TEODÓSIO – A IGREJA NO PODER

Em 11 de janeiro de 346 D.C, em Cauca (Coca), a 50 km da atual cidade de Segóvia, na província romana da Hispania Gallaecia, nasceu Flavius Theodosius (o futuro imperador romano Teodósio), filho de seu pai homônimo, Flavius Theodosius (Conde Teodósio”, e de Flavia Thermantia (Termântia).

O pai de Teodósio, chamado de “Teodósio, o Velho“, pelos historiadores, para distingui-lo do filho que viria a se tornar imperador, foi um renomado general, também nascido na Hispânia, que teve uma brilhante carreira durante o reinado do imperador Valentiniano I, sendo, em 368 D.C, designado para ocupar o cargo de Conde (Comes) da Britânia, onde, acompanhado do filho, derrotou uma insurreição promovida por tropas romanas amotinadas aliadas a tribos bárbaras.

Posteriormente, Teodósio, “o Velho” foi promovido ao importantíssimo posto de Comandante-em-chefe de Cavalaria do Exército Romano (Magister Equitum) e, novamente acompanhado do filho Teodósio, teve decisiva atuação na campanha contra os bárbaros Alamanos.

Em 373 D.C, o jovem Teodósio já tinha prestígio próprio bastante para ser apontado por Valentiniano I como governador da Moésia superior e Duque (Dux, ou seja, comandante militar daquela província), onde combateu com sucesso os Sármatas.

Enquanto isso, Teodósio, “o Velho” foi enviado à província da Mauritânia, na África, para combater a rebelião de Firmus Mouro, um nobre berbere que ocupava um comando militar no exército romano naquela província. Após uma duríssima campanha, o pai de Teodósio conseguiu derrotar a insurreição e Firmus cometeu suicídio.

Em 375 D.C, Valentiniano I, o último imperador romano que efetivamente comandou um exército poderoso, faleceu após mais um dos seus temidos ataques de fúria, que desta última vez foi causada pelo comportamento insolente de embaixadores da tribo dos Quados, explosão que lhe causou um derrame em plena audiência.

Não se sabe exatamente o motivo, mas, logo após a morte de Valentiniano I, o pai de Teodósio foi preso, quando ainda estava em Cartago, e ali mesmo executado. Muito provavelmente essa execução estava ligada à crise causada pela inesperada sucessão do imperador falecido, quando alguns generais do exército romano, notadamente o general de origem franca Merobaudes aclamaram como imperador Valentiniano II, com apenas 4 anos de idade, forçando Graciano, o filho mais velho de Valentiniano I, então com 16 anos de idade, a aceitar o irmão como co-imperador do Ocidente (Assim, inaugurando uma tendência que dominaria as últimas décadas do império romano: a escolha de imperadores fantoches por comandantes militares de origem bárbara).

Essa solução acabou sendo aceita também por Valente, irmão de Valentiniano I, que, desde 364 D.C., reinava sobre a metade oriental do Império, em Constantinopla. Desse modo, é bem possível que o Conde Teodósio tenha sido executado por ter sido contra aquela manobra, ou, ainda, por ser percebido como um obstáculo ao projeto de poder de Merobaudes.

Teodósio, por sua vez, no mesmo ano em que ocorreu a morte do pai, foi destituído de seu comando e voltou para as terras de sua família, na atual Galícia, dedicando-se aos seus assuntos privados. Discute-se se esse “exílio” de Teodósio foi devido à desgraça do pai ou se foi por causa da derrota de duas legiões que ele comandava para os Sármatas, em 374 D.C. Nesse caso, isso teria sido uma punição infligida ainda em vida por Valentiniano I, que, notoriamente, não tolerava as derrotas de seus generais,  a quem ele frequentemente responsabilizava pelos erros de seus subordinados.

Todavia, em 378 D.C, uma das maiores catástrofes militares sofridas pelos romanos, e talvez a que tenha acarretado as piores consequências, mudaria para sempre a sorte de Teodósio.

Cerca de 200 mil Godos, após cruzarem a fronteira romana do rio Danúbio, procurando asilo motivado pela sucessão de migrações causadas pelo avanço das tribos hunas em direção ao Ocidente, acabaram se revoltando, invadindo a província romana da Trácia.. O efetivo militar dos Godos é calculado entre 20 e 30 mil homens.

