Os 10+ Filmes sobre Roma

Desde os primórdios da arte cinematográfica, isto é, a partir da invenção do cinema pelos irmãos Lumiére, em 1895, histórias tendo como pano de fundo Roma e o Império Romano têm sido temas de roteiros de filmes.

Com efeito, já em 1899, o grande pioneiro francês da Sétima Arte, George Mélies, filmou “Cleópatra“; em 1907, os norte-americanos produziram a primeira versão de “Ben-Hur“; e, em 1910, os italianos lançaram o filme “Agripinna“, sobre a vida atribulada da célebre mãe do imperador Nero. Quatro anos depois, em 1914, o filme “Gaius Julius Caesar“, baseado na obra de Shakespeare foi produzido também na Itália.

Mas, indubitavelmente, os anos 50 e 60 foram o auge do tema “Roma”na telona, tendo a indústria cinematográfica vivido uma verdadeira “Romamania” (inserindo-se em uma moda, assim apelidada pela crítica especializada de sword-and-sandals, ou, em português, “espada e sandálias”) lançando películas que iam de grandes superproduções hollywoodianas, como “Ben-Hur” (versão de 1959), “Quo Vadis“, “Manto Sagrado“, “Spartacus” e “Cleópatra” (1963), e até mesmo uma febre de filmes sobre gladiadores, notadamente de produção italiana, abrindo um filão que foi aproveitado por atores musculosos e inclusive fisiculturistas que viraram atores (além de filmes sobre personagens mitológicos).

Não obstante, pesquisando os registros disponíveis na internet sobre filmes abordando a temática sobre Roma, podemos constatar que eles se dividem nos seguintes grandes grupos (devendo ser notado que frequentemente vários desses temas apareçam entrelaçados nos respectivos enredos):

1- Filmes sobre a vida de uma grande figura histórica romana ou ligada à História de Roma, sobressaindo, em indisputado primeiro lugar, Cleópatra, a rainha do Egito, seguida por Júlio César e por Espártaco (vale notar que filmes sobre este último também se incluem no tema “gladiadores”). Vindo bem mais atrás, aparecem Cipião, o Africano, Messalina, Agripina, a Jovem, e alguns poucos imperadores, como Calígula e Nero. Observe-se que alguns grandes inimigos de Roma também foram temas de filmes, como Aníbal e Átila, o Huno;

2- Filmes com temática central focada nos primórdios do Cristianismo, envolvendo passagens da vida de Jesus Cristo, dos Apóstolos ou de personagens fictícios, mas vivendo em ambiência romana, como “Ben Hur“, “Quo Vadis“, “O Manto Sagrado“, “Barrabás” (estes dois últimos também abarcam o tema “gladiadores”) e o “Cálice Sagrado“;

3- Filmes sobre a erupção do Vesúvio e a destruição de Pompéia, existindo vários exemplos, como “Os Últimos Dias de Pompéia“, que por si só já teve quatro refilmagens;

4- Filmes sobre gladiadores, sendo o exemplo mais famoso, o “Gladiador” (2000), de Riddley Scott, valendo citar “Demetrius e os Gladiadores“, de 1954, um precursor em Hollywood neste tema (o filme é uma continuação de “O Manto Sagrado“) e cuja temática também aborda o Cristianismo;

5- Filmes sobre a decadência e queda do Império Romano, cujo exemplo mais significativo é “A Queda do Império Romano” (1964), mas esta temática também abrange filmes mais recentes como “A Última Legião” (2007) e “Rei Arthur” (2004), com Clive Owen. Também podemos incluir o excelente “Alexandria” (2009), estrelando Rachel Weisz, nesta subcategoria.

Há também alguns filmes sobre batalhas importantes travadas pelos romanos (embora elas não estejam entre os temais mais recorrentes na telona), como por exemplo, sobre a Batalha da Floresta Teutoburgo, e o cerco à Masada. Aliás, um tema que vem tendo crescente interesse pela indústria cinematográfica, são os conflitos de romanos contra bárbaros, valendo como exemplo os dois filmes recentemente produzidos sobre o suposto desaparecimento da IX Legião na Britânia: ”Centurião” (2010) e ”A Legião Perdida” (2011) e a minissérie “Bárbaros“, da Netflix (embora a rigor, esta não seja uma produção cinematográfica, hoje em dia tal distinção está cada vez mais fluida).

Praticamente todos esses filmes (eu não me lembro de nenhum que não o tenha feito) repetem algumas idiossincrasias que são praticamente convenções na filmografia envolvendo Roma, embora sejam historicamente incorretas:

a) Soldados romanos envergando armaduras de placas articuladas (lorica segmentata) e escudos retangulares seja qual for a época: As primeiras começaram a ser usadas por volta de 9 D.C, e praticamente abandonadas por volta 250 D.C; já os segundos começaram a ser usados também por volta do início do reinado de Augusto e abandonados por volta de 250/300 D.C, no entanto, quase sempre se vê nos filmes os soldados romanos usando esses modelos em períodos anteriores ou posteriores aos mencionados (diga-se de passagem, os elmos quase sempre também são historicamente imprecisos).

b) Romanos usando uma espécie de munhequeira de couro ou de metal nos pulsos ou punhos: Não há sequer uma imagem ou estátua sobrevivente da Roma Antiga que mostre que os romanos envergassem tal ornamento nos pulsos, seja qual for o período (Alguns acham que o motivo disso seria esconder marcas deixadas pelo uso de relógio de pulso pelos atores, mas o mais provável é que seja apenas pura repetição de filmes anteriores)

c) Romanos em suas casas comendo sentados em cadeiras em torno de uma mesa: Os Romanos comiam reclinados ou mesmo deitados em triclínios, como era de costume, ao menos na elite e classes médias.

d) Gladiadores profissionais lutando até a morte sem a presença de um árbitro: Gladiadores profissionais podiam ocasionalmente morrer repentinamente em função de um golpe recebido, seja na arena ou posteriormente, mas, quando isso não ocorria, cabia ao patrocinador, ou à autoridade mais elevada presente, decidir se o perdedor seria morto (às vezes eles deixavam que o público decidisse) – algo que, no caso de lutadores profissionais não era comum. Essas lutas mais qualificadas não devem ser confundidas com aquelas travadas por condenados à morte obrigados a lutarem entre si. Na verdade, sabemos que os combates travados entre profissionais sempre tinham um árbitro que intervinha em determinadas situações, como um juiz de luta moderno.

e) Soldados romanos cavalgando cavalos com estribos: Os estribos só foram introduzidos na Europa e no Mediterrâneo entre os séculos VI e VII D.C, e somente no período do Império Romano do Oriente, chamado de Império Bizantino, quando o Império do Ocidente já havia caído. Os romanos antes disso utilizavam um tipo de sela com quatro protuberâncias, que ajudavam a dar um apoio melhor ao cavaleiro.

f) Templos e estátuas romanas de mármore imaculadamente brancos, sem qualquer pintura ornamental: As Estátuas e os detalhes arquitetônicos dos templos greco-romanos, como frisos, relevos, capitéis das colunas, entre outros, eram pintados, frequentemente, em cores vivas.

Assim, sem mais delongas, vamos aos dez filmes sobre Roma que eu considero (é uma avaliação pessoal e discricionária minha, mas claro que apreciaríamos sugestões nos comentários) os mais interessantes (atenção! contém “spoilers“):

1 – BEN-HUR (1959)

Baseado no livro de ficção “Ben-Hur, a Tale of Christ“, escrito por Lew Wallace, que já havia sido filmado em 1907 e 1925, e, no total, pelo que pude apurar na internet, teve cinco versões produzidas no total. A versão do filme dirigido por William Wyler, um dos maiores cineastas de todos os tempos (diretor de clássicos como “A Princesa e o Plebeu”, “Da Terra Nascem os Homens”, “Jezebel”, o “Morro dos Ventos Uivantes”, entre outros), foi durante muito tempo, com onze estatuetas, o longa-metragem recordista isolado em premiações do Oscar, que até hoje não foi superado (“Titanic” e o “Senhor dos Anéis, o Retorno do Rei”, posteriormente, o igualaram). Trata-se de um história em sua maior parte ambientada na Jerusalém da época do ministério público e martírio de Jesus Cristo, no início do século I D.C, durante o período romano e centrada no antagonismo entre o nobre judeu Judá Ben-Hur e o comandante da guarnição romana, Messala, que foram amigos durante a infância e adolescência de ambos, passada na aristocrática residência da família de Ben-Hur. O roteiro e a bela atuação de Charlton Heston no papel principal conseguem expressar bem a tensão existente entre uma elite judaica – já um tanto romanizada (ou, mais propriamente, helenizada) e relativamente submissa ao domínio romano, da qual faziam parte o protagonista do filme e sua família – e os anseios pela independência da Judéia, inspirados pelo patriotismo e sentimento nativista judaico, dois pólos entre os quais eles parecem oscilar. Um atentado ao novo governador da Judéia, ao qual Ben-Hur é injustamente vinculado, fazem com que ele e sua família caiam em desgraça e, em virtude disto, várias vicissitudes o fazem entrar em contato com Jesus Cristo e seus ensinamentos, afetando decisivamente a vida dele. Uma passagem não muito citada nas críticas, mas que me agrada muito, é a relação afetuosa criada entre Ben-Hur e o Comandante da Frota Romana, Cônsul Quintus Arrius, que Ben-Hur salva do naufrágio da galera onde ele havia sido condenado a servir como remador, terminando por ser adotado como filho pelo Romano, assumindo o seu nome e posição social, enquanto vivia na própria Roma. Embora haja algumas impropriedades um tanto irrelevantes no que se refere a uniformes militares, vestuário e estilos arquitetônicos, “Ben-Hur” é uma superprodução primorosa, e a trilha sonora (Miklos Rozsa), na minha opinião, é simplesmente fantástica. A cena mais eletrizante do filme é uma sensacional corrida de quadrigas, no que seria o Hipódromo de Jerusalém .

Trailer oficial de Ben-Hur

2- GLADIADOR (2000)

Dirigido pelo consagrado cineasta inglês Ridley Scott (“Alien, o 8º Passageiro”, “Blade Runner”, “Cruzada”, “Thelma & Louise”, “Napoleão”, etc), Gladiador pode ser considerado o filme que, após algumas décadas de ostracismo, ressuscitou a onda de filmes épicos com temática da Antiga Roma. Fizemos uma análise detalhada desta produção, sob o aspecto da historicidade, em nosso artigo MAXIMUS DECIMUS MERIDIUS-GLADIADOR-O QUE É FATO E O QUE É FICÇÃO?, onde apontamos algumas inconsistências e inverossimilhanças. Mesmo assim, Gladiador é seguramente um dos melhores filmes sobre Roma. O prezado leitor, caso os tenha assistido, perceberá que Ridley Scott sem sombra de dúvidas procurou inspiração em “A Queda do Império Romano“, “Spartacus” e “Ben-Hur” e, de certa forma, o filme pode ser considerado uma mistura bem-sucedida dos três filmes citados: A trama centrada no homem que cai em desgraça, tem sua família destruída e volta para se vingar no Circo ou na Arena é nitidamente inspirada em “Ben-Hur“; Já o contexto envolvendo o fim do reinado do imperador romano Marco Aurélio (Richard Harris), sua suposta preferência em entregar o poder a um general de caráter reto e confiável (Maximus, interpretado por Russell Crowe), com a finalidade de restaurar um governo republicano, em vez de ser sucedido pelo filho Cômodo (Joaquin Phoenix), que o assassina (passagem sem suporte histórico) e se torna o novo imperador, instaurando um governo inepto e corrupto, bem como o envolvimento amoroso de Lucilla (Connie Nielsen), irmã de Cômodo, com Maximus e o combate de gladiadores entre o imperador e o general foram extraídos diretamente de “A Queda do Império Romano“; E a trajetória da transformação e treinamento do general Maximus para virar gladiador ecoa claramente esta mesma parte do filme “Spartacus“. A reconstituição do Coliseu é de tirar o fôlego. O filme teve uma sequência lançada em 2024, “Gladiador 2”, que a crítica considerou bem inferior, mesma avaliação que eu tive ao assisti-lo.

Gladiador, Trailer oficial

3-A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO (1964)

O enredo do filme, de 1964, foi, conforme declarou seu próprio diretor, Anthony Mann (“El Cid”, “O Homem do Oeste”, “Winchester ’73”, etc.), inspirado no clássico livro “A História do Declínio e Queda do Império Romano“, de Edward Gibbon, escrito no século XVIII e até hoje uma das obras mais influentes sobre o tema, fruto de uma copiosa leitura sobre praticamente todas as fontes antigas existentes sobre o Império Romano, e cuja tese central é que este caiu pela corrupção interna agravada pela ação conjunta dos bárbaros e do Cristianismo. Assim como no livro, a trama se inicia no final do reinado do imperador Marco Aurélio, quando, nas palavras do historiador romano Cássio Dião: o Império regrediu “de uma época de ouro para uma de ferro e ferrugem“. No filme, assistimos o velho imperador-filósofo (interpretado por Alec Guiness), após externar o seu desejo de entregar o trono a um fiel auxiliar, o honesto general Lívio, que também era amante de sua filha, Lucilla, esperando que este implante um bom governo em prol de todos os habitantes do Império, em detrimento de seu próprio filho Cômodo (Christopher Plummer), que, transtornado, assassina o pai. Como já dissemos, as cenas iniciais do filme, retratando a sombria fronteira do Danúbio, bem como a trama central, certamente inspiraram o “Gladiador“, de Ridley Scott, mais de 45 anos depois. O ponto alto do filme, além do bom desempenho dos atores, incluindo Sophia Loren, no auge da beleza, no papel de Lucilla, é a excelente reconstituição cênica de ambientes externos e internos, destacando-se o que talvez seja a mais exata reprodução do Fórum Romano já feita nas telas (veja vídeo abaixo). Um personagem importante do filme é o liberto de origem grega Timonides (James Mason), filósofo estoico e homem de confiança de Marco Aurélio, que, junto com Lívio e Lucilla, tentam, inutilmente, convencer Cômodo a acomodar e integrar os bárbaros derrotados na campanha como cidadãos do Império Romano.

4- QUO VADIS (1951)

Baseada no livro homônimo do escritor polônes Henryk Sienkiewicz, que já havia sido filmado três vezes anteriormente à versão que estamos comentando, sendo a primeira no remoto ano de 1901, ainda na infância da Sétima Arte, a versão dirigida por Mervyn LeRoy talvez seja o maior e melhor exemplo dos filmes de temática cristã em que o cerne é o antagonismo entre a nascente religião e o Império Romano, que tenta, inutilmente, sufocá-la. No enredo, vemos o laureado general Marcus Vinicius (Robert Taylor), retornando de campanha na Britânia, apaixonar-se por Lígia (Deborah Kerr), moça nativa da região da Lygia, na Europa Central, que foi enviada à Roma como refém do Império e acolhida como filha de criação por Aulus Plautius, ex-governador da província e também general aposentado. Lígia e seu pai de criação converteram-se ao Cristianismo e ela, inicialmente, embora sinta-se atraída por ele, reluta em aceitar as investidas de Marcus, que apela a seu tio, o famoso novelista Petronius, amigo do imperador Nero, para que este intervenha junto ao imperador e ordene que a refém lhe seja entregue como esposa. Lívia acaba se apaixonando por Marcus, mas tenta convertê-lo à fé cristã, com o auxílio do apóstolo Paulo, que frequentava a casa de Aulus, mas o romano resiste. Durante o romance, acontece o terrível Grande Incêndio de Roma (64 D.C.). Nero coloca a culpa nos cristãos e ordena que sejam presos para serem executados, o que acarreta a prisão de Lígia e de seu pai de criação, que também havia se convertido. Marcus tenta salvá-los, mas também é preso. Todos deverão ser executados no Circo. Na prisão, Lígia e Marcus, que começa a aceitar a fé da amada, casam-se, em uma cerimônia celebrada pelo apóstolo Pedro, preso com eles na mesma cela, e que havia retornado à Roma, de onde havia fugido da Perseguição movida por Nero, após ouvir a voz de Jesus Cristo, quando ele já estava na Via Ápia, perguntar: “Aonde vais” (Quo Vadis?), um episódio narrado nos Atos dos Apóstolos. A imperatriz Popéia, enciumada por ter tido suas investidas sexuais rejeitadas por Marcus em razão de seu amor por Lígia, arquiteta uma maneira de executá-los com requintes de crueldade no Circo, mas a Plebe se toma de simpatia por eles, os antigos soldados subordinados de Marcus aderem, e daí a trama se entrelaça com os eventos que culminaram no suicídio de Nero e sua sucessão por Galba, que se encontrava a caminho de Roma.

