Em 16 de setembro de 307 D.C., o Imperador Romano Flávio Severo foi executado por ordens do seu colega Galério, na estalagem chamada Tres Tabernae, que era um tradicional ponto de pernoite na Via Ápia para os viajantes que rumavam em direção à Roma, que ficava a 50 km de distância.
Flavius Valerius Severus (Severo) era mais um dos muitos oficiais de origem ilíria que, durante a segunda metade do século III D.C. e o início do século seguinte, assumiram o comando do Exército Romano e, valendo-se desta posição, alcançaram o trono imperial. O mais importante dos generais desse período foi Diocleciano, que reorganizou militar e administrativamente o Império Romano, a partir da sua coroação, em 284 D.C.
Entre as inovações introduzidas por Diocleciano no Império estava a divisão do poder imperial, que costumava ficar centralizado na pessoa de um só monarca, que governava a partir da cidade de Roma, entre quatro governantes: dois deles mais graduados, que detinham o título de “Augustos“, com as respectivas capitais em Milão e Nicomédia, e os outros dois, situados em plano um pouco inferior e subordinados aos primeiros, intitulados “Césares“, instalados em Trier e Sirmium. Esse novo regime de quatro governantes imperiais recebeu o nome de “Tetrarquia“.
De acordo com o plano de Diocleciano, a sucessão dos Augustos deveria ocorrer-automaticamente, com a substituição deles pelos Césares que lhes eram subordinados, motivada pela morte, incapacidade ou aposentadoria dos primeiros sendo que, em seguida, os novos Augustos nomeariam dois novos Césares, e assim por diante.
Inicialmente, as coisas ocorreram de acordo com o plano de Diocleciano (que já havia escolhido seu amigo e colega de generalato, Maximiano, como Augusto, em 286 D.C.)., e os dois, por sua vez indicaram, em 293 D.C, outros dois generais, Galério e Constâncio Cloro, para o posto de Césares.
Assim, garantida pela incansável energia e o enorme prestígio de Diocleciano, a Tetrarquia, aparentemente, estreara bem.
Porém, em 305 D.C., Diocleciano, aos 60 anos de idade, doente e sentindo-se cansado, resolveu se aposentar, abdicando em favor de Galério. Essa era a primeira vez, após mais de três séculos de Império Romano, que um imperador abdicava voluntariamente do trono.
Diocleciano foi viver em seu espetacular palácio-fortaleza construído na cidade de Salona, em sua terra natal, na Dalmácia. Boa parte desse palácio ainda existe e em seu vasto interior nasceu a atual cidade de Split, na Croácia.
Seguindo, naquela oportunidade, as regras da Tetrarquia, o colega de Diocleciano, Maximiano, também abdicou em favor de Constâncio Cloro. A grande expectativa agora era em relação a quem seriam os novos Césares…
A maioria do público achava que Maxêncio, o filho de Maximiano, e Constantino, o filho de Constâncio Cloro, seriam os prováveis escolhidos.
Porém, grande foi a surpresa quando os nomes de Maximino Daia, que era sobrinho de Galério, e do general Flávio Severo, que era um velho camarada de armas e amigo de Galério, foram anunciados. A Tetrarquia, que mal havia começado, já nascia, assim, ameaçada em sua estabilidade pelo preterimento de dois candidatos naturais à sucessão.
No caso de Severo, o espanto da sua coroação foi ainda maior, diga-se de passagem, pelo fato dele ser um notório beberrão.
Os primeiros a transformarem em ações a sua insatisfação com a sucessão ‘tetrárquica” foram Constantino e seu pai., que se encontravam em campanha na Britânia (Constantino, que vivia na condição de virtual refém de Galério, em Nicomédia, havia conseguido arrancar deste imperador uma autorização relutante para auxiliar Constâncio Cloro, que estava muito doente).
Em 25 de julho de 306 D.C., na cidade de Eburacum (atual York), Constâncio Cloro morreu, não sem antes dar o sinal verde ao filho para lutar pelo trono. Imediatamente, Constantino foi aclamado Augusto pelos soldados, por iniciativa do chefe germânico Chrocus, um bárbaro alamano a serviço de Roma, que, à maneira dos Germanos, mandou os seus homens erguerem Constantino em cima de um escudo.
Quando a notícia chegou à Nicomédia, Galério ficou enfurecido, mas premido pelas circunstâncias, ele acabou reconhecendo a aclamação de Constantino, mas conferindo-lhe o posto menor de César.