Ao saber da invasão, Valente, o Imperador Romano do Oriente, comandando todo o seu exército e sem esperar pelo auxílio das tropas de seu sobrinho Graciano, Império Romano do Ocidente, resolve atacar sozinho os bárbaros, que, liderados pelo Chefe Fritigern, se encontravam entrincheirados próximos à cidade de Adrianópolis, em uma boa posição defensiva, protegidos por um círculo de carroções parecidos com os dos pioneiros do Velho Oeste americano (formação conhecida como “laager“), sem se dar conta de que a cavalaria Goda estava ao largo. Assim, deu-se o desfecho trágico e antes que a noite do dia 09 de agosto de 378 D.C. terminasse, dois terços do exército romano, cerca de 40 mil soldados, morreriam na chamada Batalha de Adrianópolis, incluindo o imperador Valente, cujo corpo jamais foi encontrado em meio à montanha de cadáveres, vários generais e centenas de oficiais.

(Foto 1: Moeda Solidus de Valente; Foto 2: Círculo defensivo de carroções)

A morte de Valente automaticamente tornaria seu sobrinho Graciano, o Imperador Romano do Ocidente (lembrando que a Itália, da África e de parte da Ilíria, eram formalmente governadas pelo seu irmão Valentiniano II, de apenas 7 anos de idade) o governante também do Oriente.

Com os Godos à vontade para se locomoverem nos Bálcãs ( o que ameaçava a própria Itália), sem opções militares, tendo em vista que mal acabara de concluir uma campanha contra os Alamanos, poucos meses antes do desastre de Adrianópolis, e não havendo mais generais experientes no Oriente, Graciano resolve chamar Teodósio de seu retiro na Espanha e, em raro gesto de desprendimento somado à necessidade, o nomeia Augusto, em 19 de janeiro de 379 D.C, entregando-lhe o trono da metade oriental do Império Romano.

Obviamente que o primeiro problema que o novo Imperador Romano do Oriente teve que enfrentar foi a ameça dos Godos, que pilhavam à vontade a Trácia e a Ilíria, somente sendo incapazes de sitiar com sucesso cidades protegidas por boas muralhas, por falta do “hardware” e do “know-how” necessários para esta difícil tarefa.

Para isso, ele precisava de tropas e ele tentou formar um exército, convocando veteranos e até trazendo unidades do Egito. Segundo o historiador pagão Zózimo, Teodósio também recrutou amplamente guerreiros bárbaros, observando que as tropas do Egito acabaram tendo a disciplna severamente enfraquecida pelo convívio com os indisciplinados germanos.

Neste ponto, deve ser observado que o Exército Romano do Oriente sofrera duas grandes derrotas no espaço de quinze anos. Em 363 D.C, a invasão da Pérsia pelo Imperador Juliano resultara em uma grave derrota, com o imperador sendo ferido no campo de batalha e morrendo em sua tenda. E agora, pouco antes da ascensão de Teodósio, dois terços do exécito tinham sido aniquilados em Adrianopla.

O problema do recrutamento sempre foi recorrente durante o Império Romano. A Itália, esteio principal do Exército durante a República, ao longo do Império cessou de contar como fornecedora de tropas. Seus cidadãos tinham ficado durante muito tempo praticamente isentos do serviço militar. De fato, depois que O primeiro imperador Augusto estabelecera as 28 legiões em quartéis na fronteira, os legionários passaram a ser recrutados entre colonos de cidadania romana estabelecidos nos locais onde as legiões estavam baseadas. Já os auxiliares eram recrutados entre os povos vizinhos que tinham vocação guerreira e adquiriam a cidadania romana após 20 anos de serviço. A vida de soldado era dura e não era para qualquer um. Os citadinos amolecidos pelos confortos da vida urbana dificilmente seriam aptos para uma vida de longas marchas em terreno difícil, dormir em barracas precárias em lugares inóspitos e combates cada vez mais sangrentos.

O fato é que os romanos, ainda durante a República, recrutaram contingentes de origem estrangeira para o seu exército. Unidades de cavalaria germânica, por exemplo, foram empregadas por César e Augusto. Porém, o normal era empregar as unidades estrangeiras subordinadas a uma legião, sob o comando de um general romano e submetidas à disciplina militar romana.

As evidências apontam que, a partir do imperador Constantino, uma boa parte dos soldados do Exército Romano era de origem germânica, sobretudo no Ocidente. A “germanização” do Exército é um fato atestado. O próprio Constantino foi aclamado imperador pelas suas tropas e erguido em cima de um escudo, um tradicional costume germânico de saudar um novo chefe. No século IV D.C, registrou-se que os soldados romanos utilizavam o tradicional grito de batalha dos bárbaros, o “baritus”. E o nome de vários generais e soldados mencionados nos textos denota clara origem germânica.