Sem dúvida, a atuação brilhante de Peter Ustinov como o imperador Nero contribuiu decisivamente para tornar “Quo Vadis” um dos melhores filmes sobre o Império Romano. Ele conseguiu incorporar e transmitir vários traços da personalidade de Nero que brotam das fontes antigas: mimado, vaidoso, dramático, licensioso, inseguro, etc. Outro ponto marcante é a cena inicial do filme, onde Nero, cercado de seus cortesãos, ensaia uma ode sobre a Queda de Tróia, que na verdade se aplicaria à destruição da própria Roma: embora a letra da canção seja fictícia, a melodia que a acompanha é da única música autêntica do período romano que chegou até os nossos dias – Trata-se do “Epitáfio de Seikilos“, que foi descoberto em um mausoléu aproximadamente do século I D.C, na Turquia, onde foram gravados os versos, acompanhados da notação musical que permitiu a reconstrução da música. O belíssimo texto em grego, que, aliás constitui uma perfeita expressão da filosofia epicurista, diz:

Enquanto viveres, brilha.

De tudo não te aflijas,

Pois curta é a vida

E o tempo cobra seu tributo

Acima, inserimos um link com o vídeo da execução da canção original. E abaixo, segue o vídeo com a cena do filme:

5- SPARTACUS (1960)

Dirigido pelo magistral Stanley Kubrick (“2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “Laranja Mecânica”, “O Iluminado”, etc.), o filme conta a história de um escravo trácio que é treinado como gladiador e lidera uma revolta de escravos que põe em cheque a própria República Romana, constituindo um dos enredos sobre Roma preferidos pelos cineasta (tendo sido filmado duas vezes anteriormente e, no mínimo quatro vezes no total), dando também origem a uma série televisiva já na terceira temporada. Embora, por conveniência, tenhamos incluído o filme dentro do grupo “Gladiadores”, na verdade é um filme que ultrapassa essa temática, adentrando com relativa profundidade (para os padrões da indústria cinematográfica norte-americana) o campo da crítica social. Centrado na história real de Espártaco, o roteiro é consideravelmente baseado nas fontes originais romanas, notadamente Apiano e Plutarco, não obstante, com inclusões de alguns personagens fictícios, como o político Gracchus, a escrava Varínia e o escravo Antoninus. Assim, o filme começa com Espártaco (Kirk Douglas), um escravo trácio capturado em batalha e enviado para trabalhar nas minas, que é condenado à morte por insubmissão e chama a atenção do lanista (empresário dono de uma escola e de uma trupe de gladiadores) Lentulus Batiatus (personagem real mais uma vez brilhantemente interpretado por Peter Ustinov), que o compra e o leva para ser treinado em sua escola de gladiadores, em Cápua, de onde ele acaba fugindo, junto com seus companheiros e sua namorada, a escrava Varínia (Jean Simmons), liderando uma revolta à qual se juntam milhares de escravos da região, no decorrer da qual derrotam várias expedições militares romanas enviadas contra eles, até que o Estado resolve recorrer ao cruel e ambicioso general Marco Licínio Crasso (Sir Lawrence Olivier), que deseja o comando para subverter a democracia e assumir poderes ilimitados, fato que gera grande preocupação em seu inimigo político, Gracchus, um político defensor das liberdades públicas e dos direitos dos plebeus no Senado Romano e que simpatiza com as demandas dos revoltosos. Entre os senadores moderados que os dois rivais políticos tentam atrair para o seu lado está o jovem senador Caio Júlio César (John Gavin), também partidário da plebe, mas que teme o enfraquecimento ao poder romano decorrente da Revolta. Como se sabe, Espártaco e seus companheiros no final são derrotados militarmente, mas não sem antes fazerem um comovente libelo pela Liberdade e Justiça Social. Esta mensagem candente do roteiro escrito por Dalton Trumbo, roteirista perseguido no auge do Macarthismo nos EUA, levou a protestos da extrema-direita e de grupos anticomunistas contra a exibição do filme (Vale observar que a figura de Espártaco inspirou as Olimpíadas do bloco socialista, as chamadas “Espartaquíadas”). Outra polêmica foi causada pelas cenas que apontam a atração homossexual de Crasso pelo escravo Antoninus (Tony Curtis), sugestão também presente, de modo mais sutil, em uma cena entre Crasso e Júlio César nas termas. As cenas de batalha, com milhares de figurantes, são também muito boas (vide vídeo abaixo).

6- JÚLIO CÉSAR (1953)

Nenhuma relação de filmes sobre Roma pode estar completa sem uma película sobre o romano mais famoso que já existiu, e ninguém expressou com mais brilho os eventos dramáticos que culminaram no assassinato do Ditador Caio Júlio César do que o inglês William Shakespeare. Assim é que dos nove filmes que pesquisamos com o título “Júlio César”, pelo menos quatro são baseadas na peça homônima escrita pelo Bardo. E de todos eles, a versão de 1953 é considerada pelos críticos como a melhor. Dirigida pelo medalhão de Hollywood, Joseph L. Mankiewicz, diretor, produtor e roteirista de grandes filmes ( “A Malvada”, “A Condessa Descalça”, “Cleópatra”, etc), traz Marlon Brando, em grande atuação, como Marco Antônio, James Mason como Brutus e Sir John Gielgud como Cássio, e é, basicamente, uma encenação cinematográfica da célebre peça. Brando brilha no famoso discurso de Marco Antônio no funeral de César (vide abaixo).

7- CLEÓPATRA (1963)

A rainha egípcia figura em primeiro lugar entre os personagens da História de Roma levados às telas, com pelo menos 20 películas produzidas, inclusive um filme produzido no Brasil, em que Cleópatra foi interpretada por Alessandra Negrini. A superprodução de 1963, dirigida por Joseph L. Mankiewicz, custou tanto dinheiro que quase quebrou o estúdio Twentieth Century Fox, embora tenha sido um sucesso de público e sido indicada para nove Oscars, sendo vencedora de quatro estatuetas. O roteiro, baseado nos textos de Plutarco e Suetônio, inicia-se com a vitória de Júlio César (Rex Harrison) na Batalha de Farsália, após a qual, ele persegue seu rival Pompeu, o Grande até Alexandria, capital do Egito Ptolemaico. Ao desembarcar na cidade, César toma conhecimento que Pompeu havia sido morto pelos egípcios, e se vê obrigado a intervir na luta pelo trono travada entre o ainda menino Ptolomeu XIII e sua irmã Cleópatra (Elizabeth Taylor, deslumbrante), de quem César toma partido, após eles passarem a noite juntos. Boa parte do filme é centrada na relação amorosa entre Cleópatra e Marco Antônio (Richard Burton), até o trágico fim do casal. Na época, Elizabeth Taylor era a estrela máxima da Fox (ela recebeu pelo papel o maior cachê até então pago para uma atriz) e de certa forma ela se comportava no set quase como se fosse uma Cleópatra renascida (aliás, hoje, a escolha da superstar de pele alva como a neve e olhos azuis-violetas para interpretar Cleópatra certamente geraria polêmica nas redes sociais…), fazendo exigências e intervindo na produção do filme, e também tornou-se lendária a química entre ela e Richard Burton , e, de fato, os dois, apesar de ambos serem casados, iniciaram um tórrido romance durante as filmagens, fato que rendeu bastante publicidade. Mas seria Rex Harrison quem ganharia um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel de Júlio César. Há grandes cenas no filme, como a entrada triunfal de Cleópatra em Roma, como hóspede de César, a barcaça real de Cleópatra, a Batalha de Actium e a cena final, retratando a morte da Rainha.

8- CALÍGULA (1979)

Admitimos que muitos não concordarão com a inclusão desta versão de “Calígula” na nossa lista. De fato, este filme tem uma história conturbada. Ele foi produzido por Bob Guccione, dono e editor da revista masculina “Penthouse” e, inicialmente, parecia que a intenção era realmente produzir um filme épico com atores e roteiristas consagrados. Por exemplo, o roteiro original do filme foi escrito pelo consagrado escritor Gore Vidal, autor de romances bem densos sobre personagens e acontecimentos do Mundo Antigo e da História Americana (“Juliano”, “Criação”, “Império”, “Lincoln”, etc), mas começou sendo dirigido pelo diretor italiano Tinto Brass, que já tinha em sua filmografia filmes com conteúdo erótico. Vários atores consagrados aceitaram o convite e atuaram no filme, tais como Peter O’ Toole (Tibério), Malcolm Mcdowell (Calígula), Helen Mirren (Cesônia) e Sir John Gielgud (Nerva). A grande maioria das cenas desenvolve-se em aposentos fechados, com poucas externas, e, por isso, também não há muitos figurantes (exceto nas cenas de orgias…), mas a cenografia e os figurinos em geral são de ótima qualidade. O enredo segue fielmente o relato da Vida de Calígula escrito pelo historiador romano Suetônio. Então, a nosso ver, os que leram o texto de Suetônio não deveriam se indignar tanto com a quantidade de pornografia presente no filme. O ambiente de medo e apreensão no qual Calígula viveu ainda na adolescência, as atrocidades e a depravação que ele assistiu enquanto morou com seu tio Tibério, em Capri, as circunstâncias que resultaram na sua elevação ao trono, seu envolvimento amoroso com a própria irmã, Drusila, o seu comportamento paranóico e sua progressiva perda de contato com a realidade, resultando em seu reinado tirânico, vida devassa e assassinato, e, finalmente, os episódios de depravação e devassidão, tudo foi descrito com detalhes no livro de Suetônio, e reproduzido no filme. Todavia, o grande problema da obra foi o fato de Bob Guccione, após as filmagens terem sido concluídas, e já em trabalho de pós-produção, ter filmado e incluído várias cenas de sexo explícito encenadas com a participação de algumas “Pets” da Penthouse (como eram chamadas as modelos que posavam nuas na revista), o que, de fato, constituiu, a nosso ver, um motivo justo para os profissionais da indústria cinematográfica “mainstream” terem se sentido enganados. Devido a isso, o filme foi rejeitado por alguns participantes: Gore Vidal já havia abandonado o time durante a produção por discordâncias com Tinto Brass e este proibiu também que seu nome figurasse como diretor, e, finalmente, de modo geral, os atores mostraram contrariados. Helen Mirren, ferina, descreveu o filme como “Uma mistura irresistível de arte e genitais“. O filme também foi alvo de processos em vários países devido ao conteúdo considerado impróprio. Não obstante todas essas polêmicas, eu considero a atuação de Mcdowell no papel principal muito boa (embora muitos possam achar que ele de certa forma reproduz sua interpretação do psicopata personagem central de “Laranja Mecânica”, mesmo assim, esta cai bem em um personagem como Calígula). Para mim, o filme tem uma atmosfera sombria e surrealista que também se amolda bem ao relato de Suetônio.

9-ALEXANDRIA (2004)

Escolhemos “Alexandria“, produção espanhola falada em inglês cujo nome original é “Ágora” porque é um dos poucos filmes que retrata com fidelidade o período do Império Romano Tardio e a ascensão do Cristianismo como religião oficial do Império Romano, em detrimento da civilização clássica greco-romana e do Paganismo, nas décadas que antecederam a Queda do Império do Ocidente. O filme, dirigido por Alejando Amenábar (“Mar Adentro”, “Os Outros”) é centrado na estória da personagem histórica Hipátia de Alexandria, uma filósofa neoplatônica e professora de Filosofia, Matemática e Astronomia na Escola Neoplatônica de Alexandria, que funcionava no Mouseion (Museu), considerado por alguns como uma instituição possivelmente sucessora da famigerada Biblioteca de Alexandria. Hipátia era filha do filósofo Téon, de quem ela herdou a inteligência e o amor pela ciência e cultura clássica greco-romana - que cada vez mais se viam cercadas e atacadas pelo fanatismo das lideranças cristãs – e ela trava uma luta inglória para tentar obter apoio das autoridades seculares romanas e impedir que a Escola seja engolfada pelas disputas entre cristãos e judeus, que assolam a cidade, no final do século IV D.C. Enquanto isso, seus alunos Orestes (Oscar Isaac), que se torna o Prefeito de Alexandria, e Davus (Max Minghella), escravo de Téon, debatem-se entre o amor que eles sentem pela Filósofa e as tensões provenientes da religião a qual se converteram. Hipátia é interpretada, com muita sensibilidade, pela ótima atriz inglesa de beleza suave, Rachel Weisz, e a reconstituição da antiga Alexandria é muito bem feita.

10- RESSURREIÇÃO (2016)

Produção mais recente da nossa lista, é mais um filme passado durante o período do Império Romano que aborda temas cristãos, notadamente a prisão, execução e alegada ressurreição de Jesus Cristo. Mas o interessante neste filme é que esses eventos são vistos pela ótica de um tribuno militar romano, Clavius (Joseph Fiennes), que é encarregado pelo governador romano Pôncio Pilatos (Peter Firth) de investigar o misterioso desaparecimento do corpo de Jesus da tumba onde foi sepultado, em Jerusalém. Clavius fora o encarregado de supervisionar a crucificação de Jesus e guardar o sepulcro, e, portanto, também está diretamente interessado em descobrir e punir os culpados. Entretanto, ao proceder a investigação, entrar em contato com os apóstolos e encontrar o próprio Jesus ressuscitado, Clavius acaba sendo profundamente mudado pelos acontecimentos. Reconhecemos que, de todos os filmes relacionados, este seja o que é menos representativo como obra cinematográfica, mas achamos muito original o enredo que faz torna parte do filme similar a um filme policial ou de detetive. Como curiosidade, observamos que nunca existiu, em Roma ou no Império Romano, uma instituição policial encarregada de investigar crimes comuns. Mas havia, no Exército Romano, tropas chamadas de “speculatores” que funcionavam como batedores e faziam trabalho de reconhecimento, e, ocasionalmente espionavam o território inimigo. Mais tarde, ainda durante o Império, foi criado um corpo de “Frumentarii“, que tinham o seu próprio quartel, em Roma (Castra Peregrina) e eram encarregados de tarefas de inteligência contra opositores internos, funcionando como uma polícia secreta ou polícia política, principalmente investigando indivíduos ou grupos internos considerados perigosos pelo regime imperial. Portanto, uma missão como a dada a Clavius no filme certamente seria executada pelos Frumentarii.

