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Consta que Benedictus (Bento) nasceu em 02 de março de 480 D.C, em Nursia, atual Norcia, cidade situada na região da Úmbria, na Itália.
(Detalhe do São Bento de Núrsia, de Fra Angelico)
Segundo a tradição católica, Bento seria filho de Anicius Eupropius e de Claudia Abondantia e nasceu em Nursia junto com sua irmã gêmea Scholastica (Escolástica), quem futuramente, também viria a ser canonizada.
(Panorama da atual Norcia, na Itália)
Caso verdadeira a filiação de Bento, ele seria membro de uma das mais ilustres famílias da nobreza senatorial do Baixo Império Romano, os Anícios, e uma das primeiras a abraçarem o Cristianismo, ainda nos tempos de Constantino, o Grande.
(Relevo em marfim de Anicius Faustus Albinus Basilius, o último Cônsul do Império Romano, no ano de 521 D.C, talvez um parente distante de São Bento de Núrsia)
Durante sua juventude, Bento foi enviado para Roma para estudar retórica e filosofia, como era comum entre integrantes da aristocracia italiana. Ainda segundo a tradição, em Roma, Bento se escandalizou com a decadência moral da Cidade Eterna, que naqueles tempos, era, na prática, governada pelo Senado Romano, desde a Queda do Império Romano, em 476 D.C, ocorrida com a deposição do último imperador romano, Rômulo Augústulo, pelo chefe bárbaro Odoacro, que se autoproclamou “Rei da Itália”.
Abandonando a corrupta Roma, por volta do ano 500, Bento foi para o vilarejo de Enfide (atual Affile, em Subiaco, na região do Lácio), onde, ajudado por um monge chamado Romanus, foi viver em uma caverna como eremita, uma opção de vida religiosa muito frequente no final do Império Romano. Durante os três anos que passou como eremita, Bento passou a ser referência espiritual para os pastores e habitantes daquela região, sendo que em Affile teria ocorrido o primeiro milagre a ele atribuído.
(Vista da atual Affile, a antiga Enfide, onde teria ocorrido o primeiro milagre de São Bento)
Quando o abade do vizinho monastério de Vicovaro morreu, a comunidade cristã procurou Bento e pediu que ele ocupasse o posto vago. Contudo, como abade, Bento tentou implantar uma estrita disciplina, o que desagradou os monges daquele monastério, que, segundo consta, tentaram até envenená-lo, sem sucesso. Após algumas maquinações do invejoso padre Florentius, Bento foi forçado a deixar o Monastério, mas, após a sua saída, ele fundou doze outros mosteiros nas vizinhanças de Subiaco.
Em 530 D.C, Bento fundou o grande Monastério de Monte Cassino (que apesar de destruído pelo bombardeio aliado durante a 2ª Guerra Mundial, foi inteiramente reconstruído).
Foi em Monte Cassino que Bento, aproveitando uma regra anterior, redige a “Regula Monasteriorum“, que ficaria célebre como a “Regra de São Bento“, contendo 73 artigos, os quais regulavam a vida espiritual e terrena dos monges, além de estipularem normas de como administrar um monastério com eficiência, dispondo até sobre a divisão do tempo diário para os monges: oito horas de descanso, oito horas de oração e oito horas de trabalhos diversos. A regra de ouro, como ficaria conhecida, é “Ora et labora” (reze e trabalhe).
(Cópia mais antiga da Regula Monasteriorum, de São Bento, datada do início do século VIII D.C.)
São Bento morreu em 21 de março de 543 D.C, em Monte Cassino (há uma versão de que foi no ano de 547 D.C). Tempos depois, Escolástica também seria enterrada no mesmo Monastério que o irmão.
Embora já houvesse vários monastérios nos territórios ocidentais do Império Romano, São Bento é considerado o fundador do Monasticismo Ocidental. O Mosteiro de Monte Cassino, com suas diversas atividades laborativas e o seu “Scriptorium” (sala onde eram produzidos os livros canônicos, e também copiados os textos da literatura latina e grega), bem como a Regra de São Bento, influenciaram os monastérios posteriores da chamada “Ordem Beneditina“, que deve o seu nome a São Bento, e todos teriam capital influência na difusão do Cristianismo pelo Mundo, e, não menos importante, na preservação do conhecimento da Antiguidade Clássica, permitindo que a herança greco-romana fosse transmitida até os nossos dias.
(Relevo de marfim do século X, mostrando o que parecem ser monges produzindo ou copiando livros em um Scriptorium – Vienna, Kunsthistorisches Museum).
Aqui vão algumas citações dos ensinamentos de São Bento:
“1- O primeiro degrau da humildade é a pronta obediência;
2- O dorminhoco adora se desculpar;
3- Cuide em ser gentil, a fim de que, ao remover a ferrugem, não se quebre todo o instrumento;
4- A oração deve ser curta e pura, a não ser que sua duração seja prolongada por inspiração da Graça Divina;
5- Aquele que não para de falar, não consegue evitar de pecar;
6- O ócio é o inimigo da alma;
7- Está de fato escrito que o vinho de jeito algum é uma bebida para monges, mas, considerando que não se consegue persuadir disto os monges de hoje, pelo menos os deixem beber moderadamente, e não até se saciarem, pois “o vinho faz até o sábio se perder” (Eclesiastes, 19:2);
8- Deixem que todos os hóspedes que chegarem sejam recebidos como se fossem Cristo, pois Ele dirá “Eu vim como hóspede e vocês receberam-Me” (Mateus, 25:35).”
No calendário da Igreja Católica, atualmente o dia 11 de julho é o dia de São Bento de Núrsia