Arminius concebeu consistia em atrair Varo para uma região desconhecida dos romanos, mas que ficava dentro das terras de sua tribo. Como pretexto, ele escolheu o único motivo que faria o governador romano marchar com toda o seu exército para um território ainda não desbravado: um levante armado! E para enfraquecer um pouco as legiões de Varo, alguns chefes que ele reputava confiáveis pediriam ao governador que lhes enviasse destacamentos de soldados romanos para garantir a segurança nas suas aldeias. A data da emboscada, concluiu Arminius, teria que ser no final do outono, pois, certamente, os Romanos iriam querer resolver rapidamente a questão para que eles pudessem passar o inverno no conforto de Moguntiacum (Mogúncia), no Reno. Além do mais, dificilmente os Romanos teriam como mandar reforços depois que a neve caísse, sobretudo com os quartéis de verão no interior da Germânia destruídos, como os Germanos pretendiam fazer assim que eles derrotassem Varo

A escolha do local deve ter sido sugestão dos chefes queruscos. De fato, bem ali na terra deles, ficava, em um raio de centenas de quilômetros, a única rota de passagem em terreno seco e plano ligando o leste e o oeste da Germânia, entre as montanhas Wiehengebierge e o grande pântano que se extendia até o Mar do Norte. Em um determinado ponto, a largura da passagem era de apenas 100 metros, entre a montanha e pântano. Aquela era a realmente a melhor opção de trajeto, para alguém que não quisesse ficar com os pés encharcados ou andar em terreno montanhoso dentro da floresta…

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Quando o mês de setembro chegou, os chefes da conspiração resolveram oferecer um festim no quartel de Varo, uma fingida homenagem à iminente partida do governador, em que foram consumidos muito vinho e cerveja, esta oferecida pelos germânicos. Durante a festa, Segestes, que já vinha alertando Varo para não confiar em Arminius, e como chefe que ele era, já tinha ouvido rumores acerca da conspiração, levantou-se e acusou Arminius de traição, chegando inclusive a pedir ao governador que prendesse, não apenas os conspiradores, mas também ele mesmo, Segestes, com o propósito de que Varo pudesse melhor investigar quais eram os chefes leais e quais seriam inimigos de Roma.

Varo, que já tinha notado o ódio que Segestes nutria por Arminius, devido ao romance que este havia iniciado com sua filha Thusnelda, não deu muita importância. Provavelmente, ele mal conseguia entender o arremedo de latim que Segestes falava, e além do mais, o inconsciente de Varo não queria acreditar naquilo, pois tudo o que ele costumava ouvir dos chefes germânicos, até então, eram bajulações e elogios à sua administração,  coisa que ele julgava muito natural diante dos seus evidentes méritos…

No dia seguinte, Arminius chegou galopando rápido à frente de um esquadrão de cavalaria (turmae), trazendo a trepidante notícia de que os Bructeros tinham se revoltado próximo ao território dos Queruscos, os quais pediam a ajuda dos Romanos.

Alvoroçado com a notícia, Varo mandou reunir as três legiões e as seis coortes de auliares que estavam com ele e ordenou que todos marchariam para combater os rebeldes. Entre as ordens, estava a determinação de que Arminius e os chefes germânicos guiassem as legiões até o local da suposta revolta, através do caminho mais rápido.

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Em seguida, Arminius e os chefes queruscos pediram autorização a Varo para que eles deixassem a comitiva e fossem até as aldeias amigas para reunir forças para se aliarem às legiões na repressão à revolta,  sugerindo que batedores germânicos da confiança deles guiassem o exército até o local exato.

Entretanto, isso era apenas um disfarce. Na verdade, Arminius saiu e foi ao encontro do exército germânico combinado composto por guerreiros queruscos, catos, bructeros, chaucos, marsos e até de alguns Suábios,  que aguardava, no local combinado, a chegada das legiões de Varo. Concomitantemente, Arminius despachou mensageiros às aldeias onde estavam estacionados pequenos destacamentos de soldados romanos, a pedido dos chefes envolvidos na conspiração anti-romana. Quando a mensagem de Arminius chegou aos destinatários, todos os soldados romanos espalhados pelas aldeias foram imediatamente mortos.

