O CONCÍLIO DE NICÉIA E O CREDO NICENO

O CREDO NICENO

Em 19 de junho de 325 D.C., bispos cristãos reunidos no Primeiro Concílio Ecumênico da Igreja, realizado na cidade romana de Nicéia, aprovaram o chamado Credo Niceno.

O Concílio de Nicéia foi o primeiro concílio ecumênico da Igreja Cristã (isto é, uma assembleia que se propunha a congregar o maior número de bispos existentes e reuni-los para definir uma doutrina unificada para o Cristianismo), tendo sido convocado pelo próprio imperador Constantino, o Grande, que até então, embora tivesse tomado uma série de medidas favoráveis à Igreja e ao Cristianismo, ainda não havia sido batizado e se convertido oficialmente à fé cristã.

A iniciativa de Constantino foi fundamental para a realização do Concílio, uma vez que ele colocou todo o sistema de correio, transporte e estalagens imperiais à disposição dos bispos, sem o que dificilmente teria sido possível que eles se reunissem em Nicéia (atual Iznik, na Turquia).

Oficialmente, 318 bispos teriam comparecido ao Concílio de Nicéia, mas acredita-se que o número real tenha sido de pouco mais de 250 bispos, a esmagadora maioria da parte oriental do Império Romano (Somente cinco bispos seriam provenientes das sés do Império Romano do Ocidente, além de dois legados enviados pelo Bispo de Roma, o Papa Silvestre I). Entre os participantes, estavam expoentes importantes da Igreja, como Eusébio de Cesaréia, e, provavelmente, Nicolau de Mira (São Nicolau).

O grande motivo que levou Constantino a convocar o Concílio (seguindo recomendações de um sínodo presidido pelo bispo Hosius de Córdoba), foi a disputa teológica acirrada que estava sendo travada entre os defensores da doutrina pregada pelo diácono Ário de Alexandria (que veio a receber o nome de “Arianismo“) e o clero adepto da doutrina ortodoxa tradicional que vinha sendo elaborada desde os primórdios do Cristianismo. Basicamente, Ário reconhecia que Jesus era filho de Deus, mas tinha natureza essencialmente humana. Assim, por ter sido criado, necessariamente Cristo teria vindo depois de Deus (e portanto, não seria Eterno), bem como estaria, de certa forma, “abaixo” de Deus, embora acima de todos os outros seres.

Desnecessário dizer que as ideias de Ário abalavam o dogma da Santíssima Trindade, que já estava disseminado junto ao clero e aos fiéis ortodoxos.

Acredita-se que a principal motivação de Constantino para decidir concordar com a convocação do Concílio foi o fato de que as disputas teológicas entre os seguidores de Ário e da doutrina ortodoxa já estavam causando tumultos nas ruas de Alexandria, e esta divisão ameaçava se espalhar pelo Império, não tendo o imperador demonstrado ter interesse na prevalência de uma ou outra corrente.

Então, Constantino apenas declarou que aquele bispo que não seguisse a orientação que fosse tomada no Concílio seria passível de exílio.

O Concílio iniciou-se em 20 de maio de 325 D.C, sendo que em 14 de junho, o imperador compareceu em pessoa para formalmente presidir os trabalhos, mas ele não interferiu nem participou das discussões. No início, cerca de 22 bispos mostraram-se partidários da doutrina de Ário.

Em 19 de junho, após um mês de debates, as teses de Ário foram rejeitadas, sem qualquer conciliação, tendo apenas dois bispos da Líbia se recusado a adotar a profissão de fé estabelecida pela esmagadora maioria, tendo o chamado Credo Niceno ficado assim redigido:

“Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis.

Ε em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado unigênito do Pai, isto é, da substância do Pai;

Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai;

por quem foram feitas todas as coisas que estão no céu ou na terra.

O qual por nós homens e para nossa salvação, desceu, se encarnou e se fez homem.

Padeceu e ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus

Ele virá para julgar os vivos e os mortos.

E no Espírito Santo.

E quem quer que diga que houve um tempo em que o Filho de Deus não existia, ou que antes que fosse gerado ele não existia, ou que ele foi criado daquilo que não existia, ou que ele é de uma substância ou essência diferente (do Pai), ou que ele é uma criatura, ou sujeito à mudança ou transformação, todos os que falem assim, são anatematizados pela Igreja Católica.”

Não obstante, o Arianismo prosperou e os dois sucessores de Constantino no trono, seu filho Constâncio II, e Valente, seriam Cristãos Arianos. O próprio Constantino, em seu leito de morte, foi batizado por um bispo adepto do Arianismo, Eusébio de Nicomédia, que também esteve presente no Concílio de Nicéia.

Foto: Ícone retratando o Concílio de Nicéia, com Ário sendo condenado no centro. Monastério Megalo Meteoron, Grécia. Foto: By Jjensen – Own work, CC BY-SA 3.0,

Além disso, bispos arianos cristianizaram os bárbaros Godos, que dentro de cinquenta anos invadiriam o Império Romano e, cerca de trinta anos mais tarde, estabeleceriam seu reino na Hispânia romana.

Ao contrário do que muitos teóricos da conspiração e publicações sensacionalistas propagam, no Concílio de Nicéia não houve deliberações acerca de quais seriam os textos bíblicos aceitos como cânone da Igreja, nem proibição de textos evangélicos apócrifos, e muito menos qualquer intervenção do imperador Constantino no que se refere a tais questões.

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