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(soldados romanos do início do século IV D.C)

A partir da metade do século III, Roma passou a enfrentar o desafio estratégico de lutar em dois fronts: 1) A constante investida dos povos germânicos situados na fronteira do Reno e Danúbio começou a aumentar devido a pressão gerada pelas migrações de povos vindos da Escandinávia e do Leste Europeu, deslocadas pelo avanço dos Hunos para o Ocidente a partir da fronteira com a China; 2) A subida ao poder dos nacionalistas Sassânidas na Pérsia que adotaram uma política de confronto militar para conter a influência romana na Armênia e no Oriente Médio, resultando em um estado de guerra constante do século III ao século VII.

Feita essa explanação da situação estratégica de Roma e da situação do Exército Romano antes da derrota de Adrianópolis, é sintomático que uma das medidas tomadas por Teodósio, a qual demonstra a magnitude que o problema do recrutamento de tropas representava para o Império Romano naqueles tempos e o estado desesperador do setor militar romano, tenha sido reformar um Decreto de Valentiniano I determinando que aqueles que tentassem fugir do recrutamento cortando os próprios polegares seriam queimados vivos – Teodósio mudou o Decreto para prever que para cada recruta que se apresentasse sem um dos polegares, outro recruta, da mesma circunscrição, deveria ser apresentado, ou seja, o recruta amputado teria que servir e o seu vilarejo ainda teria que mandar outro!

Não obstante esse quadro, o historiador Zózimo narra que Teodósio começou o seu reino demonstrando indolência e luxo, aumentando o número de funcionários-eunucos e aumentando os gastos com a manutenção da corte. Parece que o julgamento do cristão devoto Teodósio pelo pagão Zózimo seria de uma suspeita severidade, mas certamente a gravidade dos tempos pedia um líder da estatura de um Cipiáo , de um César ou Diocleciano, este último um reformador implacável que enfrentou uma situação parecida com a de Teodósio.

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(Prato de prata, dito Missorium de Teodósio, que está representado no centro.)

De qualquer forma, parece que a tentativa de Teodósio de reforçar o exército romano oriental não teve sucesso. As fontes não são claras, mas tudo indica que, no verão de 380 D.C, o novo exército de Teodósio foi, mais uma vez, derrotado pelos Godos, na Macedônia e na Tessália, ainda que não de forma catastrófica. Teodósio, então, teve que deixar a cidade de Tessalônica, que havia sido o seu quartel-general durante os dois primeiros anos à testa do governo do Oriente e se refugiar na inexpugnável Constantinopla.

A tarefa de conter os Godos nos Bálcãs ficou a cargo do Imperador do Ocidente, Graciano, que enviou para lá um exército comandado pelos generais Bauto e Arbogaste, ambos militares bárbaros de origem franca que serviam o Império.

Os Godos se dividiram em vários bandos. Um dos principais grupos, chamado de Ostrogodos, rumou para o oeste e invadiu a Panônia, No outro grupo importante, conhecido como Visigodos, estourou uma guerra entre o chefe Fritigern e o antigo rei, Atanarico, que foi se abrigar em Constantinopla, lugar onde, em 381 D.C., ele foi recebido com surpreendentes honras por Teodósio.

Em 3 de outubro de 382 D.C, Teodósio firmaria um polêmico Tratado de Paz com os Godos, um inédito acordo que teria consequências duradouras: os Visigodos seriam recebidos dentro do Império Romano como aliados (foederati), recebendo a autorização para se instalarem na Moésia, diocese setentrional da Trácia, continuando a serem governados pelos seus chefes e somente com a obrigação de lutarem quando convocados pelo Imperador, porém como um exército independente. Os visigodos também receberiam tributos em forma de provisões a serem pagas pelos súditos romanos da Mésia e seus chefes um pagamento anual em ouro.

Talvez tenha parecido, a muitos contemporâneos, que uma composição com os Godos era uma medida razoável. Um orador do período, Themistius, louvando Teodósio, até escreveu, esperançosa ou aduladoramente, que os Godos trocariam a espada pelo arado e, romanizados, revitalizariam aquela província. A posteridade, porém, reconheceria que aquele ato de Teodósio foi desastroso: O assentamento permanente dos visigodos dentro do Império seria um fator decisivo de enfraquecimento romano. Com efeito, em 410 D.C, o Império seria abalado pelo saque de Roma pelos visigodos, e eles ainda pilhariam a Gália, até se instalarem na Hispânia, onde criariam um reino independente que duraria até a invasão árabe no início do século VIII D.C.