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(Ilustração de Arminius feita pelo artista Gambargin, http://fav.me/dai0tmm)

Enquanto isso, marchando através de território que eles acreditavam ser amistoso, as legiões não prosseguiam em ordem de batalha, como seria de costume, mas em blocos separados. A longa coluna devia se estender por vários quilômetros de comprimento. Tudo indica que os Romanos acreditavam que estavam indo resolver um assunto fácil: um levante dos Bructeri, os quais tinham sido facilmente derrotados por Tibério e Saturnino, apenas quatro anos antes…Os soldados confiavam que, antes do final de outubro, eles estariam no conforto dos quartéis do Reno. Assim, misturados à tropa, iam mulheres, crianças, escravos domésticos e toda a sua bagagem, transportadas em carros de boi e mulas…

A BATALHA DA FLORESTA DE TEUTOBURGO – PRIMEIRO DIA

O historiador romano Dião Cássio, a partir daí, é que nos dá o relato mais detalhado dos acontecimentos:

Os Romanos foram guiados para uma trilha que passava por dentro da Floresta de Teutoburgo. Os soldados, inclusive, tinham que derrubar árvores e ir aplainando os caminhos para as carroças transitarem. Nesse momento, começou a chover muito forte. Foi então que grupos de guerreiros germânicos escondidos entre as árvores despejaram dardos contra a retaguarda da coluna, matando muitos soldados romanos que tentaram, sem sucesso, defender-se com os seus escudos, os quais, encharcados da água que caía, começaram a ficar muito pesados. Além disso, os Germanos começaram a derrubar algumas árvores para que os troncos caíssem em cima dos Romanos.  Agora, as tropas estavam dispersas ao longo do caminho, já bem escorregadio, que se encontrava atravancado pelas carroças e pela correria desesperada dos civis. Sem dúvida, estava muito difícil organizar uma formação de batalha naquele momento. Assim, cada grupo de soldados combatia em minoria contra um número muito maior de bárbaros. Em pouco tempo, vários legionários já estavam caídos na floresta, mortos ou feridos. Para piorar, as tropas auxiliares começaram a desertar e fugir para o meio da floresta.

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Apesar de tudo, os oficias romanos conseguiram achar um local mais ou menos adequado para fazer um acampamento fortificado com uma paliçada e passar à noite. Eles, com pesar, decidiram queimar as carroças e abandonar tudo o que não fosse necessário para o combate.

A BATALHA DA FLORESTA DE TEUTOBURGO – SEGUNDO E TERCEIRO DIAS

No dia seguinte, os Romanos conseguiram avançar de forma mais ou menos ordenada para o oeste, conseguindo chegar até campo aberto, porém sem deixar de sofrerem contínuas perdas em emboscadas. Talvez Varo e os oficiais romanos ainda acreditassem que, em algum momento, Arminius chegaria com os reforços prometidos e aliviaria a situação. Neste ponto, Dião Cássio conta que as tropas teriam entrado de novo em outro trecho da floresta.

Foi neste dia que os Romanos, segundo Dião Cássio, sofreram as suas perdas mais pesadas. O historiador narra que os soldados tiveram que formar suas linhas em um espaço estreito. A ênfase nesses dois elementos: pesadas perdas e a largura do terreno, apontam para a estreita passagem situada ao pé da colina Kalkriese, 20 km ao norte da atual cidade de Osnabrück, como sendo o ponto focal da Batalha.  Foi ali que os Romanos ficaram imprensados entre o pântano e a floresta.

De fato, durante dois mil anos, o local exato onde ocorreu a Batalha da Floresta de Teutoburgo sumiu da História e da memória dos europeus.

Até que, em 1987, um militar inglês – que nas horas vagas tinha  como hobby ser arqueólogo amador – descobriu uma grande quantidade de moedas romanas, sendo que nenhuma das moedas encontradas era posterior a 9 D.C. Avisadas, as autoridade começaram uma escavação científica., encontrando fragmentos de equipamento militar romano e ossos humanos e de animais, na maior parte das vezes, misturados em buracos cavados propositalmente para enterrá-los.

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(Foto do sítio de Karlkriese. O caminho marca o trajeto provável do deslocamento da tropa romana, conforme os achados arqueológicos)

Os arqueólogos alemães também descobriram, neste sítio, vestígios de um longo muro de turfa encimado por troncos, o qual se estendia em zigue-zague, com passagens em intervalos periódicos. Embaixo de um trecho que parecia ter cedido, eles encontraram um crânio humano, ao lado um suporte de plumagem característico de um elmo romano, e o esqueleto de uma mula. Os arqueólogos calcularam que foram necessárias apenas algumas semanas para construir esse muro, encimado por uma paliçada, que ficava ao pé da montanha. Escavando o terreno, eles verificaram que, ao longo dos séculos, o mesmo foi modificado pelas sucessivas gerações de agricultores, tendo ficado bem diferente do que ele era em 9 D.C. Com efeito, originalmente, o local era uma faixa de terreno seco arenoso de cem metros de largura delimitado, em um lado, pela colina Kalkriese, então, como hoje, coberta de árvores, mas, do outro lado, por um pântano, que foi sendo aterrado ao longo dos séculos.

