ANTÔNIA, A JOVEM

Copenhagen, New Carlsberg Glyptotek. Agrippina the Younger. Marb
Copenhagen, New Carlsberg Glyptotek. Agrippina the Younger. Marble. 1st century A.D. Inv. No. 743.

Em 31 de dezembrode 36 A.C., nasceu, em Atenas, Grécia, Julia Antonia Minor (Antônia, a Jovem), a segunda filha do Triúnviro Marco Antônio e de Otávia, a Jovem, irmã mais velha de Otaviano, que mais tarde se tornaria o futuro imperador Augusto.

(Marco Antônio e Otávia, a Jovem, pais de Antônia, a Velha)

Quando Antônia, a Jovem veio ao mundo, Marco Antônio já tinha abandonado a sua mãe para ir viver com a rainha do Egito, Cleópatra, com quem ele já tinha, inclusive, tido dois filhos, em Alexandria, sendo este um dos pretextos para o rompimento com Otaviano, o que levaria ao fim do Triunvirato e começo da Guerra Civil. Assim, Antônia nunca chegou a conhecer pessoalmente o próprio pai, que cometeu suicídio no Egito, em 30 D.C., quase um ano após ele e Cleópatra serem derrotados por Otaviano, na Batalha de Actium.

Ainda em 36 A.C, Otávia, a Jovem voltou para Roma, levando Antônia e sua irmã mais velha, que também tinha o nome de Antônia ( para diferenciar as irmãs, esta era chamada de Antonia Major ou Antônia, a Velha).  Lá em Roma também moravam os três filhos do casamento anterior de Otávia com Caio Cláudio Marcelo, o Jovem.

Em 16 A.C., quando tinha 20 anos, Antônia casou com Nero Claudius Drusus (Druso, o Velho), o segundo filho do primeiro casamento da Imperatriz Lívia Drusila, a influente esposa de Augusto. Assim, Antônia,  que já era sobrinha de Augusto, passou a ser  também cunhada de Tibério, o filho mais velho de Lívia, que, anos mais tarde, seria adotado por Augusto, tornando-se herdeiro do trono por direito.

800px-Drusus_l'ancien_Rome_augGP2014.jpg

(Nero Cláudio Druso, primeiro e único marido de Antônia, a Velha,)

Do casamento de Antônia com Druso, que morreria das sequelas de uma queda de cavalo, quando em campanha na Germânia, em 9 A.C., nasceram Germânico, que se tornaria um general de prestígio e figura muito popular entre o povo romano,  e também (além de outras crianças mortas prematuramente) Livilla e o caçula Cláudio, que, durante a infância e mesmo a juventude, foi considerado incapaz, devido a uma doença que o fazia gaguejar e babar. Consta que, por esse motivo, Antônia rejeitava o menino, referindo-se a ele como “um monstro, inacabado pela Natureza“.

(Germânico, Livilla e Cláudio, os filhos de Antônia, a Jovem)

Antônia, ao tornar-se viúva, jamais quis se casar novamente, apesar da insistência do imperador Augusto, uma atitude que engrandeceu a reputação dela perante a opinião pública. Ela também herdou as vastas propriedades e as muitas conexões de seu pai Marco Antônio no Oriente. Por isso, a sua casa em Roma vivia cheia de príncipes e dignatários orientais, especialmente judeus.  Inclusive o futuro tetrarca da Galileia, Herodes Agripa, foi educado em Roma junto com seu filho caçula Cláudio.

agrippa th

Em 1 A.C., Livilla, a filha de Antônia, casou-se com Gaius Caesar (Caio César), neto de Augusto, que, naquele momento, era, juntamente com o seu irmão, Lucius Caesar (Lúcio César), o filho adotivo e o herdeiro oficial de Augusto. Entretanto, os dois irmãos morreriam cedo: Lúcio, em 2 D.C. e Caio, em 4 D.C.

(Caio César e Lúcio César)

Augusto, que tinha visto todos os seus herdeiros preferidos morrerem, foi, então, obrigado a adotar Tibério, em 4 D.C.,  exigindo, porém, que este, por sua vez, adotasse Germânico, o filho mais velho de Antônia.

Em seguida, naquele mesmo ano de 4 D.C., dentro do rearranjo dinástico que Augusto estava promovendo, Livilla casou-se com seu primo Drusus Julius Caesar (Druso, o Jovem), filho de Tibério.