Porém, para suceder o falecido pai de Constantino na posição de Augusto do Ocidente, Galério, nomeou o César de Constâncio Cloro, o seu velho amigo Severo , ainda durante o verão daquele ano de 306 D.C, o que ainda estava de acordo com as regras da Tetrarquia.
Entretanto, em Roma, a Tetrarquia logo sofreria um novo abalo, em adição à aclamação de Constantino, uma vez que, em Roma, Maxêncio também se revoltou terminando por ser aclamado imperador pelas tropas remanescentes da Guarda Pretoriana, em 28 de outubro de 306 D.C. (estava nos planos de Galério extinguir a Guarda).
Ao saber da nova revolta, Galério ordenou que Severo deixasse a sua capital em Milão e marchasse com o seu exército até Roma para sufocar a rebelião. Ocorre que a maior parte das tropas do exército de Severo tinha sido comandada anteriormente pelo imperador-aposentado Maximiano, que era ninguém menos do que pai do revoltoso Maxêncio…
Maxêncio mandou emissários ao pai propondo dividir com ele o posto de Augusto do Ocidente. Assim, quando Severo alcançou as muralhas de Roma, as tropas dele desertaram e se uniram ao seu antigo comandante e a Maxêncio.
Sem alternativa, Severo fugiu para Ravena, onde ele entrincheirou-se atrás dos impenetráveis pântanos que circundavam a posição da cidade (uma característica estratégica que influenciaria muitos acontecimentos durante a História do Baixo Império Romano e até na Idade Média)
Sabendo da dificuldade de tomar Ravena, Maximiano ofereceu a Severo a proposta de que a sua vida seria poupada e ele receberia um tratamento digno caso ele se rendesse pacificamente. Severo, provavelmente por julgar que sua situação já estava muito enfraquecida, aceitou. Porém, quando ele se entregou a Maximiano, por volta de abril de 307 D.C., foi preso e enviado para a estalagem de Três Tabernas, na Via Ápia.
Quando Galério, conduzindo o seu exército, finalmente invadiu a Itália para combater a rebelião dos usurpadores, o seu amigo Severo foi assassinado, em 16 de setembro de 307 D.C.. por ordens de Maxêncio (Em outra versão, Severo teria sido forçado a cometer suicídio).
O filho de Severo, Flávio Severiano, conseguiu escapar e foi se refugiar na corte de Galério, em Nicomédia, na Bitínia (atual Izmir, na Turquia).
Galério, contudo, não conseguiu fazer uma campanha bem sucedida contra Maximiano e Maxêncio, e, temendo a falta de víveres, ele teve que se retirar da Itália.
Em 308 D.C., Galério, contando com a ajuda de Diocleciano, preocupados com a situação caótica em que a Tetrarquia se encontrava, convocou os rivais para uma conferência em Carnuntum, cidade fortificada situada no sudeste da atual Áustria.
A Conderência de Carnuntum resultou em um acordo que estabelecia um equilíbrio precário: Maximiano, que agora estava rompido com Maxêncio, pelo fato dele ter censurado a conduta que o filho vinha tendo como governante em Roma, e tinha ido se refugiar junto a Constantino, na Gália, foi compelido a se aposentar novamente. Maxêncio foi declarado um usurpador. Constantino, que tinha se aliado com Maximiano e Maxêncio, teve o seu posto de “César” confirmado, o mesmo ocorrendo com Maximino Daia, no Oriente (para o desagrado de ambos, que reivindicavam o título de Augusto, o que eles acabariam conseguindo, em 310 D.C.).
Para aumentar os fatores de instabilidade, Galério nomeou Licínio, que era outro amigo e companheiro de armas seu, para ser o Augusto do Ocidente.
Quando Galério morreu, em 5 de maio de 311 D.C., Maximino e Licínio dividiram entre si as províncias do Oriente. Esse acordo, porém, teve vida curta, porque Licínio preferiu aliar-se a Constantino, e Maximino Daia, a Maxêncio, que foi derrotado e morto por Constantino em Roma, na Batalha de Ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312 D.C.
Quando Licínio atacou e derrotou Maximino Daia, em 30 de abril de 313 D.C, Flávio Valeriano, o filho de Severo, que tinha sido nomeado por Maximino governador da Isáuria, foi considerado por Licínio como uma ameaça à sua legitimidade ao trono e, em decorrência disso, ele foi executado.
A Tetrarquia havia durado apenas 20 anos e falhara em seu principal propósito de dar estabilidade ao Império Romano e resolver o problema da sucessão.