“ROMA” (SÉRIE – 2005/2007) – BÔNUS

Embora, a rigor, não seja uma produção cinematográfica, mas sim uma série televisiva, eu considero impossível para o leitor interessado no tema não mencionar a série da HBO, que, infelizmente, só conseguiu ser produzida para duas temporadas, devido aos custos astronômicos.

E esses custos decorrem, em sua maior parte, da primorosa produção, que, por exemplo, investiu milhões de dólares na construção de cenários grandiosos e muito historicamente acurados nos célebres estúdios Cinecittá, na própria Roma.

Entre os principais motivos que tornam “Roma” uma série imperdível é o fato de ser a única, na minha opinião, que conseguiu chegar mais perto de como seria a Antiga Roma real do século I A.C: Uma cidade enorme para os padrões da Antiguidade, com algumas construções grandiosas, mas que cresceu quase sem planejamento nenhum, onde as multidões se espremiam pelas ruas, frequentemente sujas. Uma cidade ruidosa e multicolorida. Uma cidade onde a maioria comia na rua, em tabernas (termopólios) comidas exóticas, onde ricos aristocratas circulavam em meio a multidão de proletários e escravos tentando ganhar a vida. A série retrata bem uma República estraçalhada por conflitos sociais, corrupção disseminada e disputas políticas resolvidas na base da intimidação e violência, de certa forma como se fosse uma mistura de Washington, Brasília e Mumbai transplantados para a Antiguidade, sendo que muitos estudiosos já disseram que a política no Império Romano seria bem semelhante a de alguns países do que já foi chamado de Terceiro Mundo.

O fio condutor dos episódios são os dois personagens principais, o centurião Lucius Vorenus (Kevin McKidd) e o legionário Titus Pullus (Ray Stevenson), que servem na mesma legião sob o comando de Júlio César, na Gália, sendo que esses dois militares de fato foram expressamente mencionados por César em seus “Comentários sobre as Guerras Gálicas“, em uma passagem. Durante as duas temporadas, os dois participam diretamente de vários episódios históricos no contexto da Guerra Civil do Primeiro (César x Pompeu) e do Segundo Triunvirato (Otávio x Marco Antônio). Realmente, alguns acontecimentos são bem romanceados e outros são simplesmente inventados, mas, no geral, a série retrata bem o contexto histórico em que eles ocorreram. Ciarán Hinds talvez tenha feito a melhor interpretação de Júlio César já filmada. Outros personagens marcantes são: Atia (Polly Walker), mãe de Otávio (Mark Pirkis e Simon Woods, nas fases adolescente e adulta), que era amante de Marco Antônio (James Purefoy) e inimiga figadal de Servília (Lindsay Duncan), que por sua vez, era amante de César e mãe de Brutus (Tobias Menzies), o enteado e assassino do Ditador; Marco Túlio Cícero (David Bamber); e também: Posca (Nicholas Woodeson), escravo de César; Níobe (Indira Varma), esposa de Vorenus; e Cleópatra (Lindsay Marshal).

Os 10+ (Arcos do Triunfo)

Os arcos do triunfo são uma criação romana*, um monumento normalmente isolado (isto é, que não está ligado a outros edifícios ou inserido em uma muralha ou parede), e cujo elemento principal é a existência de uma passagem sob uma ou mais arcadas, atravessadas por uma estrada ou via (quando o arco do triunfo é em formato cúbico e apresenta um arco em cada um dos seus lados, é chamado de “Tetrápilo“, do grego Tetrapylon).

Assim, basicamente, os arcos do triunfo são estruturas retangulares ou quadradas, com um ou mais arcos em suas fachadas, decoradas com relevos e ostentando uma inscrição comemorativa no ático (parte superior de uma construção, que fica acima das cornijas, na frente do telhado, ocultando este) erguidos sobre caminhos que os atravessavam, e em cujo topo havia um grupo de estátuas. A criação dos arcos do triunfo decorre do antigo costume romano de realizar uma procissão triunfal (Triunfo) pelas ruas da cidade de Roma, por ocasião das vitórias militares obtidas contra seus inimigos, onde desfilavam o general vitorioso e suas tropas vitoriosas, acompanhadas do produto do saque e dos chefes inimigos eventualmente capturados. Essa procissão também tinha um caráter religioso.

Mais tarde, durante o Império, arcos do triunfo também foram erguidos para homenagear a pessoa do imperador, não necessariamente em função do sucesso em alguma guerra (vale citar que, a partir de Augusto, os Triunfos eram exclusivos dos imperadores). Durante a República, os arcos do triunfo não eram erguidos para serem permanentes, e geralmente, no início, eram feitos de madeira (e eram então chamados de “fornices”, plural de “fornix“). Os arcos em alvenaria, revestidos de mármore, que chegaram aos dias de hoje, são do período imperial. 

A construção de arcos do triunfo espalhou-se por todo o Império e praticamente toda cidade que se prezasse construiu um. Após a Queda do Império Romano, a prática reviveu durante o período carolíngio e, principalmente, durante a Renascença. Depois disso, quase todos governantes que se propuseram a exaltar a sua própria grandeza ou a de seu país ergueram arcos do triunfo ao redor do mundo, sendo o mais famoso, o Arco do Triunfo de Paris, erguido por Napoleão, mas eles existem também, entre outros inúmeros lugares, como Moscou, Berlim, Londres, Nova York e até em Pyongyang, na Coréia do Norte.

*Nota: Os romanos não inventaram o arco e provavelmente o assimilaram da arquitetura etrusca, mas não há registro de algum povo que os tenha precedido ao construí-los do mesmo modo e com o mesmo propósito dos seus arcos triunfais.

Dito isso, sem mais delongas, vamos àqueles que eu considero os arcos do triunfo romanos sobreviventes mais bem preservados e/ou impressionantes (OBS: trata-se de uma seleção discricionária minha, e a posição na lista não indica primazia. Aceitamos outras sugestões nos comentários).

1- Arco de Tito, em Roma

Foto Jebulon, CC0, via Wikimedia Commons

Decidimos começar nossa relação pelos três arcos mais importantes sobreviventes na cidade de Roma, e destes, o Arco de Tito é o mais antigo.

O Arco de Tito foi erguido após a morte deste imperador, cujo reinado foi pelo seu irmão e sucessor, Domiciano, em 81 D.C, no Fórum Romano, para comemorar tanto a deificação do querido e finado Tito (que reinou por menos de dois anos e cuja morte foi muito pranteada pelo Senado e pelo povo), quanto a vitória que este obteve ao conquistar Jerusalém, ainda durante o reinado do pai de ambos, Vespasiano, na Guerra da Judéia, em 70 D.C.

Composto por um arco singelo, ladeado por quatro colunas coríntias, é uma construção elegante, com cerca de 15 m de altura e 13 metros de largura. Uma de suas características mais notáveis são os painéis de relevo nas paredes sob o arco, retratando a procissão triunfal com os despojos do Templo de Jerusalém, incluindo o célebre candelabro de sete braços (Menorá).

A inscrição original diz: 

“SENATVS POPVLVSQVE ROMANVS . DIVO TITO · DIVI · VESPASIANI · F(ILIO) VESPASIANO · AVGVSTO”

(“O Senado e o Povo de Roma (ao) Divino Tito Vespasiano Augusto, filho do divino Vespasiano Augusto”)

2- Arco de Septímio Severo, em Roma

Foto A. Hunter Wright, CC BY-SA 3.0 http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/, via Wikimedia Commons

Este arco foi construído no Fórum Romano, quase na frente à Cúria do Senado, em 203 D.C, e dedicado à vitória do imperador Septímio Severo, e seus filhos, Caracala e Geta, na campanha contra os Partas.

O Arco de Septímio Severo tem cerca de 23 m de altura e 25 m de largura, e é composto de um arco central maior ladeado por dois arcos laterais menores, entremeados por quatro colunas em estilo compósito, e tem sua fachada, bem como as paredes interiores dos arcos, ricamente decoradas por relevos retratando a campanha, sendo que nos ‘tímpanos” (espaços triangulares entre a moldura quadrada onde o arco se insere e este) foram esculpidas vitórias aladas carregando trófeus de despojos dos inimigos. Infelizmente, os relevos externos encontram-se bastante erodidos pelo tempo e pelas intempéries.

Como curiosidade, nota-se que as efígies retratando Geta, o filho mais novo de Septímio Severo, foram intencionalmente apagadas em função da “damnatio memoriae” (condenação de uma pessoa a ter sua imagem excluída dos registros e monumentos públicos) decretada pelo Senado Romano por ordem de seu irmão e assassino, Caracala.

A inscrição dedicatória existente no ático deste arco diz:

IMP · CAES · LVCIO · SEPTIMIO · M · FIL · SEVERO · PIO · PERTINACI · AVG · PATRI PATRIAE PARTHICO · ARABICO · ET PARTHICO · ADIABENICO · PONTIFIC · MAXIMO · TRIBUNIC · POTEST · XI · IMP · XI · COS · III · PROCOS · ET IMP · CAES · M · AVRELIO · L · FIL · ANTONINO · AVG · PIO · FELICI · TRIBUNIC · POTEST · VI · COS · PROCOS · (P · P · OPTIMIS · FORTISSIMISQVE · PRINCIPIBUS) OB · REM · PVBLICAM · RESTITVTAM · IMPERIVMQVE · POPVLI · ROMANI · PROPAGATVM · INSIGNIBVS · VIRTVTIBVS · EORVM · DOMI · FORISQVE · S · P · Q · R.

(“Ao Imperador César Lúcio Septímio Severo Pio Pertinax Augusto Pártico Arábico Adiabênico, filho de Marco, Pais da Pátria, Pontífice Máximo, no décimo-primeiro ano do seu Poder Tribunício, no décimo-primeiro ano de seu governo, Cônsul por três vezes, e Procônsul, e ao Imperador César Marco Aurélio Antonino Augusto Pio Feliz, filho de Lúcio, no sexto ano de seu Poder Tribunício, Cônsul e Procônsul, Pais da Pátria, melhores e mais fortes Príncipes, por conta da restauração da República e extensão do Império do Povo Romano propagados pela sua insigne virtude, em casa e no exterior, o Senado e Povo Romano (dedicam este monumento”).

3- Arco de Constantino, em Roma

Foto Paris Orlando, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

Foi dedicado em 25 de julho de 315 D.C para comemorar a vitória do imperador Constantino sobre seu rival Maxêncio, na Batalha da Ponte Mílvio, em 312 D.C., entre o Coliseu, o sopé da colina do Palatino e o Templo de Vênus e Roma. Segue o estilo arquitetônico do Arco de Septímio Severo, com um arco principal ladeado por dois arcos menores, só que entremeados por quatro colunas em estilo coríntio. Alguns estudiosos sugerem que este arco teria sido construído por Adriano ou Maxêncio, e remodelado após a vitória de Constantino, para homenageá-lo. Embora seja um dos mais imponentes (e bem preservados) arcos do triunfo que sobreviveram, na verdade o Arco de Constantino foi decorado com relevos e estátuas retiradas de monumentos mais antigos, erguidos pelos imperadores Trajano, Adriano e Marco Aurélio, tendo algumas cabeças sido retrabalhadas para representar Constantino. Um elemento notável que foi reutilizado neste Arco, que já referimos em nosso artigo sobre Antínoo é o “tondo” (painel circular) retratando uma caçada a um leão realizada por Adriano e seu amante, um episódio real no qual Adriano salvou a vida de Antínoo. Para muitos estudiosos, a necessidade de retirar peças de monumentos antigos seria uma prova do declínio da arte da escultura ocorrida no período do Império Romano Tardio, dentro de um quadro geral de decadência técnica e artística, o que para outros seria um tanto discutível, já que grandes obras arquitetônicas e artísticas foram produzidas nesta época, ainda que abandonando os canônes da arte clássica.

O Arco de Constantino tem cerca de 21m de altura e 26 de largura.

A inscrição dedicatória existente no ático deste arco, originalmente feita com letras de bronze, está escrita assim:

“IMP(eratori) · CAES(ari) · FL(avio) · CONSTANTINO · MAXIMO · P(io) · F(elici) · AVGVSTO · S(enatus) · P(opulus) · Q(ue) · R(omanus) · QVOD · INSTINCTV · DIVINITATIS · MENTIS · MAGNITVDINE · CVM · EXERCITV · SVO · TAM · DE · TYRANNO · QVAM · DE · OMNI · EIVS · FACTIONE · VNO · TEMPORE · IVSTIS · REMPVBLICAM · VLTVS · EST · ARMIS · ARCVM · TRIVMPHIS · INSIGNEM · DICAVIT”

(“Ao imperador César Flávio Constantino, o maior, pio e bendito Augusto, porque ele, inspirado pelo Divino, e pela grandeza de sua mente, livrou o Estado do tirano e de todos os seus seguidores ao mesmo tempo, com seu Exército e pela força justa das armas, o Senado e o Povo de Roma dedicaram este Arco, decorado com triunfos”).

Muitos estudiosos acreditam que a incomum alusão à inspiração de Constantino pelo “Divino” constituiu já uma alusão sutil â sua devoção ao Cristianismo, ou ao menos, um prenúncio da sua conversão (que somente seria oficializada com seu batismo no leito de morte, em 337 D.C). Outros consideram que a expressão utilizada é propositadamente ambígua, de modo a não desagradar tanto os cristãos como os pagãos. Vale lembrar que as fontes relatam que, antes da Batalha da Ponte Mílvio, Constantino teria tido uma visão ou um sonho no qual uma cruz de luz apareceu no céu, acompanhada da inscrição “In hoc signus vinces” (“Neste sinal, vencerás”).

4- Arco de Trajano, em Benevento, Itália

Foto Decan, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

Este arco, um dos mais bem preservados entre todos os arco romanos sobreviventes, foi construído entre 114 e 117 D.C., comemorando as vitórias do imperador Trajano contra os Dácios (provavelmente também adicionando-se posteriormente elementos relativos às suas vitórias contra os Partas), e tem 15,60 m de altura por 8,60 de largura. Podemos considerá-lo um tipo intermediário entre o Arco de Tito e o Arco de Septímio Severo, tendo apenas um grande arco central com a fachada coberta de relevos, dos quais os mais interessantes são os que retratam o imperador distribuindo pães para crianças pequenas nos ombros dos seus pais, uma alusão ao programa dos Alimenta, instituído por Trajano em favor da população pobre da Itália.

Consta de sua inscrição dedicatória o seguinte texto:

IMP(peratori) CAESARI DIVI NERVAE FILIO NERVAE TRAIANO OPTIMO AUG(usto) GERMANICO DACICO PONTIF(ici) MAX(imo) TRIB(unicia) POTEST(ate) XVIII IMP(eratori) VII CO(n)S(uli) VI P(atri) P(atriae) FORTISSIMO PRINCIPI SENATUS P(opulus) Q(uo) R(omanus)”.

(“Ao Imperador César filho do Divino Nerva, Nerva Trajano, o melhor Augusto, Germânico Dácico, Pontífice Máximo, no décimo oitavo ano de seu Poder Tribunício, sete vezes aclamado imperador, seis vezes escolhido Cônsul, Seis Vezes aclamado Pai da Pátria, Princípe mais forte, o Senado e Povo de Roma (dedicam este monumento”).

5- Arco de Germânico, Saintes, França

Foto By Propre travail – Own work, CC BY-SA 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1965184

Este é um arco dedicado não apenas a um imperador, mas a um integrante da família imperial, Germânico, o sobrinho-neto de Augusto, que, ao adotar seu enteado Tibério, obrigou este, por sua vez a adotar o primeiro como herdeiro. O arco também é dedicado a este imperador e ao filho deste, Druso, mas estas inscrições encontram-se bem erodidas.