Drusus_minor_(Museo_del_Prado)_01

(Druso, o Jovem)

Quando Tibério finalmente ascendeu ao trono em 14 D.C., após a morte de Augusto, parece que a imensa popularidade que o jovem general Germânico estava obtendo com suas campanhas militares na Germânia, bem como a independência com a qual ele agia, assustaram o segundo imperador.

Em 19 D.C., Germânico morreu misteriosamente em Antioquia, supostamente envenenado pelo governador da Síria, e as suspeitas recaíram sobre Tibério e Lívia, como mandantes do crime. A comoção popular foi gigantesca.  Antônia não compareceu ao velório do filho, evento ao qual o imperador e sua mãe também não foram. Especula-se que TibérioLívia tenham proibido a presença dela, mas também é possível que ela tenha ficado abalada demais ou estivesse doente.

Não obstante, os relatos fazem presumir que Antônia continuou apoiando Tibério e não deu suporte às acusações que a viúva de Germânico, Agripina, a Velha reiteradamente fazia a ambos.

Nicolas_Poussin_-_La_Mort_de_Germanicus,_1627_(vers)

(A Morte de Germânico, de Nicolas Poussin – 1627)

Druso, o Jovem agora era o único herdeiro do trono e Antônia certamente devia dar como certo que sua filha se tornaria imperatriz. Seria o coroamento de uma presumível estratégia sua de unir mais ainda os ramos dos Júlios e dos Cláudios

Porém, aparentemente Livilla tinha outras intenções, e estas pareciam incluir o poderoso Prefeito Pretoriano Lucius Aelius Sejanus (Sejano). O ambicioso Sejano, por volta de 21 D.C. exercia considerável influência sobre Tibério, que, avesso às intrigas da Corte, em Roma, cada vez mais, delegava os assuntos da administração para o auxiliar.  Encorajado pela ascendência que demonstrava ter sobre o imperador, e talvez movido pelo desejo de suceder o já velho Tibério, Sejano tramava contra todos que julgava estar em seu caminho.

A proeminência de Sejano colocou-o em rota de colisão com Druso, o Jovem. E, segundo os relatos dos historiadores antigos, Sejano conseguiu seduzir a própria esposa do rival, Livilla, de quem ele tornou-se amante.

Em 23 D.C., Druso, o  Jovem, morreu, acometido de uma doença misteriosa. Devastado, Tibério largou de vez o Império nas mãos de Sejano e, em 26 D.C., o imperador exilou-se voluntariamente na Ilha de Capri, em sua magnífica Villa (vide foto das ruínas, abaixo).

villa jovisUnknown_d_0_0_800.20170804192902

Sejano aproveitou para perseguir sua desafeta, Agripina, a Velha, viúva de Germânico, e os filhos dela, especialmente Druso César e Nero César, que tinham sido adotados por Tibério após a morte do filho e passaram a ser os herdeiros oficiais do trono. Agripina e seus dois filhos foram acusados de crimes contra os costumes perante o Senado, mas somente após a morte da imperatriz Lívia, em 29 D.C., Sejano conseguiu obter o exílio deles, em 30 D.C..

Agrippina_Major_portrait_Istanbul_Archaeological_Museum_-_inv._2164_T

(Agripina, a Velha)

Com a morte de Lívia,  os filhos de Germânico, Calígula e  Drusila, que moravam com ela, foram viver com Antônia, que passou a ser a grande matriarca da dinastia dos Júlio-Cláudios. Consta que, certa vez, enquanto o casal de netos já vivia com Antônia, ela teria surpreendido Calígula e sua irmã Drusila na cama (Suetônio, “Vida de Calígula“, 24, 1).

Não se sabe se o referido incesto foi uma das causas, mas pouco depois do episódio, Calígula foi morar com Tibério, em Capri.

(Calígula e sua irmã, Drusila)

Para grande surpresa de todos, em 31 D.C., Sejano foi acusado em uma carta de Tibério lida no Senado, e, imediatamente preso e executado.