Enquanto isso, em 25 de agosto de 383 D.C, morreu Graciano, o colega de Teodósio no Ocidente, assassinado em Lyon, para onde teve que fugir após não conseguir debelar a revolta do general da Britânia, Magnus Maximus, um militar também de origem espanhola que havia servido como subordinado do Conde Teodósio, e invadira a Gália para depor o imperador, filho do primeiro, supostamente pelo fato das tropas estarem insatisfeitas com a preferência que Graciano dava às tropas compostas por bárbaros alanos.

Valentiniano II, o jovem irmão de Graciano, que, por influência dos generais francos havia sido reconhecido por ele como co-imperador seria o próximo alvo de Maximus. Teodósio então, pressionado pelas circunstâncias, acabou concordando em reconhecer Maximus como novo imperador das províncias governadas por Graciano, sob o compromisso de que Maximus reconheceria Valentiniano II como co-imperador no Ocidente.

Esse arranjo durou até 387 D.C, quando Maximus resolveu invadir a Itália para derrubar Valentiniano II e assumir o controle total do Ocidente. Um dos motivos principais era a crescente influência de Teodósio nos assuntos da corte de Valentiniano II. Assim, em um momento em que a ameaça externa era enorme, mais uma vez os maltratados exércitos romanos se enfrentariam em uma nova guerra civil, pois Teodósio resolveu intervir e, após juntar suas forças com as de Valentiniano II, que recuara para Tessalônica, valendo-se de seus aliados visigodos e de mercenários hunos, conseguiu derrotar Maximus na Batalha de Siscia, no rio Sava, na atual Croácia, em 388. Maximus conseguiu fugir, mas foi capturado e executado próximo a Aquiléia, em 28 de agosto de 388 D.C.

Na prática, mas ainda não de direito, Teodósio tornou-se o virtual imperador de todo o Império Romano. Ele ficaria ainda três anos na Itália, voltando para Constantinopla em 391 D.C. Oficialmente, porém, o novo imperador único do Ocidente passara a ser Valentiniano II. Contudo, o real poder militar estava nas mãos do general de origem franca Arbogaste, na qualidade de Comandante-em-chefe da Infantaria (Magister Peditum Praesentalis).

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(base do obelisco de Teodósio, no Hipódromo de Constantinopla, mostrando o Imperador presidindo uma corrida)

Em 392 D.C, após um desentendimento público com Arbogaste, Valentiniano II foi encontrado enforcado em seus aposentos. As suspeitas, obviamente, recaíram sobre o general franco. A esposa de Teodósio, a imperatriz Gala, irmã do falecido, não engoliu a tese de suicídio e instou que o marido investigasse a morte do irmão. Porém, Arbogaste não perdeu tempo e, incapaz de assumir ele mesmo o trono, devido a sua origem bárbara, aclamou, em 22 de agosto de 392 D.C, o inesperado Eugênio, que era apenas um professor de retórica, e ministro de Valentiniano II, como novo Imperador Romano do Ocidente.

Teodósio recusou-se a reconhecer Eugênio e preparou-se para invadir a Itália. Durante os preparativos, Teodósio nomeou, em janeiro de 393 D.C, o seu filho de 4 anos, Honório, como Augusto do Ocidente, o que inviabilizou qualquer tentativa de composição com Eugênio. Além disso, Eugênio, embora aparentemente fosse cristão, tomou medidas simpáticas aos pagãos, especialmente para o ainda muito influente grupo de senadores pagãos de Roma, inclusive financiando a restauração de templos pagãos na Cidade. Ele provavelmente tinha, portanto, o suporte de uma boa parte da aristocracia romana tradicional e, indiretamente, de todos os pagãos ainda influentes…

Em 394 D.C, Teodósio estava pronto e marchou em direção a Itália, com seu exército. A longa preparação era necessária pois, nominalmente, o exército do Ocidente era considerado maior e melhor. Ele ainda mantinha um núcleo de tropas tradicionalmente romanas, no que se refere à disciplina e táticas e não havia sofrido tantas baixas como o exército oriental, derrotado fragorosamente em 363 e 378 D.C .

Os oponentes se encontraram no rio Frigidus, no território da atual Eslovênia, em 5 de setembro de 394 D.C. Consta que imediatamente, dispensando qualquer reconhecimento ou preparação, Teodósio mandou os seus 20 mil Visigodos comandados pelo rei Alarico (que mais tarde saquearia Roma) atacarem uma posição bem defendida pelas tropas de Eugênio. Após duríssimos combates, os Visigodos foram repelidos, perdendo 10 mil homens. Muitos estudiosos acreditaram que com esse ataque, Teodósio deliberadamente visou enfraquecer os seus aliados Godos, que eram reconhecidamente a principal ameaça militar ao Império Romano.