O Arco de Germânico foi construído na cidade de Saintes, França, então conhecida como Mediolanum Santonum, na Província da Gália Aquitânia, entre os anos 18 e 19 D.C, por iniciativa e às custas de um provincial importante, Caius Julius Rufus, e, originalmente, ficava no término da estrada que ligava Saintes a Lugdunum (atual Lyon), às margens do rio Charente. Mede 15 m de altura por 15,9 m de largura e possui dois arcos do mesmo tamanho, lado a lado.

Há uma inscrição dedicatória do monumento e outra inscrição alusiva ao financiador do monumento:

GERMANICO [CAESA]R[I] TI(berii) AUG(usti) F(ilio)
DIVI AUG(usti) NEP(oti) DIVI IULI PRONEP(oti)
[AUGU]RI FLAM(ini) AUGUST(ali) CO(n)S(uli) II IMP(eratori) II

(“A Germânico César, filho de Tibério Augusto, neto do divino Augusto, bisneto do divino Júlio, áugure, sacerdote dos augustais, Duas vezes Cônsul, aclamado imperador duas vezes“).

C(aius) IVLI[us] C(aii) IVLI(i) OTUANEUNI F(ilius) RVFVS C(aii) IVLI(i) GEDOMONIS NEPOS, EPOTSOVIRIDI PRON(epos) [SACERDOS ROMAE ET AUG]USTI [AD A]RAM QU[A]E EST AD CONFLUENT[E]M, PRAEFECTUS [FAB]RUM, D(at).

(Dado por Caius Julius Rufus, filho de Caius Julius Otuaneunus, neto de Caius Julius Gedemonius, bisneto de Epotsovirid(i)us, sacerdote do Culto de Roma e Augusto no altar de Confluens, prefeito dos trabalhos)”.

Esta é uma inscrição muito interessante porque nela podemos ver uma expressão do processo de romanização da Gália iniciado com a conquista por Júlio César. O bisavô, Epotosvirid, é mencionado com seu nome unicamente gaulês, já o seu filho, provavelmente o primeiro integrante da família a receber a cidadania romana, e seus netos, assumem prenomes romanos e o “nomen” da gens Júlia, em homenagem ao conquistador da Gália, como era comum no Mundo Romano, ainda acompanhados de um gentílico gaulês. Já o bisneto, o doador do monumento, Gaius Julius Rufus é apresentado com os seus três nomes na forma tradicional romana (tri nomina) completamente romanizados. Era característico da colonização romana manter as lideranças locais que aderiam aos conquistadores na condição de magistrados governantes das cidades, por isso, a família de Rufus provavelmente já devia ser da nobreza gaulesa mesmo da Conquista da Gália por César, o que, implicitamente, é orgulhosamente afirmado pela menção ao bisavô. Observe-se que “Confluentem” refere-se à Lugdunum (Lyon), que fica na confluência dos rios Ródano e Saône.

6- Arco dos Sérgios, Pula, Croácia

Foto By Sailko – Own work, CC BY 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=68380995

Escolhemos este arco (que na verdade é um arco funerário), porque ele é um dos raríssimos arcos sobreviventes dedicados não a um imperador ou membro da família imperial, mas a integrantes de uma família da elite, no caso, da cidade de Pola (atual Pula, na Croácia), que foi elevada ao status de colônia entre 45 e 46 A.C., durante a ditadura de Júlio César. Com efeito, as inscrições existentes no arco contam que ele foi erguido às expensas de Sálvia Póstuma Sérgia, provavelmente esposa (ou mãe) de Lúcio Sérgio Lépido, filho de Lúcio, que foi Edil (magistrado da cidade) e Tribuno Militar da Legião XXIX, e que deve ter falecido na Batalha de Actium, em 31 A.C. Poucos anos depois, o imperador Augusto, em 27 A.C., dissolveu a XXIX Legião, dentro do seu projeto de manter apenas 28 legiões compondo o Exército Romano. Portanto, estudiosos estimam que o arco deve datar aproximadamente do ano da dissolução da referida legião. Além dos dois, o Arco dos Sérgios também ostenta inscrições em memória de Lúcio Sérgio e Cneu Sérgio, filhos de Caio Sérgio, sendo o primeiro o pai de Lúcio Sérgio Lépido, e o segundo, tio deste. As inscrições e as marcas existentes no topo do ático implicam que deveria haver estátuas dos quatro indivíduos mencionados dominando o monumento.

Devemos observar que é um fato muito raro a dedicação de um arco do triunfo a alguém que não fosse imperador ou seu familiar, entretanto, no início do reinado de Augusto, sabe-se que houve a construção de arcos dedicados a heróis militares caídos, sendo apontada a existência de um arco erigido em homenagem a Nero Cláudio Druso, morto em campanha contra os bárbaros em 9 A.C, na Germânia (em função da queda do cavalo). Druso era enteado de Augusto e irmão do seu futuro sucessor, Tibério. Neste mesmo ano, o Senado decretou a construção de um arco honorário em sua homenagem (o qual não chegou até os nossos dias). E, de fato, há elementos decorativos no Arco dos Sérgios que denotam que se trata de um monumento a um herói caído em uma batalha vitoriosa. Mais informações sobre este arco podem ser obtidas neste ótimo artigo na revista Histria Archeol., no link https://hrcak.srce.hr/file/390387.

As inscrições existentes no arco são:

Salvia Postuma Sergi (uxor) de sua pecunia

L(ucius) Sergius C(ai) f(ilius), aed(ilis), (duo)
vir (L).
L(ucius) Sergius L(uci) f(ilius) Lepidus, aed(ilis), tr(ibunus)
mil(itum) leg(ionis) XXIX (M).T

Cn(aeus) Sergius C(ai) f(ilius), aed(ilis),
(duo)vir quinq(uennalis) (N).

Salvia Postuma Sergi (uxor)

(Salvia Postuma Sérgia, esposa, com seu (próprio) dinheiro; Lúcio Sérgio, filho de Caio, edis, duúnviros; Lúcio Sérgio Lépido, filho de Lúcio, edis, tribuno militar da XXIX Legião; Cneu Sérgio, filho de Caio, edis, duúnviros quinquenais; Salvia Postuma Sérgia, esposa)

7- Arco de Septímio Severo, Leptis Magna, Líbia

Foto By Daviegunn – self-made by David Gunn, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2217905

Um exemplo de arco do tipo “tetrapylon“, isto é com quatro arcos, um em cada fachada da estrutura quadrada sobre duas passagens em ângulos retos, o Arco de Septímio Severo, com 16 m de altura, foi construído por este imperador (193-211 D.C) em Leptis Magna, sua cidade natal na Província da África, que foi especialmente agraciada por ele com a construção de diversas obras públicas grandiosas. Acredita-se que o arco deve ter sido inaugurado por ocasião da visita que o imperador fez à cidade, em 203 D.C. O monumento comemora a vitória obtida contra os Partas, o que se infere de alguns relevos retratando estes inimigos, mas também homenageia a própria família real. Somente em 1928 o Arco de Septímio Severo foi escavado, em ruínas e com parte de seus relevos dispersos pela cidade, sendo reconstituído com o auxílio dos arqueólogos. Praticamente toda a inscrição dedicatória deste arco se perdeu, remanescendo apenas as palavras “divo” (divino), certamente referente ao próprio imperador Severo, e “diva” (divina), provavelmente alusiva à imperatriz Júlia Domna, esposa dele.

8- Arco de Augusto, Susa, Itália

Foto By Duvilar (Lorenzo Rossetti) – photo taken by Duvilar (Lorenzo Rossetti), CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1138377

Trata-se de um arco do triunfo bem modesto, comparado com os outros de nossa relação, mas muito significativo, pelo motivo que explicaremos abaixo.

O Arco de Augusto foi erguido por Marcus Julius Cottius um líder de várias tribos ou povoados celto-lígures situados nos Alpes Cócios (assim batizados em razão do nome dele), na região do Piemonte, na atual província de Turim, no começo do reinado do imperador Augusto, no final do século I A.C, provavelmente por volta do ano 12 A.C. O Arco mede 11,93 m de altura por 7,3 m de largura.

A inscrição dedicatória do monumento relata:

IMP · CAESARI · AVGVSTO · DIVI · F · PONTIFICI · MAXVMO · TRIBVNIC · POTESTATE · XV · IMP · XIII · M · IVLIVS · REGIS · DONNI · F · COTTIVS · PRAEFECTVS · CEIVITATIVM · QVAE · SVBSCRIPTAE · SVNT · SEGOVIORVM · SEGVSINORVM · BELACORVM · CATVRIGVM · MEDVLLORVM · TEBAVIORVM · ADANATIVM · SAVINCATIVM · ECDINIORVM · VEAMINIORVM · VENISAMORVM · IEMERIORUM · VESVBIANIORVM · QVADIATIVM · ET · CEIVITATES · QVAE · SVB · EO · PRAEFECTO · FVERVNT

(“Ao Imperador Augusto, filho do Divino César, Pontífice Máximo, no exercício do Décimo Quinto Ano de seu Poder Tribunício, Treze Vezes Aclamado Imperador, (dedicado) por Marcus Julius Cottius, filho do rei Donnus, Governador das cidades dos Segovii, Segusini, Belaci, Caturiges, Medulli, Tebavii, Adanates, Savincates, Ecdinii, Veaminii, Venisamores, Iemerii, Vesubianii e Quadiates, e pelas cidades acima referidas, sob (a autoridade d)este Governador”)

Eu considero que esta inscrição é que torna o Arco de Augusto tão interessante, uma vez que ela demonstra como foi demorada e complexa a assimilação das tribos alpinas pelo Estado Romano. Sabemos quo rei Donnus,, pai de Marcus Julius Cottius, que dedicou este arco, fez um acordo com Júlio César, para permitir a passagem das tropas dele para a Gália. A inscrição contida no Arco de Augusto corrobora que Marcus Julius Cottius continuou sendo a autoridade na região, agora convertido em governador (Praefectus) romano. Inclusive, o filho dele, Gaius Julius Donnus II, e seu neto, Marcus Julius Cottius II foram seus sucessores (o cargo de governador romano não era hereditário), sendo que a região continuou a ser referida como “Reino dos Cócios” pelos historiadores romanos. E, para consagrar a surpreendente condição autônoma que esta região setentrional da atual Itália, tão próxima de Roma, conseguiu conservar, vale mencionar que, efetivamente, Marcus Julius Cotius II teve restaurado o título de rei, detido por seu mencionado bisavô, durante o reinado do imperador Cláudio.

9- Arco dos Gávios, Verona, Itália

Foto Andrea Bertozzi, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

É, junto com o Arco dos Sérgios, um raríssimo exemplar sobrevivente de um arco que comemora uma família privada. Os Gávios eram uma família proeminente de Verona, provavelmente conectados a gens Gavia, de Roma, que originalmente era de origem plebéia. Em algum momento durante a metade do século I D.C, algum membro da família dos Gávios comissionou a construção do Arco que leva o nome deles, em Verona, ou a Municipalidade o construiu em honra de quatro membros da família cujos nomes foram insculpidos no monumento, afinal, esta obra de fato obedece os 3 atributos que um edifício deveria possuir, segundo Vitrúvio: firmitas (força), utilitas (utilidade) e venustas (beleza)…

O Arco dos Gávios foi construído sobre a Via Postumia, estrada romana que ligava Gênova a Aquileia, passando por Verona, do lado de fora das muralhas da cidade, e mede 12,69 m de altura por 10,96 de largura.

O que torna tão interessante este arco é o fato de ser o único em que consta o nome do seu arquiteto: Lucius Vitruvius Cerdo, liberto de Lucius. Outro Vitrúvio, o célebre arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio escreveu o único tratado de arquitetura sobrevivente da Antiguidade (De architectura), entre 30 e 20 A.C., e é uma possibilidade instigante que Lucius Vitruvius Cerdo possa ter sido um liberto da família do grande arquiteto, que aprendeu com eles o ofício.

O Arco dos Gávios ostenta as seguintes inscrições sobreviventes:

CURATORES L[ARUM] V[ERONENSIUM IN HONOREM …] GAVI CA… DECURIONUM DECRETO.

(“Curadores dos L[ares] de V[erona] em honra…Gávios Ca… (Por) Decreto dos Decuriões”).

Nos pedestais dos nichos existentes no Arco, que originalmente continha estátuas dos homenageados, constam os nomes de quatro membros da família dos Gávios, sendo ainda legíveis os nomes de Caius Gavio Strabo e Marcus Gavio Macrone, filhos de Caius Gavio, e de Gavia, filha de Marcus Gavio.

A outra inscrição, já mencionada, menciona o arquiteto do monumento:

L(UCIUS) VITRUVIUS L(UCI) L(IBERTUS) CERDO ARCHITECTUS.

(“L(ucius) Vitruvius Cerdo, Liberto de Lucius, Arquiteto”)

10- Arco Triunfal de Orange, Orange, França

Foto: Carole Raddato from FRANKFURT, Germany, CC BY-SA 2.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0, via Wikimedia Commons

O Arco Triunfal de Orange foi construído provavelmente por ordem do imperador Augusto na cidade romana de Arausio (Colonia Julia Firma Secundanorum Arausio), fundada em 35 A.C para acomodar veteranos da Legião II Sabina, no lugar de um antigo povoado gaulês. Esta Legião teria sido recrutada por Pompeu, o Grande ou por Júlio César, e após o assassinato deste, lutou ao lado do Segundo Triunvirato, terminando por aderir à causa do herdeiro escolhido por César, seu sobrinho-neto Otaviano, o futuro imperador Augusto, que rebatizou-a como Legião II Augusta. Acredita-se que o Arco tenha sido erguido em meados do reinado de Augusto (27 A.C-14 D.C), e, posteriomente, sofrido uma remodelação no reinado de seu sucessor Tibério, em 27 D.C., provavelmente por ter sido danificado, embora não saibamos a causa. O Arco mede 19,22m de altura por 19,57 de largura, e por baixo dele passa a Via Agrippa, construída por Marco Vipsânio Agripa, braço-direito de Augusto, ligando várias cidades romanas da Gália, entre 39 A.C e 13 A.C (as estimativas variam).

Este monumento é caracterizado por elaborados relevos, retratando cenas de batalhas entre romanos e celtas e entre romanos e germanos, e troféus de armas e armaduras bárbaras, muito bem detalhados, obtidos pelos romanos nestes combates, além de elementos alusivos à batalhas navais. Os elementos relativos aos germânicos teriam sido acrescentados para homenagear as vitórias obtidas por Germânico, filho adotivo de Tibério, na Germânia, que morreu em 19 D.C., e os navais seriam originais da construção do monumento e fariam referência à Batalha de Actium, da qual teriam participado os veteranos da Legião II Augusta.

Somente a inscrição dedicatória do reparo ou reconstrução feitos por Tibério sobreviveu, e a mesma diz:

TI • CAESAR • DIVI • AVGVSTI • F • DIVI • IVLI • NEPOTI • AVGVSTO • PONTIFICI • MAXIPOTESTATE • XXVIII • IMPERATORI • IIX • COS • IIII • RESTITVIT • R • P • COLONIAE (or RESTITVTORI • COLONIAE) 

(A Tibério César, filho do Divino Augusto, neto do Divino Júlio, Augusto, Pontífice Máximo, exercendo o Poder Tribunício pela vigésima oitava vez, aclamado Imperador pela oitava vez, em seu quarto consulado, que o restaurou ao patrimônio da Colônia”)

Finalmente, devemos mencionar que o leiaute deste arco possivelmente inspirou o do Arco de Septímio Severo.