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(Foto da reconstituição do solo original no século I D.C., em Kalkriese. Ao fundo, pode-se ver a paliçada reconstruída)

Ali foram encontrados 6 mil itens arqueológicos (moedas, pedaços de sandálias militares, pontas de lança, e de dardos de catapultas, arreios de cavalos e mulas, etc.) relacionados ao Exército Romano. E o maior agrupamento de achados fica justamente no trecho onde foram construídos o muro de turfa e a paliçada pelos germânicos.

O sítio arqueológico de Kalkriese é uma prova irrefutável de que Arminius e os Germânicos planejaram e executaram uma emboscada magistralmente sofisticada. E eles não apenas atraíram os Romanos para um terreno desfavorável, mas ainda prepararam com antecedência este terreno. E eles fizeram isso em apenas algumas semanas.

A maioria dos soldados da XVII, XVIII e XIX Legiões comandadas por Varo deve ter sido morta no trecho murado, tentando, inclusive, tomar de assalto um destes trechos, sem sucesso (essa, inclusive, foi a parte do muro que desabou sobre os soldados); mas alguns grupos devem ter conseguido prosseguir. A trilha dos achados arqueológicos demonstra que, ultrapassada a paliçada germânica, houve uma bifurcação no avanço dos romanos. Um grupo um pouco maior ainda avançou um pouco mais para o norte, e outro, menor, para o sul.

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A BATALHA DA FLORESTA DE TEUTOBURGO – ÚLTIMO DIA

De fato, Dião Cássio conta que, quando raiou o quarto dia, o que restava das legiões ainda estava avançando, quando voltou a cair uma tempestade de chuva e vento, impedindo novamente os Romanos de usarem seus escudos e seus arcos (pois as cordas feitas de tendão ficam frouxas quando molhadas). Para piorar, outros bandos de Germanos se sentiram encorajados a se juntar aos que atacavam os Romanos, que ficaram em ainda maior inferioridade numérica.

Estava tudo acabado: Públio Quintílio Varo, que já tinha sido ferido nos dias anteriores, vendo-se na iminência de ser capturado, mostrou a bravura que tradicionalmente era esperada de um general romano e, repetindo o que seu pai e seu avô já tinham feito antes, ele tirou a própria vida, jogando-se sobre a sua espada. Por sua vez o Legado (general) Numonius Vala tentou fugir com suas unidades de cavalaria, mas ele acabou sendo alcançado pelos cavaleiros de Arminius e morto. Os historiadores romanos condenaram este ato como covardia, mas diante da situação, talvez fosse a única alternativa. Dos dois Prefecti Castrorum (Prefeitos do Acampamento), que eram os terceiros em comando na legião), Lucius Eggius pereceu combatendo, mas o outro, Ceionnius, rendeu-se, apenas para morrer torturado pelos bárbaros.

O corpo de Varo, segundo o historiador romano Veléio Patérculo, foi parcialmente cremado e enterrado às pressas, provavelmente pelos seus servos domésticos, mas logo o mesmo seria descoberto, desenterrado (o historiador Floro também narra isso) e decapitado pelos Germanos. Depois, Arminius enviou a cabeça de Varo para o rei dos Marcomanos, Marobóduo (Marbod), no Danúbio, com o objetivo de incentivá-lo a se unir à aliança dos Queruscos e povos vizinhos contra o Império. Contudo, o prudente rei preferiu não tomar partido e, como gesto de boa vontade, enviou de volta a cabeça de Varo para Augusto, em Roma, onde mais tarde ela foi depositada, com honras, no mausoléu da família.

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Dois dos estandartes-águia das legiões foram capturados por Arminius. Porém a terceira águia, segundo, Floro, foi escondida por um soldado porta-estandarte (aquilifer) dentro das próprias vestes,  que com ela mergulhou no pântano.

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O grande historiador Tácito narra que Arminius insultou as águias e os estandartes, discursando para a multidão de guerreiros em cima de uma tribuna improvisada. Os tribunos e oficiais sobreviventes foram sacrificados vivos em altares e tiveram suas cabeças cortadas e penduradas em árvores. Por sua vez, alguns soldados seriam poupados, para serem escravos dos Germanos e deve ter sido algum deles que, anos mais tarde relatou essas cenas. Um pequeno punhado de soldados teve mais sorte e eles conseguiram chegar até as guarnições romanas no Reno.