Segundo as fontes, foi Antônia quem denunciou os crimes de Sejano a Tibério, por meio de uma carta que ela enviou ao imperador em Capri, detalhando os atos conspiratórios do subordinado. O mensageiro foi o antigo escravo e liberto de Antônia, Marcus Antonius Pallas, sendo o episódio relatado pelo historiador judeu romanizado Flávio Josefo, em sua obra “Antiguidades Judaicas” (em outra versão, foi a ex-escrava, e também liberta de Antônia, Antonia Caenis, quem portou a carta).

Após as execuções de Sejano e de seus filhos, a viúva de Sejano, Apicata, transtornada, denunciou a Tibério que o seu falecido marido, ajudado por sua amante Livilla, foi o responsável pelo envenenamento do filho do imperador, Druso, o Jovem, ocorrido oito anos antes.

Entretanto, tão grande era agora o respeito que Tibério demonstrava em relação a Antônia, que, ao invés de mandar executar Livilla, o imperador entregou-a à mãe, na casa de quem a nora deveria ficar em prisão domiciliar. Então, segundo o historiador romano Dião Cássio, Antônia teria mandado trancar a filha em um quarto, no qual a severa matrona teria deixado Livilla morrer de fome.

oecus th

Após a morte de Tibério, em 37 D.C., Calígula assumiu o trono e, inicialmente, agiu com reverência para com sua avó Antônia, fazendo o Senado decretar que ela recebesse todas as homenagens que Lívia havia recebido, incluindo o título de “Augusta”, que, entretanto, teria sido recusado por Antônia.

Todavia, Suetônio relata que logo o tratamento que Calígula  dispensava à Antônia amoldou-se ao padrão tirânico e tresloucado que passou a marcar o seu reinado. Certa vez, ao receber um conselho da avó, Calígula teria respondido, com rudeza: “Lembre-se de que eu tenho o direito de fazer o que quiser a qualquer um” (Suetônio, “Vida de Calígula“, 29, 1). Depois, Calígula passou a só aceitar receber Antônia na presença do Prefeito Pretoriano Macro (Suet. “Vida de Calígula”, 23, 2).

Talvez abalada por esses desaforos do neto, Antônia, a Jovem faleceu, em 1º de maio de 37 D.C., com a idade avançada de 72 anos. Segundo o relato, Calígula não compareceu ao velório público da avó, preferindo assistir à cremação do corpo dela da varanda de sua sala de jantar.

300pyre

Como assassinato de Calígula, em 41 D.C., Cláudio, o filho tão rejeitado por Antônia, tornou-se imperador. Um dos primeiros atos dele foi conferir, pela segunda vez, o título de “Augusta” à falecida mãe, além de decretar a celebração de jogos em comemoração ao aniversário dela.

800px-Claudius_crop

Postumamente, através de seus libertos Pallas e Antonia Caenis, Antônia exerceu muita influência nos reinados de Cláudio e Nero, e, mesmo após o fim da dinastia dos Júlio-Cláudios, no reinado de Vespasiano.

Pallas, por exemplo, foi  o poderoso Secretário do Tesouro de Cláudio e Nero, tornando-se também um dos homens mais ricos do Império. Ele apoiou Agripina, a Jovem, sobrinha de Cláudio e mãe de Nero, ajudando-a tornar-se imperatriz. Nesse particular, parece que Pallas absorveu e deu continuidade ao já referido desígnio de sua antiga senhora, Antônia, de reforçar os laços dinásticos entre os Júlio-Claudios.

Além disso, Antonia Caenis, por exemplo, foi amante e companheira de toda a vida de Vespasiano, e tudo indica que ela persuadiu a sua senhora, Antônia, a ajudá-lo bastante em sua carreira pública, especialmente durante o reinado de Cláudio. E, quando Vespasiano tornou-se imperador, Antonia Caenis passou a ocupar a posição equivalente a de uma imperatriz de fato, embora não de direito.

CONCLUSÃO

Dentro dos estritos limites que a sociedade patriarcal romana reservava às mulheres, Antônia, a Jovem conseguiu ter um papel relevante na História de Roma. Ela foi importante para assegurar a consolidação da dinastia dos Júlio-Cláudios., que, sem ela, bem poderia ter terminado com o reinado de Tibério

92001029

(Aureus – moeda de ouro – com a efígie de Antônia Augusta, cunhada no reinado de seu filho, Cláudio)

Siga as atualizações do blog no twitter @aulusmetelus

Um comentário em “ANTÔNIA, A JOVEM

Deixe um comentário