Os 10+ (Teatros)

O Teatro, em sua acepção como uma manifestação cultural envolvendo declamações de texto, interpretação de papéis e canções, execução de músicas e, às vezes, de danças coreografadas, normalmente seguindo um roteiro, realizadas em um espaço determinado (cena ou palco), frequentemente tendo como pano de fundo imagens pintadas, objetos e esculturas relacionados com a história contada, e performado na presença de espectadores, foi inventado na Grécia Antiga (embora manifestações semelhantes tenham surgido em outras regiões, como a Índia e a China).

“Importante observar, no entanto que a palavra grega “Theatron” não se refere à atividade artística em si, mas sim ao local onde ela era apresentada. Assim, teatro, em grego, significa “lugar de ver”. Portanto, a palavra teatro refere-se, especificamente, ao local onde os espectadores se sentavam, em arquibancadas geralmente escavadas, em formato semicircular, em uma encosta mais alta em relação ao espaço circular onde os artistas encenavam as tragédias gregas (chamado de “orchestra“, ou “orquestra”). Normalmente, atrás da orquestra, ficava uma parede onde se colocavam murais e objetos que ajudavam a contextualizar a ação que os artistas interpretavam, e que recebia o nome de skené, ou “cena”, de onde deriva a palavra “cenário”. E a parede da cena também servia para que os artistas se trocassem atrás dela, escondidos dos olhares do público. Mais tarde, com o aumento da complexidade das peças, os teatros gregos também passaram a ter um muro separando a orquestra da cena, que era chamado de “paraskenia“, normalmente decorado com imagens em relevo. Isso criou um espaço elevado elevado exatamente atrás da orquestra, que recebeu o nome de “proskenium” (proscênio, com o significado literal de “em frente à cena”). Esses, então, eram os componentes básicos da arquitetura de um teatro grego. Vale observar que havia construções similares, porém menores e geralmente fechadas, destinadas a recitais de poesia e exibições de canto ou de instrumentos musicais, chamadas de odeons””Importante observar, no entanto que a palavra grega “Theatron” não se refere à atividade artística em si, mas sim ao local onde ela era apresentada. Assim, teatro, em grego, significa “lugar de ver”. Portanto, a palavra teatro refere-se, especificamente, ao local onde os espectadores se sentavam, em arquibancadas geralmente escavadas, em formato semicircular, em uma encosta mais alta em relação ao espaço circular onde os artistas encenavam as tragédias gregas (chamado de “orchestra“, ou “orquestra”). Normalmente, atrás da orquestra, ficava uma parede onde se colocavam murais e objetos que ajudavam a contextualizar a ação que os artistas interpretavam, e que recebia o nome de skené, ou “cena”, de onde deriva a palavra “cenário”. E a parede da cena também servia para que os artistas se trocassem atrás dela, escondidos dos olhares do público. Mais tarde, com o aumento da complexidade das peças, os teatros gregos também passaram a ter um muro separando a orquestra da cena, que era chamado de “paraskenia“, normalmente decorado com imagens em relevo. Isso criou um espaço elevado elevado exatamente atrás da orquestra, que recebeu o nome de “proskenium” (proscênio, com o significado literal de “em frente à cena”). Esses, então, eram os componentes básicos da arquitetura de um teatro grego.

Vale observar que os gregos também erguiam construções similares, porém menores e geralmente fechadas, destinadas a recitais de poesia e exibições de canto ou de instrumentos musicais, chamadas de “odeons” (do grego, “aeido”, ou seja, canto, de onde surgiu a palavra “ode”).

Os Romanos, ao entrarem em contato com a cultura grega, introduziram o teatro ainda durante os primeiros séculos da República. Lívio Andrônico, um dramaturgo nascido em Tarento, cidade da chamada “Magna Grécia!, no sul da Itália, foi o maior expoente do teatro romano, no século III A.C. Nessa época, Plauto também destacou-se como autor de comédias, tendo algumas peças dele sobrevivido até os nossos dias.. E, já no Império, o filósofo Sêneca, o Jovem, escreveu várias tragédia, que influenciaram até mesmo dramaturgos europeus, como Shakespeare e Racine. Porém, ainda durante o Império, a popularidade de tragédias e comédias elaboradas diminuiu, e o público preferia assistir mimes (comédias burlescas escrachadas).

Após os Romanos conquistarem a maior parte da Grécia, durante os séculos II e I A.C, vários artistas e dramaturgos foram trazidos para Roma. Inicialmente, os teatros romanos eram de madeira e, de acordo com a lei romana, eles destinavam-se a serem estruturas temporárias, mas com o enriquecimento da República, surgiu a necessidade de edifícios permanentes, que foram construídos seguindo o modelo grego, mas adaptado a peculiaridades romanas.

A ausência de colinas com a topografia adequada para abrigar as arquibancadas na cidade de Roma, somada à maestria dos romanos em erguerem construções sobre arcos e à tecnologia do concreto romano permitiram que os engenheiros romanos preferissem construir os teatros romanos sobre uma estrutura apoiada em arcadas.

As arquibancadas, isto é, o setor semicircular elevado onde o público sentava em degraus, era chamado pelos romanos de “cavea“. O fato desta ser construída sobre arcadas favorecia que a cena (em latim, scaenae frons) fosse mais alta que nos teatros gregos, e formasse um espaço fechado com a cavea, resultando que os teatros romanos podiam ser inteiramente contidos dentro de um muro exterior contínuo. E essas são as duas principais características que distinguem os teatros romanos dos gregos, muito embora os romanos, algumas vezes continuassem construindo, quando o terreno permitia, arquibancadas apoiadas em encostas. O muro que separava a orquestra do palco, frequentemente decorado com elaborados relevos, era chamado de “pulpitum. Era comum que os espectadores sentados na cavea fossem protegidos do sol inclemente por uma estrutura retrátil que estendia uma cobertura de tecido ou lona (velarium), que também era utilizada nos anfiteatros. Outra característica encontrada nos teatros romanos, compartilhada com os anfiteatros, possibilitada pela sua estrutura construída em alvenaria, era que o acesso dos espectadores poderia se dar pelo interior da mesma, com a entrada e saída da cavea por meio de passagens e aberturas, chamadas de “vomitoria“.

Dito isso, sem mais delongas, vamos àqueles que eu considero os templos romanos sobreviventes mais bem preservados e/ou impressionantes (OBS: trata-se de uma seleção discricionária minha, e a posição na lista não indica primazia. Aceitamos outras sugestões nos comentários).

1- Teatro de Aspendos (Aspendos, Turquia)

Considerado por muitos o teatro romano em melhor estado de conservação, o Teatro de Aspendos foi construído durante o reinado do imperador romano Marco Aurélio (161-180 D.C), e a sua construção foi providenciada pelos irmãos Curtius Crispinus e Curtius Auspicatus, que provavelmente deviam ser magistrados integrantes do conselho municipal. O seu arquiteto foi Zenão. Infelizmente, não sabemos mais detalhes sobre os personagens citados. A capacidade do teatro é estimada entre 7 mil e 13 mil espectadores. Parte da cavea repousa sobre uma colina, seguindo o estilo grego, mas toda a construção está dentro de muros de alvenaria, como é característico dos teatros romanos. Sobreviveram alguns orificios onde ficavam os postes para o velarium.

patano, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons
Saffron Blaze, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons

2- Teatro de Amã (Jordânia)

Na minha opinião, o Teatro de Amã disputa com o de Aspendos e o de Bosra o título de teatro romano melhor conservado. Durante o período romano, a cidade tinha o nome de Philadelphia. Ele foi construído durante o reinado do Imperador Antonino Pio (138-161 D.C), em nome de quem foi dedicado. Estima-se sua capacidade em 6 mil lugares. Este teatro foi construído seguindo o modelo grego, e toda a sua cavea assenta-se sobre a colina.

Bernard Gagnon, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons
Dosseman, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

3- Teatro de Bosra (Síria)

O Teatro de Bosra foi construído no século II D.C, provavelmente durante o reinado do imperador Trajano (98-117 D.C). Aliás, durante o reinado dele, a cidade recebeu o nome de Nova Traiana Bostra. Com capacidade estimada de 17 mil espectadores, é um dos maiores teatros construídos durante o Império Romano. Durante o período islâmico, o teatro foi convertido em uma fortaleza, razão pela qual o seu muro externo foi integrado e envolvido por muralhas e torres. No entanto, o primeiro andar da sua scaenae frons (com três andares) preserva quase que totalmente a colunata decorativa. Infelizmente, consta que o teatro sofreu alguns danos durante a Guerra Civil da Síria, ainda em andamento.

الشجاع المقداد, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

4- Teatro de Orange (França)

O Teatro de Orange foi construído durante o reinado do imperador Augusto (27 A.C – 14 D.C) e era um dos primeiros teatros romanos a serem construídos na província da Gália, quando a cidade era uma colônia romana de nome Arausio. Estima-se que a sua capacidade variava entre 5.800 e 7.300 espectadores. Vale notar que, em um nicho central em sua cena, uma estátua de Augusto sobreviveu até os nossos dias. O muro externo à cena é construído com uma bela estrutura de alvenaria, fato que levou o rei Luís XIV a considerá-la “O muro mais belo do meu Reino”. Note-se que esse muro preserva as bases onde os postes do velarium eram encravados.

Gromelle Grand Angle, CC BY-SA 3.0 http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/, via Wikimedia Commons
Suwannee.payne, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons

5- Teatro de Mérida (Espanha)

Este teatro foi construído pelo Cônsul Marco Vipsânio Agripa, o braço-direito do imperador Augusto, em Emerita Augusta (atual Mérida), a capital da província da Lusitânia, entre os anos 15 e 15 A.C., mas foi renovado algumas vezes ainda durante o Império Romano. Abrigava cerca de 6 mil espectadores. É um dos teatros romanos sobreviventes cuja scaenae frons está mais bem preservada, com seus dois andares decorados com colunas.

Benjamín Núñez González, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons
Xosema, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

6- Teatro de Sabratha (Líbia)

Outro teatro cuja cena frontal está muito bem preservada, incluindo o terceiro andar. o Teatro de Sabratha provavelmente foi construído no período que compreende o reinado dos imperadores Cômodo (180-192 D.C) e Septímio Severo (193-211 D.C), época em que a província romana da África Proconsular desfrutou de sua maior prosperidade. Quando intacto, hospedava cerca de 5 mil espectadores. O pulpitum é um dos mais ricamente ornamentados e bem preservados dos teatros antigos que sobreviveram.

Franzfoto, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons
Ursus, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

7- Teatro de Hierapolis (Turquia)

A antiga cidade de Hierapolis é contígua a Pamukkale, destino turístico turco famoso pelos seus terraços de travertino, em intrincadas formações naturais que formam piscinas de águas termais. Acredita-se que o seu teatro romano tenha sido construído durante o reinado do imperador Adriano (117-138 D.C), e ganhado uma grande restauração no reinado do imperador Septímio Severo. Abrigava cerca de 15 mil espectadores. Uma curiosidade é o fato de ser um dos únicos que apresenta, no meio de sua cavea, um camarote imperial em formato semicircular. Há indícios de que foi adaptado, já no período do Baixo Império Romano, para ser palco de espetáculos de caçadas (venationes).

A.Savin, FAL, via Wikimedia Commons
Herbert Weber, Hildesheim, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

8- Teatro Sul e Teatro Norte de Jerash (Jordânia)

A antiga cidade de Gerasa passou a fazer parte do Império Romano como resultado das campanhas de Pompeu, o Grande, em 63 A.C, inicialmente como uma das dez cidades helenísticas integrantes da chamada Decapolis. Durante os séculos I e II D.C, Gerasa experimentou grande prosperidade, o que lhe possibilitou abrigar três teatros. Os mais notáveis são os assim denominados “Teatro Sul” e “Teatro Norte”. O Teatro Sul começou a ser construído durante o reinado do imperador Domiciano (81-96 D.C) a quem foi dedicado pelo governador Lappius Maximus. Tinha a capacidade de 4.700 lugares. O primeiro andar da sua scaenae frons está bem restaurado, mas resta apenas um pequeno trecho do segundo andar. Já o Teatro Norte data do período entre 135-140 D.C, sendo ampliado no reinado dos imperadores Lúcio Vero e Marco Aurélio (161-169 D.C), quando ele foi remodelado para funcionar como um odeon, com capacidade para 1.600 espectadores. Este odeon foi utilizado até o século VI D.C.

Teatro Sul de Gerasa, By Zairon – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=30354378
Teatro Norte de Gerasa, Zairon, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons

9- Teatro de Termessos (Turquia)

Escolhemos o Teatro de Termessos principalmente pela sua localização fantástica. Termessos foi fundada pelos Pisídios, um povo que habitava a região da Pisídia, na Ásia Menor. A cidade foi construída a mais de 1.000 metros de altitude, encravada no meio de picos integrantes das Montanhas Taurus. Alexandre, o Grande tentou conquistá-la, sem sucesso, mas ela acabou se integrando aos reinos helenísticos que sucederam o conquistador macedônio. Mais tarde, Termessos se tornou aliada de Roma, que, em reconhecimento, concedeu-lhe o status de cidade autônoma. O Teatro de Termessos, em sua forma atual, deve ter sido construído por volta do século II D.C, tendo uma capacidade de 4 mil espectadores, que, das arquibancadas, podem apreciar uma vista maravilhosa da planície da Panfília, centenas de metros abaixo.

Dosseman, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons
Capyusuf, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

10- Teatro de Plovdviv (Bulgária)

A cidade búlgara de Plovdiv teve uma história conturbada, sendo destruída e reconstruída várias vezes. Durante a Antiguidade Clássica, Plovdiv chamava-se Philippopolis, uma vez que foi fundada pelo rei Filipe II, da Macedônia, pai de Alexandre, o Grande, no lugar de um assentamento trácio. Com a derrota da Macedônia pelos Romanos, na Terceira Guerra Macedônica, Philippopolis tornou-se a capital da Província Romana da Trácia. As ruínas soterradas do teatro somente foram descobertas na década de 1970, devido a um deslizamento de terra. Um cuidadoso trabalho arquitetônico usando a técnica da anastilose (na qual utilizam-se todos os elementos originais encontrados, suprindo-se as lacunas com reproduções modernas de partes idênticas às antigas), transformou o Teatro de Plovdiv em um dos mais bem preservados. Estima-se que tinha a capacidade de cerca de 7 mil lugares e que foi construído durante o reinado do imperador Domiciano.

By Plamen Agov • studiolemontree.com, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=13133568
By Dennis Jarvis from Halifax, Canada – Bulgaria-0785 – Roman Theatre of Philippopolis, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=45848615

Bônus: Teatros na antiga cidade de Roma

Mesmo após a introdução dos espetáculos teatrais em Roma, os teatros construídos para a sua encenação eram estruturas provisórias de madeira, ainda que elas pudessem acomodar milhares de espectadores. Porém, a construção de teatros permanentes dentro do Pomério (limites sagrados da cidade de Roma) era proibida, refletindo a controvérsia que havia no seio das elites em relação à importação de costumes gregos.

Foi somente em 55 A.C que Pompeu, o Grande inaugurou o primeiro teatro permanente construído em Roma, e que seria o modelo para os demais teatros construídos pelos romanos por todo o Império. Sabe-se que as peças encenadas foram “Clitemnestra“, escrita pelo poeta Ácio, e “O Cavalo de Tróia“, atribuída a Lívio Andrônico. O renomado ator trágico Clódio Esopo, que estava aposentado, foi chamado para atuar na inauguração.