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CONSEQUÊNCIAS

Logo após a Batalha da Floresta de Teutoburgo, todos os quartéis romanos até o Reno foram atacados pelos Germanos. Somente o forte de Aliso resistiu heroicamente e foi somente essa resistência que impediu os bárbaros de cruzarem o Reno e atacarem a Gália, prosseguindo, quem sabe, até a Itália.

A nascente cidade romana de Waldgirmes, que mencionamos na primeira parte de nossa história, foi prontamente evacuada. Sabemos que ela não foi destruída pelos Germanos, pois não há traços de incêndio, nem esqueletos de vítimas. Na verdade, a cidade foi propositalmente desmantelada pelos Romanos, provavelmente logo que eles receberam a notícia da derrota, naquele mesmo ano de 9 D.C.

Quando a notícia do Desastre de Varo (Clades Variana, como a derrota seria batizada em latim) chegou à Roma, houve uma comoção geral e muitos de fato acreditaram que logo os Germanos atravessariam os Alpes e invadiriam a Itália. O imperador Augusto ficou muito abalado. Segundo o historiador romano Suetônio, o velho imperador, meses após a derrota, repetidas vezes foi visto batendo a cabeça contra uma parede e clamando:

“QUINCTILIUS VARUS, LEGIONES REDE!” (Quintílio Varo, devolva-me minhas legiões!).

Foi de fato a pior derrota que Augusto sofrera em 50 anos à frente do governo de Roma. Ele havia planejado minuciosamente que o número de legiões do Exército Romano, após as guerras civis do Triunvirato, seria de 28…Agora, restavam 25, e os números das legiões massacradas na Batalha da Floresta de Teutoburgo nunca mais seriam utilizados de novo pelos supersticiosos romano: Realmente, jamais houve quaisquer outras Legiões XVII, XVIII e XIX. Viraram números malditos…

Muitos historiadores incluem a Batalha da Floresta Teutoburgo entre as dez batalhas mais decisivas da História. Eu concordo. Hoje, não há dúvidas de que Augusto tinha um projeto de anexação e “romanização” da Germânia, o qual estava em andamento. Se os Romanos tivessem ganho a Batalha ou, mais provável, se Varo tivesse dado ouvidos a Segestes e desarticulado a conspiração, em poucos anos teria havido a fundação de novas cidades e consolidação e aumento das já existentes, como Waldgirmes. Em algumas décadas, a Germânia até o rio Elba ficaria cada vez mais e mais parecida com a Gália. E a leitura das fontes que citamos demonstra que realmente havia uma facção da nobreza germânica que apoiava essa “romanização” (o maior exemplo é o próprio Segestes). Uma derrota de Arminius certamente teria reforçado e promovido esses nobres pró Roma. Isso, obviamente, não quer dizer que as outras tribos germânicas além do rio Elba, incluindo as que viviam na Escandinávia, futuramente não atacariam as fronteiras romanas, e nem que o Império do Ocidente não viesse mais tarde a entrar em colapso. Porém, muito provavelmente, a fronteira linguística e cultural da Europa latinizada e católica seria no rio Elba. Como  disse o historiador militar britãnico J.F.C. Fuller, ainda que com algum exagero:

“Sem Teutoburgo, não haveria Carlos Magno, não haveria Sacro Império Romano-Germânico, não haveria Guerra dos Trinta Anos, não haveria Napoleão, não haveria Alemanha e não haveria Hitler

O IMPÉRIO CONTRA-ATACA

Demorou cinco anos para o Império Romano preparar uma revanche. O general Germanicus Julius Caesar (Germânico), que era filho adotivo do sucessor de Augusto, o Imperador Tibério (que conduziu inúmeras campanhas bem sucedidas na Germânia) entrou na Germânia comandando 6 legiões. Ele travou vários combates muito sangrentos, matou milhares de bárbaros, e até conseguiu recuperar uma das águias capturadas na Batalha da Floresta de Teutoburgo. Germânico engajou vitoriosamente Armínius em combate algumas vezes, mas nunca sem conseguir derrotá-lo definitivamente. Contudo,  Segestes, que tinha sido cercado pelas tribos leais à Arminius, pediu ajuda a Germânico, que prontamente veio em seu socorro e conseguiu derrotá-los, em  15 de maio de 15 D.C. Em agradecimento, Segestes entregou à Germânico a sua própria filha Thusnelda, que então era esposa de Arminius e estava grávida do filho do libertador da Germânia.

