ARQUEOLOGIA
Durante séculos, os arqueólogos que trabalharam nas escavações das cidades soterradas pela erupção do Vesúvio em 79 D.C notaram uma particularidade: Em Pompéia foram achados muitos restos humanos, sobretudo em cavidades formadas nos depósitos de detritos, que, preenchidas por resina, resultaram nos impressionantes figuras moldadas de pessoas e animais que os turistas ainda hoje podem ver quando visitam a cidade (Técnica inventada por Giuseppe Fiorelli, em 1864, vide foto abaixo).
Contudo, na vizinha Herculano, quase nenhum vestígio das vítimas daquela catástrofe havia sido achado, sendo que, embora sendo uma cidade bem menor do que Pompéia, Herculano tinha cerca de 5 mil habitantes.
A explicação mais aceita era a de que Herculano era uma espécie de balneário chique à beira-mar, e os seus ricos habitantes deviam ter conseguido fugir em massa da vila, usando até barcos particulares.
Entretanto, em 1982, um arqueólogo fez uma impressionante descoberta: ao escavar as grandes arcadas dando entrada para as massivas galerias que eram utilizadas como garagem para barcos, de frente para a antiga praia em frente a Herculano, um trecho que tinha sido totalmente soterrado pelos detritos da erupção do vulcão, ele encontrou os esqueletos de cerca de trezentas pessoas.
(Garagem dos barcos em Herculano, com os esqueletos das vítimas, foto de
)
Quase todos os esqueletos estavam dentro das garagens, separados por sexo e idade (homens separados de mulheres).
E um achado, em especial, intrigou os arqueólogos: mais afastado das garagens, eles encontraram um esqueleto de um homem de cerca de 40 anos de idade e 1,70m de altura, que ainda portava um cinturão com uma espada (gládio) embainhada, colada ao lado direito de sua cintura. O corpo recebeu a identificação de indivíduo E26. (vide foto abaixo).
O cenário e a posição em que o cadáver foi encontrado deixavam claro que o homem estava do lado de fora das garagens, na praia e voltado para a direção do mar, quando ele foi atingido pela massiva explosão piroplástica do Vesúvio, tendo o seu corpo sido instantaneamente calcinado.
Não havia nenhum barco dentro das garagens e alguém obviamente tinha organizado as pessoas para que, de maneira ordeira, separassem-se em grupos de homens e mulheres e crianças, que, infelizmente, também morreram imediatamente devido à nuvem de calor de cerca de 500 graus. A erupção foi relatada pelos historiadores antigos, destacando-se a descrição feita por Plínio, o Jovem, que presenciou a tragédia.
Plínio narra que seu tio, Gaius Plinius Secundus, (Plínio, o Velho) era comandante da frota imperial em Miseno, a 30 km de Pompéia e Herculano. Plínio, o Velho, quando presenciou a erupção do vulcão, começou a receber pedidos de ajuda de habitantes das cidades afetadas e montou uma operação de resgate usando os navios da esquadra. Ele mesmo chegou a desembarcar na cidade de Stabiae, para resgatar conhecidos seus, porém, devido aos ventos desfavoráveis, o navio não conseguiu regressar e ele acabou morrendo no local.
CONCLUSÃO
Portando um gládio militar, com uma bainha e cinturão muito bem decorados, o homem caído na praia certamente era um militar, provavelmente um oficial, já que seu esqueleto também apresentava marcas típicas de quem costumava cavalgar. É até possível que ele fosse um dos integrantes da operação comandada por Plínio, o Velho.
(Reprodução da espada e cinturão do indivíduo E26. A qualidade do material permite supor que se tratava ao menos de um centurião)
Nossa opinião é que o oficial E26 morreu enquanto esperava a volta da frota, que deve ter passado por Herculano em direção à Stabiae. Enquanto isso, ele deve ter organizado a retirada dos últimos habitantes de Herculano.
Não havia mais barcos e a frota era a única esperança deles saírem dali. Eles não sabiam o que era um erupção vulcânica e as garagens, muito bem construídas com paredes grossas, devem ter parecido ao E26 um lugar seguro para aguardar o socorro.
O fato é que E26 morreu em seu posto, no cumprimento do dever e não abandonou as pessoas que dependiam dele. Felizmente, tudo indica que a onda de calor chegou tão rápida e violentamente que as pessoas no local sequer tiveram tempo de perceber antes que seus cérebros praticamente vaporizassem e explodissem dentro dos crânios.
Por tudo isso, homenageamos o soldado E26 e todos militares, bombeiros e policiais que porventura morreram ou se arriscam para garantir a nossa segurança.