O Teatro de Pompeu prenunciou a prática adotada por seus sucessores imediatos no poder supremo de Roma, Júlio César e Augusto, bem como os imperadores subsequentes, de erguer e dedicar obras monumentais na Cidade de Roma à glória de seu próprio nome. E de fato, podemos considerar que, quando ele começou a ser construído, em 61 A.C, nenhum edifício da Urbe podia ser comparado a ele em tamanho e magnificência. No alto e no centro da cavea foi construído um templo dedicado a Vênus Victrix, o que, inclusive, permitiu a Pompeu contornar a proibição legal acima citada. E o teatro fazia parte de um vasto complexo, estando conectado a um enorme quadripórtico, abrigando entre suas colunas, salas para a exibição dos troféus e obras de arte que Pompeu amealhara no Oriente Grego, o qual rodeava uma praça quadrada adornada por jardins. Na outra extremidade do quadripórtico, ficava um edifício construído para abrigar assembleias e reuniões políticas, denominado Cúria de Pompeu. Aliás, poucos anos depois da sua inauguração, a Cúria Hostília, o prédio do Senado Romano no Fórum Romano, foi incendiado nos tumultos que se seguiram ao assassinato do político demagogo Clódio. Então, o Senado passou a se reunir na Cúria de Pompeu e foi exatamente ali que, no ano de 44 A.C, Júlio César foi assassinado por seus adversários no Senado Romano, falecendo aos pés da estátua do próprio Pompeu, a quem havia derrotado anos antes.

A capacidade do Teatro de Pompeu foi estimada, ainda na Antiguidade, em 22.800 espectadores. A cavea, cujos bancos eram revestidos de mármore, apoiava-se em uma estrutura de concreto. Ao longo dos séculos, o Teatro de Pompeu sofreu incêndios e foi restaurado várias vezes. Após às Guerras Góticas, em meados do século VI, a população de Roma caiu consideravelmente, e o edifício foi abandonado, tornando-se fonte de materiais de construção e sendo transformado em fortaleza. Ao fim da Idade Média, o Teatro já se encontrava coberto por vários edifícios, entretanto, parte da forma semicircular do teatro foi preservada pela Via de Grottapinta e um conjunto de prédios erguidos nesta rua. O artista Piranesi, em meados do século XVIII ainda conseguiu retratar em uma gravura o que restava do Teatro, sob os edifícios.

Modelo do Teatro de Pompeu e seu complexo, com o Templo de Vênus Victrix em primeiro plano e, no extremo do quadripórtico, a Cúria de Pompeu. Foto: A derivative work of a 3D model by Lasha Tskhondia – L.VII.C., CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons
A Via de Grottapinta e prédios que preservam o traçado do semicírculo do Teatro. Foto: Lalupa, CC BY-SA 3.0 http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/, via Wikimedia Commons
Gravura de Piranesi com os vestígios do Teatro de Pompeu

O vencedor de Pompeu na Guerra Civil do Primeiro Triunvirato, Caio Júlio César, era um notório entusiasta da cultura grega e, por diversas vezes, usa citações de peças gregas em seu discurso. Uma de suas mais famosas frases : “A sorte está lançada“, na verdade foi retirada de uma comédia do autor grego Menandro, chamada “Arrhephoros“.

Por isso, não surpreende o fato de que César também planejou erguer um teatro em Roma. O Ditador inclusive chegou a escolher e mandar limpar o terreno onde seria construído o seu teatro, mas os Idos de Março de 44 A.C vieram e ele foi assassinado antes que pudesse executar o seu projeto.

Augusto, o herdeiro e sucessor de César, resolveu dar andamento à construção do teatro planejado por seu pai adotivo e, no ano de 17 A.C., as obras estavam suficientemente avançadas para que os Jogos Seculares fossem celebrados no teatro, que foi completado em 13 A.C. No ano seguinte, o teatro foi dedicado a Marco Cláudio Marcelo, sobrinho e, inicialmente, o herdeiro escolhido por Augusto, que, infelizmente, havia morrido de doença em 23 A.C., ficando conhecido como “Teatro de Marcelo”.

O Teatro de Marcelo, segundo uma fonte do século IV D.C, tinha capacidade para 17.580 espectadores, sendo o segundo maior de Roma. Deixou de ser utilizado no século IV D.C, e, ainda durante o Império Romano, teve parte de seus blocos de construção retirados para serem utilizados em outros edifícios. Durante a Idade Média, residências foram construídas dentro e acima de suas estruturas e ele foi convertido em uma fortaleza. Graças a isso, parte de sua fachada sobreviveu, podendo se observar dois andares de arcadas, sendo que no primeiro andar, os arcos são separados por colunas dóricas, e, no segundo, por colunas jônicas (e provavelmente o terceiro, desaparecido, tinha colunas coríntias, como ocorre no Coliseu, construído posteriormente).

By Geobia – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=18942534
O Teatro de Marcelo, em 1º plano, na Maquete de E. Gismondi, no Museu da Civilização Romana, Roma. Foto Alessandro57, Public domain, via Wikimedia Commons

Em 13 A.C, o terceiro teatro permanente da cidade de Roma foi inaugurado por Lúcio Cornélio Balbo, o Jovem, um político e general de origem púnica que havia sido partidário de Júlio César na juventude e que exerceu vários cargos importantes durante os primeiros anos do reinado de Augusto. Balbo escreveu um livro e uma peça teatral, e provavelmente era entusiasta de teatro, erguendo o edifício com recursos próprios. No dia da inauguração, as fontes relatam que o rio Tibre transbordou devido a uma enchente e Balbo teve que entrar no teatro de barco. O Teatro de Balbo foi construído próximo ao Teatro de Pompeu e podia abrigar cerca de 8 mil espectadores, sendo que o Teatro de Marcelo também não estava longe. Com isso, a área do Campo de Marte converteu-se em um verdadeiro “Theater District”. Em 1561, alguns restos do teatro ainda podiam ser vistos e foram retratados por Giovanni da Sangallo em uma gravura.

Teatro de Balbo, reconstrução na maquete de Roma de E. Gismondi.

Recentemente, foram descobertos em Roma os vestígios de um quarto teatro, citado pelas fontes como Teatro de Nero. Seria um teatro para o desfrute particular do imperador Nero (54-68 D.C) e seus amigos. Vide https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/teatro-do-imperador-nero-de-2-mil-anos-e-desenterrado-em-roma-apos-seculos-perdido/

Os 10+ (Templos)

Templo (em latim templum) originalmente era o espaço consagrado ao culto de uma divindade, compreendendo não apenas o edifício (aedes) onde (quase sempre, pois havia divindades que não tinham uma imagem, como Vesta) era guardada a estátua do deus cultuado, mas também o terreno circundante, ou recinto, onde, geralmente na frente, ficava um altar para sacrifícios e outras cerimônias religiosas (alternativamente, a palavra fanum era utilizada como sinônimo de templum). Portanto, os edifícios que hoje chamamos de templos eram denominados, na maior parte dos textos antigos, “aedes” (havendo também as variações sacellum, termo que era mais específico para denominar santuários menores, semelhantes ao que seria uma pequena capela atual, e delubrum, também com este sentido).

Inicialmente, as evidências indicam que os Romanos não construíam edificações para adorarem os seus deuses, que, inclusive, não eram antropomorfizados. Assim, os primeiros templos surgiram em Roma a partir do contato com os Etruscos, e, provavelmente, durante o período em que estes controlaram a cidade.

Então, naturalmente, os primeiros templos romanos imitaram o estilo etrusco. Este estilo de templo era construído sobre um alto pódio (somente podendo ser acessado mediante uma escadaria frontal com muitos degraus) e encimado por um grande frontão triangular colocado acima do lintel, sendo este sustentado por colunas apenas na frente do edifício (pronaos ou pronau), geralmente bem à frente do edifício, espaçadas, lisas e com capitéis simples que deram origem ao estilo chamado de “toscano” (palavra que, aliás, deriva de “etrusco”). Os Etruscos e, por sua influência, os Romanos, nesses tempos, usavam frequentemente tijolos para fazer as paredes, madeira nas colunas, no lintel e nos telhados, e, ainda, terracota, esta sobretudo nos capitéis das colunas, nas estátuas e outros ornamentos (então, não se utilizavam blocos de pedra ou de mármore, como os egípcios e gregos). Tudo pintado em cores bem vivas. O interior (cella) em muitos casos era dividido em três compartimentos, refletindo a trindade Tinia, Uni e Menrva (Júpiter, Juno e Minerva, para os Romanos). Vale citar que por sua vez, os templos etruscos, assim como os romanos, posteriormente, absorveram muito do estilo grego.

O templo romano mais importante durante toda a sua História, e provavelmente o primeiro de tamanho considerável a ser construído na cidade de Roma foi o Templo de Jupiter Optimus Maximus, ou também, Templo de Júpiter Capitolino, situado na colina do Capitólio, que, tendo sido dedicado em 509 A.C, ano da instituição da República em Roma, foi destruído e reconstruído diversas vezes. A sua primeira versão era claramente de influência etrusca, e, inclusive, ele foi construído e decorado por trabalhadores e artistas etruscos, incluindo o grande escultor Vulca de Veios.

Reconstituição especulativa do Templo de Júpiter Capitolino, em Roma, foto By Hiro-o at Japanese Wikipedia, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4907957

Mais tarde, os Romanos entraram em contato mais próximo com as cidades fundadas pelos gregos no Sul da Itália, começando a absorver diretamente a cultura grega, principalmente em sua fase helenística, o que se acentuou mais ainda com a conquista da própria Grécia, a partir do século II A.C, o que, obviamente, se refletiu na arquitetura, inclusive dos templos. Porém, apesar de passarem a construir os templos no estilo da arquitetura clássica grega, adotando os estilos de suas colunas e estatuária, e, agora, usando com mais frequência o mármore, sobretudo como revestimento, os Romanos mantiveram algumas características marcantes do estilo herdado dos Etruscos, notadamente a construção do templo sobre um pódio elevado, o acesso por uma escadaria frontal única e a presença da colunata apenas na parte frontal, com, no máximo, meias colunas decorativas nas paredes laterais (os templos gregos eram quase sempre perípteros, ou seja, inteiramente rodeados de colunas, enquanto que os romanos típicos eram prostilos – com colunas apenas na frente, ou pseudoperípteros, isto é, com colunas na frente e meias colunas ou falsas colunas na lateral. E, nos gregos, o acesso se dava por alguns poucos degraus que rodeavam todo o edifício).

Finalmente, sobre os templos romanos, é bom observar que eles eram construídos de acordo com as necessidades rituais das religiões pagãs: as cerimônias e os rituais públicos ocorriam na parte de fora do templo, normalmente em torno de um altar ou ara que ficava na frente do templo. Os fiéis participavam das cerimônias no recinto, mas não entravam em seu interior. No interior do templo propriamente dito ficavam apenas a estátua da divindade, no espaço delimitado pelas paredes (cella), podendo haver outras câmaras ou antecâmaras em que ficavam guardados objetos do culto e/ou oferendas (muitas delas de grande valor intrínseco, motivo pelo qual às vezes os templos funcionavam também como tesouro do Estado), e aos quais somente tinham acesso os sacerdotes. Nesses dias de cerimônias ou festivais públicos, costumava-se abrir as portas do templo e os fiéis então podiam espiar de fora as estátuas dos deuses.

Dito isso, sem mais delongas, vamos àqueles que eu considero os templos romanos sobreviventes mais bem preservados e/ou impressionantes (trata-se de uma seleção discricionária minha, aceitamos sugestões nos comentários):

1- Maison Carré (Nîmes, antiga Nemausus, França)

Provavelmente, após o Pantheon, é o templo romano em melhor estado de conservação que sobreviveu até os nossos dias (isto porque a decoração e o piso do seu interior não foram preservados). Este templo foi dedicado, entre 4 e 7 D.C., a Caio César e Lúcio César, netos e herdeiros adotivos do imperador Augusto que morreram muito jovens, e servia ao culto ao imperador. O prédio foi convertido em igreja na Idade Média, começando a ser restaurado a partir do século XVIII. É um templo hexastilo (seis colunas na fachada) e pseudoperíptero.

Foto do Autor (2003)
O autor em frente à Maison Carré (2003)
Detalhe. Foto do autor (2003)
Após a última restauração em 2011 (foto Aoudot25, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons

2- Templo de Augusto e Lívia (Vienne, antiga Vienna, França)

Outra joia romana preservada na França, o Templo de Augusto e Lívia provavelmente foi construído no início do reinado de Augusto, o primeiro imperador, que começou oficialmente em 27 A.C. Há indícios construtivos que denotam que, por volta do ano 40 D.C, houve a necessidade de reconstruí-lo parcialmente, usando-se novos materiais, por algum incidente ignorado, talvez um incêndio ou terremoto. Assim como a Maison Carré, suas colunas são no estilo coríntio, porém ao contrário do primeiro, elas contornam a cella até mais da metade da lateral do edifício, ao invés das meias-colunas existentes no primeiro. Também foi convertido em Igreja, e, brevemente, após a Revolução Francesa, em “Templo da Razão”. Depois disso, foi usado como câmara de comércio e biblioteca, tendo sido restaurado a partir de 1852. É outro templo hexastilo. .

By Jacques MOSSOT – Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=36693887
By Jacques MOSSOT – Own work, CC BY-SA 4.0
By Daniel CULSAN – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=16878505

3- Templo de Portunus (Roma, Itália)

Disputa com o Templo de Hércules Vencedor o título de templo romano mais antigo relativamente intacto ainda de pé . Foi originalmente erguido entre os séculos IV E III A.C., mas a estrutura atual data de cerca de 100 A.C. Situa-se na área do antigo Forum Boarium, que era antigo mercado de gado da cidade de Roma. Foi convenientemente dedicado ao deus Portunus, o deus dos cadeados, das portas e porteiras, do gado e das pontes (por associação), já que o mercado de gado ficava adjacente ao porto fluvial (Portus Tiberunus) e à ponte de pedra (Pons Aemilius) mais antigos de Roma.

É um pequeno templo, elegante e austero, sendo o único da nossa relação adornado com quatro colunas no estilo jônico, e as paredes laterais com meias-colunas no mesmo estilo. No ano 872 de nossa era foi convertido em igreja católica, devendo sua preservação a este fato. Por isso, seu interior é decorado com valiosos afrescos retratando a vida da Virgem Maria, que foram preservados após a desconsagração do edifício.

Como curiosidade, vale mencionar que, até não muito tempo atrás, este templo era conhecido como “Templo da Fortuna Primigênia”, pelo fato, equivocadamente interpretado, de sua fachada ostentar a inscrição “…ORTUN…”.

Country: Italy Site: Temple of Portunus Caption: Exterior from angle Image Date: April 5, 2014 Photographer: Lisa Ackerman/World Monuments Fund Provenance: Site Visit Original: email from Lisa Ackerman
Country: Italy Site: Temple of Portunus Caption: Side facade Image Date: September 29, 2011 Photographer: Studio Paolo Soriani/World Monuments Fund Provenance: Site Visit Original: Sharefile from Alessandra Peruzzetto

4- Templo de Hercules Victor (Roma, Itália)

Outro sobrevivente da Roma Republicana, este templo redondo circundado de colunas coríntias segue o modelo grego (tipo denominado tholos). O Templo de Hercules Victor (ou Hércules Vencedor) também fica no antigo Forum Boarium (atualmente Piazza della Bocca della Veritá), quase ao lado do Templo de Portunus. Isto não é uma mera coincidência, pois os Romanos acreditavam que havia sido neste local que os bois vermelhos do gigante Gerião, capturados por Hércules após completar o seu décimo trabalho, foram roubados por outro gigante, Cacus. Acredita-se que este templo tenha sido construído em 146 A.C, pelo cônsul Lucius Mummius Achaicus, que conquistou e saqueou a rica cidade grega de Corinto. Em assim sendo, ele seria o templo romano mais antigo sobrevivente em boas condições. Por ser redondo, durante muito tempo acreditou-se erroneamente que ele seria um templo dedicado a Vesta, a quem foi dedicado um templo igualmente circular e situado no Fórum Romano.