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(Estátua romana de mulher germânica cativa, apelidada de “Thusnelda”)

Logo depois, naquele mesmo ano, Germânico e suas legiões alcançaram o local da Batalha da Floresta de Teutoburgo, visitando o campo de batalha em Kalkriese. A sombria , macabra e brilhante descrição que o historiador Tácito faz dessa visita traz à minha mente uma cena parecida com a que assisti no filme “Apocalipse Now”, quando o louco Coronel Kurtz é encontrado no Laos:

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De acordo com Tácito, havia ossos descarnados espalhados por todo local e, das árvores, pendiam crânios dos soldados romanos sacrificados. Tácito conta que o próprio Germânico cuidou de enterrar, juntamente com os soldados, os ossos dos companheiros mortos. E isso é confirmado pelas escavações modernas em Kalkriese, pois foram achadas as mesmas covas que o general romano mandou cavar. Inclusive, na pressa em fazer o sepultamento, já que os romanos estavam em terreno inimigo, foram enterrados ossos humanos junto com os das mulas e cavalos mortos, o que, em circunstâncias normais, jamais ocorreria.

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(Foto real dos ossos encontrados em uma dos oito poços escavados pelos soldados de Germânico, em Kalkriese)

O vívido relato de Tácito e a cena do filme vieram imediatamente à minha mente quando eu estive em Kalkriese, no final de 2008 (http://www.kalkriese-varusschlacht.de/en/).

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Há no sítio uma reconstrução da paliçada germânica e um trecho de terreno que foi escavado e reconstituído para mostrar como eram os alagados. Há também estandartes fincados com rostos humanos para lembrar os soldados romanos caídos, e um museu com os achados, onde se destacam uma máscara cerimonial de cavalaria romana e uma reconstituição facial do crânio de um soldado romano encontrado. Além de um pedaço de armadura do tipo lorica segmentata, que é o mais antigo jamais encontrado. Com efeito, acreditava-se que esse tipo de armadura tinha sido introduzido no reinado de Tibério, Calígula ou Cláudio, mas, graças a descoberta de Kalkriese, sabe-se que deve ter sido no reinado de Augusto.

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EPÍLOGO

Thusnelda foi levada para Roma e lá deu à luz ao filho de Arminius, que foi chamado de Thumelicus. Consta que Arminius lamentou muito a captura de sua esposa e de seu filho. Não se sabe qual foi o destino de Thusnelda, mas Tácito afirma que Thumelicus foi educado em Ravena e, anos mais tarde, ele sofreu uma grande humilhação, que o historiador nos alerta que iria contar em outro capítulo (infelizmente, o livro contendo essa passagem anunciada se perdeu). Alguns acreditam que o termo usado pelo historiador poderia inferir que Thumelicus pode ter virado gladiador, pois essa era considerada uma das mais baixas condições sociais em Roma.

Em 16 D.C, Germânico travou um grande batalha contra a coalizão de tribos liderada por Arminius em pessoa. Os Romanos venceram de forma arrasadora e teriam matado cerca de 20 mil Germanos, porém Arminius conseguiu escapar. Nesta ocasião, Germânico conseguiu recuperar a segunda águia perdida em Teutoburgo. Já a terceira águia, que deve ter sido encontrada escondida no pântano pelos bárbaros logo após a batalha, somente seria recapturada em 41 D.C., no reinado do imperador Cláudio.

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(Cabeça de Germânico)

Em 21 D.C, Arminius foi assassinado por rivais de sua própria tribo que, supostamente, temiam que ele quisesse virar rei (curiosamente, esse foi o mesmo pretexto para o assassinato de Júlio César). Não obstante, Tácito  nos recorda que, 100 anos depois da Batalha da Floresta de Teutoburgo, o nome dele ainda era cantado nas sagas dos Germanos.

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(Lápide do túmulo do 1º centurião da XVIII Legião, Marcus Caelius, a inscrição diz:  “Para Marcus Caelius, filho de Titus, do distrito Lemoniano de Bolonha, primeiro centurião da 18ª Legião, 53 anos de idade. Ele morreu na Guerra de Varo.  Podendo também conter os ossos dos seus libertos. O seu irmão, Publius Caelius, filho de Titus, do Distrito Lemoniano, ergueu essa lápide“. Tudo indica que Publius, o irmão do centurião TItus, estava na expedição de Germânico e conseguiu reconhecer e resgatar os ossos do irmão falecido em Teutoburgo, dando-lhes um enterro digno, junto com os libertos que o acompanhavam).

                                                                               FIM

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2 comentários em “A BATALHA DA FLORESTA DE TEUTOBURGO ( OU O DESASTRE DE VARO – CLADES VARIANA – VARUSSLACHT)

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