By ChromosomeGun – Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=79695377

5- Templo de Augusto (Pula, Croácia)

Outro exemplar muito bem preservado é o Templo de Augusto, na cidade croata de Pula, que, após ser destruída durante a Guerra Civil do Segundo Triunvirato contra os assassinos de César, e refundada por Augusto com o nome de Colonia Pietas Iulia Pola Pollentia Herculanea, em cujo reinado o templo foi erguido, provavelmente após 2 A.C, data em que o Senado Romano conferiu-lhe o título de Pai da Pátria, que se encontrava afixado em letras de bronze na arquitrave. Originalmente fazia parte de um conjunto de três templos. É mais um templo que deve a sua preservação ao fato de ter sido convertido em igreja cristã.

By Georg Karl Ell – Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=113360865
By Carole Raddato from FRANKFURT, Germany – The back of the Temple of Augustus, Colonia Pietas Iulia Pola Pollentia Herculanea, HistriaUploaded by Marcus Cyron, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=30139744

6- Templo romano de Vic (antiga Auso, Espanha)

Este templo foi encontrado em 1882, durante a demolição de um castelo medieval na cidade catalã de Vic, que na época do Império Romano tinha o nome de Auso e também era chamada de Vicus Ausonae (Vicus significa povoado ou bairro urbano, em latim, cuja corruptela acabou virando o nome da cidade). No século XI, o templo, feito de arenito, foi coberto pela estrutura do castelo, que também aproveitou como material fragmentos de colunas, capitéis e outros elementos decorativos. Após a sua descoberta, cidadãos proeminentes de Vic resolveram restaurar o templo, aproveitando o fato de que as fundações, as paredes norte e oeste e a maior parte da arquitrave estavam intactos. A única coluna e o único capitel sobreviventes foram utilizados como modelo para a reconstrução dos demais e reincorporados à estrutura, e, assim, o templo foi reconstituído ao que devia ser o seu aspecto original. Devido ao fato de ser uma reconstrução, ainda que utilizando grande quantidade de elementos autênticos, relutamos um pouco em incluí-lo nesta relação, mas resolvemos mantê-lo, afinal, em maior ou menor grau, todos os templos romanos aqui mencionados sofreram algum tipo de intervenção restauradora. O seu estilo, e os elementos encontrados durante a pesquisa arqueológica, sugerem que o templo data do início do século II D.C. A construção do Templo de Vic é muito semelhante a do Capitólio de Dougga, que veremos a seguir.

By Krzysztof Golik – Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=123101614

7- Capitólio de Dougga (Dougga, Tunísia)

Dougga originalmente era um povoado númida, que depois foi controlado pelos Cartagineses, até ser conquistada pelos romanos. Após ser elevada à condição de cidade com direitos iguais às das cidades italianas e colônias romanas gozando de maior autonomia, ela recebeu o nome de Municipium Septimium Aurelium Liberum Thugga. O Capitólio de Dougga é um templo originalmente dedicado à chamada Tríade Capitolina: Jupiter Optimus Maximus, Juno e Minerva, o trio de divindades protetoras de Roma que integrava o culto oficial do Estado Romano e que desde o início eram cultuados no Templo de Júpiter Capitolino, que tinha três cellae separadas para cada uma delas. Com a expansão romana, inúmeras cidades espalhadas pelo Império construíram, em seus centros cívicos, templos similares cultuando a Tríade, chamados de Capitolium (pl. Capitolia). Uma inscrição dedicatória aos imperadores Marco Aurélio e Lúcio Vero indica que o templo deve ter sido construído entre 166 e 167 D.C. Assim como no Templo de Vic, as paredes do Capitólio foram erguidas utilizando-se a técnica conhecida como opus africanus, comum nas províncias romanas do Norte da África e que parece ter origem na arquitetura cartaginesa. Juntamente com os Templos de Portunus e de Pula, é um exemplo de templo tetrastilo (quatro colunas na fachada).

By GIRAUD Patrick – Self-photographed, CC BY 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4546818

By Eric T Gunther – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=18774036

8- Templo de Baco (Baalbek, antiga Heliopolis, Líbano)

O Templo de Baco fazia parte de um colossal complexo religioso que compreendia vários templos erguido na antiga cidade de Heliopolis, na província romana da Síria-Fenícia, depois Síria-Coele. O complexo foi construído pelos romanos a partir do final do século I A.C/Início do Século I D.C, em um lugar onde já existia há bastante tempo um centro de culto a divindades solares semitas, como Baal. Durante o Império, a cidade recebeu o nome de Colonia Julia Augusta Felix Heliopolitana. A construção central do complexo era o Templo de Júpiter (88m x 44m x 44m), que disputa com o Templo de Vênus e Roma, em Roma (110m x 53m x 31m), o título de maior templo religioso pagão já construído pelos Romanos, porém dele somente restaram o enorme pódio e algumas colunas de pé. Já o Templo de Baco (66m x 35m x 31m) era o segundo maior do complexo (e, ainda assim, era um dos maiores dentre todos os templos romanos) e o mais bem conservado, ao menos nas laterais e nos fundos. Ele começou a ser construído no reinado do imperador Antonino Pio e provavelmente ficou pronto no reinado do imperador Septímio Severo. O interior da cella é decorado com elaborados relevos e esculturas, possuindo vários nichos. É octastilo (fachada com oito colunas) e o único exemplo de templo períptero da nossa relação.

By Jan Hilgers – Jan Hilgers, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=15291746
O homem na quina do pódio do Templo de Baco ao fundo dá uma ideia do tamanho da construção. By Lodo from Moscow, Russia – Temple of Bacchus, Baalbek, Lebanon, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=101104227
Interior do Templo de Baco. By © Vyacheslav Argenberg / http://www.vascoplanet.com/, CC BY 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=93337494

9- Capitólio de Bréscia (Antiga Brixia, Itália)

Incluímos o Capitólio de Brescia nesta relação pelo fato de, apesar de estruturalmente ele estar bem menos preservado do que os demais, não obstante ele contém elementos de valor artístico e histórico inestimáveis. O Capitólio de Brescia foi construído no reinado do imperador Vespasiano, em 73 D.C, no lugar de um edifício religioso mais antigo da época republicana que possuía a cella dividida em quatro partes. Segundo os estudiosos, este templo republicano foi construído entre 89 A.C e 75 A.C, época em que a cidade foi reconhecida como “Civitas” (Município com mais autonomia e direitos civis para os cidadãos). Quando o Capitólio foi construído aproveitando o templo anterior como fundação, a parte mais baixa das paredes e o piso original deste foram preservados, tornando-se o único exemplo de decoração interna de um templo dos tempos da República Romana que sobreviveu. E o Capitólio de Brescia, em si, também teve partes importantes da sua estrutura e da sua decoração que chegaram até os nossos dias pelo fato dele ter sido soterrado por um deslizamento do morro Cidneo, que ficava atrás do edifício, tendo somente sido redescoberto em 1823. Os elementos arquitetônicos encontrados foram remontados, e o Capitólio de Brescia, em seu estado atual, permite distinguir a concepção arquitetônica e paisagística que nortearam a sua construção, contendo três cellae (cultuando a Tríade Capitolina: Júpiter, Juno e Minerva), colocando-o em posição destacada, em uma parte elevada da cidade e tendo o morro atrás, como moldura. Sobreviveram, ainda boa parte do piso original em mármore policrômico, assentado na técnica conhecida como “opus sectile“, e alguns mosaicos decorativos. Finalmente, também foi encontrada na escavação uma espetacular estátua de bronze de uma Vitória Alada, que provavelmente ficava no topo do frontão. É um templo octastilo e prostilo.

Photo by Wolfgang Moroder-Wikimeida commons
Decoração do templo republicano
Mosaico no pavimento do Capitólio
Pavimento do Capitólio
Estátua da Vitória, Brescia, foto Giovanni Dall’Orto., Attribution, via Wikimedia Commons

10- Templo de Rômulo (Roma, Itália)

Este templo difere de todos os outros que relacionamos pelo fato da sua arquitetura já refletir o estilo do Baixo Império Romano, usando concreto na cúpula de sua rotunda, mas ainda com elementos decorativos clássicos, como colunas e arquitraves, retiradas de prédios mais antigos, dispostas em um formato côncavo. Sem dúvida, é um tipo diferente de todos os outros templos aqui exibidos. No entanto, há controvérsias sobre a real identidade do edifício. O mais aceito é que seria um templo dedicado a Valério Rômulo, filho do imperador Maxêncio, que morreu ainda adolescente em 309 D.C., sendo divinizado por ordem de seu pai. Os elementos que suportam essa tese são o fato de que toda a área foi objeto de construções e renovações por iniciativa de Maxêncio, como os vizinhos Basílica de Maxêncio e Templo de Vênus e Roma. Sobretudo, no local foram encontradas moedas de Maxêncio, inclusive um exemplar com a efígie do rapaz e os dizeres “Divino Rômulo N V Filho do Imperador Maxêncio” no anverso, e, no reverso, uma representação de um edifício com um domo, portas de bronze, quatro colunas, com nichos contendo estátuas entre elas e encimado por uma águia, circundada pelos dizeres: “eterna memória“, um desenho que corresponde exatamente à aparência do Templo. Em outra interpretação, derivada de uma menção do historiador antigo Sexto Aurélio Victor, acredita-se que o edifício seria o “Templum Sacrae Urbis” ou “Urbis Fanum“, que, segundo o relato, teria sido construído por Maxêncio em celebração à deusa Roma. Finalmente, para outros estudiosos, o prédio ocupou o lugar do anterior Templo dos Penates, mas, com o incêndio e demolição deste, foi construído para ser apenas um vestíbulo de entrada monumental da Via Sacra para o Fórum da Paz. De qualquer modo, um fato que nos levou a escolher este templo é porque é o único templo romano (além do Pantheon) que ainda tem a sua porta de bronze original, e funcionando perfeitamente, inclusive com a fechadura original! E, juntamente com o Pantheon, o Templo de Rômulo é o único que continua sendo usado para a mesma finalidade para o qual foi construído: local de culto religioso – uma vez que ele foi convertido, em 527 D.C, em Igreja Católica, durante o reinado de Teodorico, o Grande, rei dos Ostrogodos, a quem a cidade de Roma estava submetida, e que doou o prédio ao Papa, tornando-se, então, o vestíbulo da Basílica de São Cosme e São Damião, no Fórum Romano (que aproveitou outro prédio romano já conectado ao templo, que dava para o Fórum da Paz).

By Anthony M. from Rome, Italy – Flickr, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1136266
Porta do Templo de Rômulo, foto do Autor

Hors-Concours – Pantheon (Roma, Itália)

Qualquer relação de templos romanos existentes não pode deixar de mencionar o Pantheon (Panteão, em português). Em termos arquitetônicos, poucos edifícios tiveram tanta influência no mundo quanto ele. Com efeito, é um prédio que foi copiado em vários lugares do planeta e até hoje detém o recorde de ter a maior cúpula (domo) de concreto não reforçado do mundo, com o mesmo diâmetro da rotunda (43,3 metros, ou 150 pés romanos). Aliás, o Pantheon é uma maravilha de engenharia e arquitetura por si só, tanto pelo uso criativo do concreto romano, como por suas proporções perfeitas, sem falar no tamanho do prédio em si e na sua sobrevivência a inúmeros terremotos em quase dois mil anos. A rotunda tem o mesmo diâmetro que a altura do óculo (a abertura no topo do domo por onde entra a luz) até o chão, e assim, se o hemisfério que constitui a cúpula fosse uma esfera perfeita, ela caberia exatamente dentro do espaço interior do Pantheon ou dentro de um cubo perfeito, quase como se fosse uma representação do globo terrestre e da esfera celeste. Internamente, a superfície do domo é recortada por 5 fileiras de 28 quadrados escavados, Esses espaços, chamados de caixotões têm a função prática de aliviar o peso da estrutura do domo, mas não se pode deixar de observar que parecem corresponder aos 28 dias que correspondem ao ciclo lunar. Além disso, 28 é um número em que a soma dos fatores é igual ao próprio número (1+2+4+7+14=28) o que, de acordo com o matemático Pitágoras, expressava a harmonia mística com o Cosmos. Não há registro da existência de um prédio igual ou semelhante ao Pantheon antes ou depois na Arquitetura Romana, com uma cella circular e um pórtico clássico (octastilo) e, portanto, ele é um exemplar único. Curiosamente, este pórtico e a altura de suas colunas e do frontão constituem a única discrepância na perfeição de suas medidas: Originalmente, as colunas teriam 50 pés romanos de altura (14,8 metros), porém, dificuldades logísticas impediram o transporte de colunas desse tamanho (da pedreira de onde de fato vieram as colunas, no Egito) e, mais provavelmente, a colocação das mesmas no local pretendido (talvez devido a limitações dos guindastes), então, os construtores tiveram que usar colunas de 39 pés de altura (o contorno do frontão com a altura originalmente projetada permaneceu na fachada, na parede onde está anexado o pórtico definitivo, mostrando como este é mais baixo do que o planejado. Outras duas características marcantes do Pantheon são o fato dele ser o templo romano com a decoração interior mais bem preservada (e somente algumas residências em Pompéia e Herculano se comparam a ele neste quesito) e de possuir a a porta de bronze romana mais antiga ainda em funcionamento no edifício original. Cada metade da porta, de 4,45 m de altura, pesa 8,5 toneladas, e, mesmo assim, o seu balanceamento é tão perfeito, que, ainda hoje, podem ser abertas por apenas uma pessoa. O Pantheon foi construído no reinado do imperador Adriano, entre 118 e 128 D.C., no lugar de um templo do mesmo nome, erguido por Marco Vipsânio Agripa, no reinado de Augusto, e muitos acreditam, embora não haja prova disto, que ele foi projetado pelo grande arquiteto Apolodoro de Damasco, que concebeu muitos dos grandes projetos de Trajano, o antecessor de Adriano (Embora o significado do seu nome em grego seja “de todos os deuses”, nenhuma fonte antiga afirma que ele fosse de fato um templo onde todos os deuses eram adorados). Contudo, em sinal de modéstia, Adriano manteve a inscrição “M. AGRIPPA, L F COS TERTIUM FECIT” (“Construído por Marco Agripa, filho de Lúcio, Cônsul pela 3ª vez”) no lintel. O Pantheon deve a sua preservação ao fato de ter sido convertido em uma igreja católica em 609 D.C., continuando sendo até hoje a Igreja de Santa Maria e dos Mártires. Mesmo assim, ao longo dos séculos, ele foi despojado do revestimento de mármore das paredes exteriores da cella e de suas telhas de bronze.

Por Mariordo (Mario Roberto Durán Ortiz) – Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=58886212
Foto do Autor
CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=389746
Interior do Pantheon. O piso (com algumas substituições que mantiveram o padrão original), o revestimento das paredes do 1º estágio, as colunas e os nichos são originais romanos. Algumas das edículas ou capelas, foram alteradas durante a Renascença, tendo suas colunas substituídas, mas no geral mantiveram a originalidade. Já o revestimento das paredes do 2º estágio foram alteradas no século XVIII, mas no lado direito superior da foto pode ser visto um pequeno trecho que foi restaurado no século XX para o padrão original romano. Foto: Macrons, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

Os 10+ (Anfiteatros)

Olá, amigos do blog!

Decidimos criar uma nova categoria no blog, sobre os mais significativos exemplares da Arte e da Arquitetura Romanas, e nessa categoria, inauguramos a série “Os 10+“, começando pelos Anfiteatros Romanos.

Anfiteatro é uma palavra grega que significa “teatro com dois lados” ou “teatro de ambos os lados”, já que, basicamente, um teatro é um semicírculo ou uma meia-lua, e um anfiteatro é um círculo perfeito, ou uma elipse. Apesar disso, todos os anfiteatros antigos que sobreviveram são romanos, e, até onde eu sei, não se conhece nenhum de origem grega, o que dá a entender que de fato eles sejam uma invenção romana.

Os anfiteatros estão diretamente relacionados com os jogos de gladiadores e suas variações, como os espetáculos de caçadas ou lutas contra animais (inclusive como forma de execução de condenados) ou entre as próprias feras (venationes), e até mesmo de batalhas navais (pelo menos a arena do Coliseu podia ser preenchida com água para esse fim).

Segundo o historiador romano Tito Lívio, as lutas de gladiadores seriam um costume iniciado pela tribo dos Campânios, que fazia parte do povo Osco, da região da Campânia. Já para os historiadores modernos, elas seriam um costume fúnebre etrusco. O anfiteatro mais antigo sobrevivente e provavelmente o primeiro a ser construído em pedra é o Anfiteatro de Pompéia. Considerando que Pompéia foi fundada pelos Oscos, e, posteriormente, dominada pelos Etruscos, qualquer que seja a verdadeira origem dos jogos, isto provavelmente explica o fato dela ter sido a primeira cidade que construiu um anfiteatro.

Sem mais delongas, vamos àqueles que eu considero os anfiteatros romanos sobreviventes mais bem preservados e/ou impressionantes:

1- Anfiteatro de Nîmes (antiga Nemausus, França)

O mais bem preservado do mundo, na minha opinião, sua capacidade original era de 20 mil espectadores, construído no início do reinado de Trajano (por volta de 100 D.C). Ainda é utilizado para uma série de espetáculos, incluindo touradas. Tive a oportunidade de visitá-lo em 2003 e recomendo a visita para todos.

Foto do Autor
Foto By Krzysztof Golik, edited by Janke – This file was derived from: Arenes de Nimes (18).jpg, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=116261573
Arènes de Nîmes (By Herbert Frank from Wien (Vienna), AT – Arènes de Nîmes (1. Jhdt.n.Chr.), CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=77739282

2- Anfiteatro de El-Djem (antiga Thysdrus, Tunísia)

O Anfiteatro de El-Djem, que é claramente inspirado no Coliseu, dependendo das fontes, seria o terceiro maior do Império Romano e foi construído por volta de 238 D.C, talvez pelo governador da Província, Gordiano, pouco antes dele ser aclamado imperador. Mas, talvez o mais impressionante quanto a este anfiteatro é a comparação do seu tamanho com o da cidade onde foi construído. Sua capacidade estimada é de 35 mil espectadores, enquanto que El-Djem tem somente 21 mil habitantes. E sabemos que a cidade não era maior do que isso na época do Império Romano. Então, ele só devia ficar cheio em grandes eventos, que provavelmente atraíam aficionados de toda a Província da África e além.

By Diego Delso, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=51315489

3- Anfiteatro de Verona, Itália

O Anfiteatro de Verona é certamente o mais bem preservado da Itália, e que, assim como os Anfiteatros de Nîmes e de Arles, continua a ser utilizado para espetáculos. É um dos mais antigos existentes, datando de 30 D.C, sendo precedido pelo de Pompéia. Sua capacidade estimada na Antiguidade era de 30 mil lugares. Apesar de seu estado excepcional, ele perdeu o anel externo durante um terremoto no século XII, e por isso, perde para o de Nîmes neste quesito.

Arne Müseler / http://www.arne-mueseler.com, CC BY-SA 3.0 DE https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/de/deed.en, via Wikimedia Commons

4- Anfiteatro de Pompéia, Itália

É o anfiteatro mais antigo existente, construído em 70 A.C., e é bem possível que ele seja o primeiro anfiteatro de pedra da História (anteriormente os anfiteatros romanos eram construídos de madeira). Como todos os anfiteatros romanos, tinha um setor separado para os cidadãos das classes superiores, mais próximo da arena. Como curiosidade, o historiador romano Tácito relata que, devido a uma briga entre os espectadores que se alastrou pelas ruas da cidade deixando vítimas fatais, envolvendo os moradores locais e os oriundos da cidade vizinha de Nuceria, o imperador Nero, como punição, proibiu durante dez anos a realização de jogos de gladiadores no Anfiteatro (Anais, XIV, 17). O relato é confirmado por um afresco encontrado em Pompéia, retratando exatamente este conflito, mas quando a erupção do Vesúvio ocorreu, em 79 D.C., esse prazo já tinha expirado e várias armas e armaduras de gladiadores foram encontrados nas escavações. Aliás, nessa pintura, é possível ver que o Anfiteatro de Pompéia, assim como o Coliseu e muitos outros de seus congêneres, possuía uma cobertura retrátil de algum tipo de tecido ou de lona, chamada de “velarium“. Sua capacidade estimada situa-se entre 12 e 20 mil lugares (ou seja, acomodaria toda a população provável da cidade). Foi palco de um célebre show da banda Pink Floyd.

By No machine-readable author provided. Buckeye~commonswiki assumed (based on copyright claims). – No machine-readable source provided. Own work assumed (based on copyright claims)., CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=554974
By Norbert Nagel – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=28315626
O afresco retratando a briga entre os cidadãos de Pompéia e de Nuceria, em torno do Anfiteatro de Pompeia. By U.D.F., Paris – Robert Etienne: Pompeji, die eingeäscherte Stadt, Ravensburg 1991, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=556721

5- Anfiteatro de Cápua (atual Santa Maria Capua Vetere), Itália

Este anfiteatro não está bem preservado, mas vale ser mencionado porque, além de ser o segundo maior do Império Romano, em capacidade, acredita-se que ele tenha servido de modelo para o maior e mais famoso anfiteatro de todos, o Coliseu. Além disso, alguns especialistas acreditam que ele seria mais antigo que o de Pompéia, pois teria sido construído em 100 A.C. Mas uma inscrição existente no anfiteatro parece indicar que ele foi construído quando Cápua já tinha o nome de Colonia Julia Felix Augusta Capua, o que só poderia ter ocorrido a partir de 27 A.C. De qualquer modo, mesmo antes disso, Cápua já era afamada como um centro de organização de jogos de gladiadores e escolas de treinamento. Inclusive, o mais famoso gladiador de todos os tempos, Spartacus, treinava e lutava em Cápua, na companhia de gladiadores de propriedade do lanista Lentulus Batiatus. Estima-se que tinha uma capacidade de 45 mil espectadores, embora haja quem calcule que coubessem 60 mil.

Stanley-goodspeed, CC BY-SA 3.0 http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/, via Wikimedia Commons

6- Anfiteatro de Arles (antiga Arelate, França)

Outro anfiteatro que está bem preservado e ainda é utilizado para touradas e outros espetáculos. Construído em 90 D.C., após a Queda do Império Romano o anfiteatro foi utilizado como fortaleza, tendo-lhe sido incorporadas quatro torres medievais, três das quais ainda persistem, sendo este o motivo principal da sua sobrevivência. Tinha capacidade original para 20 mil espectadores.

By Jmalik at English Wikipedia, CC BY 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4496808
By Rolf Süssbrich – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=11123078

7- Anfiteatro de Pula, Croácia

Embora apenas um pequeno trecho das suas arquibancadas tenha sobrevivido, o Anfiteatro de Pula possui uma das fachadas mais bem preservadas, com a parede exterior completa, incluindo, desde a sua construção, uma característica incomum: quatro projeções externas em formato de torres. Foi construído no reinado do imperador Vespasiano, substituindo dois anfiteatros anteriores, o primeiro de madeira, datado do reinado de Augusto. Originalmente, ele tinha cerca de 22 mil lugares e hoje hospeda shows e concertos musicais.

Diego Delso, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

8- Anfiteatro de Pozzuoli (antiga Puteoli, Itália)

É o terceiro maior anfiteatro da Itália, e, talvez, de todo o Império Romano (disputa esta posição com o de El-Djem, uma vez que as estimativas variam), abrigando talvez até 50 mil espectadores. Situava-se no entroncamento de estradas que levavam a Puteoli vindas de Cápua, Nápoles e Cumas, o que demonstra que a região da Campânia era mesmo um polo irradiador e atrativo de espetáculos de gladiadores. Foi construído no reinado do imperador Vespasiano (quando, tudo indica, houve uma febre de construção de anfiteatros, provavelmente estimulada pela construção do Coliseu, iniciada no reinado dele) e por isso recebeu o nome de Anfiteatro Flaviano. Ainda possui, em bom estado de conservação, os corredores subterrâneos e as aberturas por onde as gaiolas com os animais eram içadas até a arena. Segundo a tradição cristã, em 305 D.C,. os mártires cristãos São Próculo e São Januário foram condenados a serem executados neste anfiteatro, mas como os animais não os atacaram, eles acabaram sendo decapitados em uma localidade próxima.

Wojtek-Rajpold, CC BY-SA 4.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0, via Wikimedia Commons

9- Anfiteatro de Mérida (antiga Emerita Augusta, Espanha)

Não é o maior da Espanha (certamente o de Córdoba e o de Itálica eram maiores) e, em termos de preservação, equivale ao de Itálica, porém escolhemos o Anfiteatro de Mérida pelo fato dele ser datado de 8 A.C, e portanto, ele é um dos mais antigos e provavelmente um dos primeiros construídos pelos romanos fora da Itália. Sua capacidade era de 15 mil espectadores.

By Daniel Di Palma – Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=134427057

10 – Anfiteatro de Uthina (atual Oudna, Tunísia)

Escolhemos o Anfiteatro de Uthina pelo seu bom estado de conservação. É um bom exemplo dos inúmeros anfiteatros espalhados pelas províncias romanas do Norte da África, o que demonstra a sua prosperidade durante o Império. Como a maior parte dos anfiteatros africanos, o de Uthina foi parcialmente escavado no solo e os degraus apoiados na encosta da elevação existente no local. Tinha cerca de 16 mil lugares e foi construído no reinado do imperador Adriano.

Hublitz, CC BY-SA 3.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0, via Wikimedia Commons

Hors-Concours – O Coliseu

A epítome de todas as arenas romanas, frequentemente os historiadores romanos referiam-se ao Coliseu apenas como: “O Anfiteatro” e, obviamente, os seus leitores saberiam imediatamente que eles estavam se referindo ao Anfiteatro Flavio, de Roma (acredita-se que este era o seu nome oficial, embora isto não conste de nenhuma inscrição ou texto antigo), pois a sua construção começou em 72 D.C, no início do reinado do imperador Vespasiano (Tito Flávio Vespasiano), ficando pronto em 80 D.C, no reinado de seu filho, Tito.

O autor, no Coliseu, no ano 2000.

O apelido “Coliseu”, do latim Colosseum, decorre, sim, de um objeto de tamanho monumental, mas não o do próprio anfiteatro, como muitos podem pensar, e sim de uma enorme estátua do imperador Nero, de mais de 30 metros de altura (ou seja, quase do tamanho do Cristo Redentor) ao lado da qual ele foi construído. Provavelmente, a plebe romana passou a dizer que ia assistir as lutas no “anfiteatro do Colosso” e o nome pegou.

Aliás, o local onde o Coliseu foi construído era ocupado antes pelo também colossal palácio construído por Nero, chamado de Domus Aurea. Inclusive, o enorme lago artificial que havia, margeado por colunatas e aposentos, e alimentado pelo aqueduto de Cláudio (Acqua Claudia), foi drenado, e a infraestrutura hidráulica aproveitada para possibilitar uma das características mais incríveis do Anfiteatro: a sua capacidade de sua arena ser enchida com água, transformando-o em uma “Naumaquia“, em que batalhas navais eram simuladas. A escolha do local certamente foi um gesto político de Vespasiano, em que ele devolvia ao povo a área que havia sido apropriada por Nero para o seu prazer pessoal, e os recursos vieram do saque à cidade e ao Templo de Jerusalém, ocorrido em 70 D.C.

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A capacidade do Coliseu é estimada entre 55 mil e 70 mil espectadores, alguns falando em 80 mil lugares. As 80 entradas em arco (sendo quatro maiores: uma exclusiva para o imperador e outras três para senadores e outros figurões), as escadarias e os setores eram numerados, assim como em um estádio moderno. O acesso e a saída das arquibancadas se dava, como nos estádios modernos, por túneis e aberturas chamados de vomitórios (vomitoria), e estudos mostram que o Anfiteatro poderia ser esvaziado em poucos minutos, graças ao primoroso projeto arquitetônico. Finalmente, havia um elaborado sistema de cobertura retrátil, o velarium, tão complexo e de fato semelhante aos cabos e velas de um navio, que tinha que ser manejado pelos marinheiros da Frota Imperial de Misenum.

Foto Wikicomons, domínio público

O Coliseu espelhava a estratificação vertical da sociedade romana, pois os lugares eram acessíveis de acordo com a classe social dos espectadores: O Imperador tinha seu camarote exclusivo, os senadores ocupavam os bancos mais próximos da arena (inclusive há vestígios de inscrições contendo nomes individuais de alguns senadores, como se fossem lugares cativos), vindo depois os Equestres, os cidadãos romanos plebeus livres, esses divididos entre ricos e pobres, e, por último, mulheres e escravos.

A fachada do Coliseu, assim como boa parte de todo seu revestimento exterior e interior é de mármore travertino (100 mil m³!), mas a sua estrutura é também em parte feita do resistente concreto romano e de tijolos. Esta fachada é de grande rigor arquitetônico clássico, pois os três andares são decorados por arcos emoldurados por meias-colunas, sendo os capitéis do estilo dórico, no primeiro (onde estão as entradas), jônico, no segundo e coríntio no terceiro. Embaixo de cada um dos arcos do segundo e terceiro andares havia uma estátua, provavelmente de divindades.

Embaixo da arena, havia um imenso labirinto de corredores e de celas para feras, e onde também havia guindastes para içamento de jaulas, constituindo um espaço subterrâneo que era chamado de “Hipogeu” (palavra grega que tem exatamente este significado). Vale citar que o Hipogeu foi construído mais tarde, durante o reinado de Domiciano, e, com isso, o Coliseu não pôde mais ser inundado, perdendo a sua breve funcionalidade como Naumaquia.

Segundo o historiador Cássio Dião, nos jogos inaugurais do Coliseu, em 80 D.C, foram mortos 9 mil animais e um número desconhecido de gladiadores. As lutas de gladiadores foram proibidas pela primeira vez pelo Imperador Romano do Ocidente, o cristão Honório, em 399 D.C, mas há registros de que elas voltaram a ser travadas e, no Coliseu, somente cessaram de vez em 435 D.C. E mesmo após a Queda do Império Romano do Ocidente, em 476 D.C, espetáculos de caçadas e lutas de animas (venationes) continuaram a serem organizados ali pelo menos até 523 D.C.

Como diria Maximus Decimus Meridius: “Vocês ficaram entretidos?” kkkk