As fontes também relatam que, antes do início da batalha, Eugênio e Arbogaste ordenaram que duas estátuas de Júpiter fossem colocadas nos flancos do seu Exército e que estandartes fossem pintados com a imagem de Hércules, dando, assim, um nítido caráter de guerra religiosa ao confronto, já que as tropas de Teodósio, incluindo os Visigodos que professavam a heresia Ariana, eram cristãs.

Assim, no primeiro dia da batalha, o exército de Eugênio e Arbogaste levou a melhor, sendo relatado que houve entusiasmadas comemorações em seu respectivo acampamento.

No dia seguinte, Teodósio, que passara a noite em claro, foi estimulado pela notícia de que um contingente que Arbogaste enviara para guardar umas passagens entre as montanhas desertara para o seu lado. Reanimado, ele decidiu, assim, renovar o ataque. Então, segundo o relato das fontes, no exato momento em que suas tropas atacavam, começou a soprar o fortíssimo vento conhecido como “Bora“, um fenômeno natural que ocorre ainda hoje na região. jogando nuvens de poeira nos olhos das tropas de Eugênio, que, impedidas de combater com eficiência, foram derrotadas. Posteriormente, o influente Ambrósio, Bispo de Milão, mencionaria que o vento decorreu da intervenção divina em favor da Cristandade.

Eugênio, capturado, foi decapitado. Já Arbogaste conseguiu fugir, mas, após vagar sem rumo, perseguido durante dias, preferiu cometer suicídio.

Teodósio tornava-se, assim, o único Augusto reinante, e, efetivamente, o último Imperador a reinar oficialmente sobre as duas metades do Império Romano.

Todavia, em 17 de janeiro de 395 D.C, apenas 4 meses após se tornar o último Imperador a reinar sobre as duas metades, Ocidental e Oriental, do Romano, Teodósio faleceu, em Milão, de causas naturais. Antes de morrer, porém, o imperador tomou as medidas necessárias para que seus filhos Honório e Arcádio se tornassem, respectivamente, após a sua morte, os Imperadores Romanos do Ocidente e do Oriente.

CONCLUSÃO

Para quem olhasse de fora, apenas contemplando um mapa do Império Romano, era um império cuja área era maior do que aquele sobre o qual Augusto reinara, 400 anos antes, e somente um pouco menor do que o de Trajano.

Contudo, era um Império que tinha dentro de si um povo inimigo inteiro, e que dependia de outras tropas recrutadas entre essas mesmas etnias para se defender de outros inimigos que rodeavam suas fronteiras; e, tão grave quanto isso, cuja economia suportava um esforço enorme para custear essa defesa e, que, não menos importante, ainda se via corroído por sangrentas disputas religiosas.

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Assim, em 27 de fevereiro de 380 D.C, Teodósio promulgou, em conjunto com Graciano e Valentiniano II, o Édito de Tessalônica, declarando o Credo Niceno-Trinitário como a única religião legítima do Império e a única passível de ser considerada “católica” (universal), e determinando que todo apoio oficial às demais religiões politeístas fosse encerrado.

Cristão devoto, Teodósio permitiu que a crescente intolerância religiosa por parte do Cristianismo triunfante desaguasse na destruição de importantes templos pagãos, como o Serapeum, em Alexandria, que degeneraram em massacres. Ele também proibiu os sacrifícios pagãos e os Jogos Olímpicos .

Com efeito, em vários episódios, Teodósio mostraria-se submisso à forte personalidade de Santo Ambrósio, Bispo de MIlão, e, quando ele foi excomungado pelo referido prelado, chegou a fazer meses de penitência, fato inaudito para um imperador romano que inaugurou a tendência, frequente na Idade Média, de submissão do poder temporal ao poder eclesiástico.

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(Mosaico do século V, com a figura de Santo Ambrósio, que demonstrou ter ascendência moral sobre o imperador Teodósio)

Ademais, a Batalha do Rio Frígido terminaria por desmoralizar de vez o Exército Romano. Embora houvesse bárbaros lutando dos dois lados, o exército vencedor, o de Teodósio, fora quem empregara os foederati Visigodos em larga escala. E foram eles quem suportaram o maior castigo, reivindicando, a partir daí, a primazia e as recompensas das quais julgavam que o seu esforço era merecedor. O exército de Eugênio, que ainda tinha um núcleo romano tradicional, fora derrotado. A partir de então, a esperança de que o imperador poderia formar e treinar um exército composto majoritariamente de cidadãos romanos começou a desvanecer.

Por tudo isso, para muitos historiadores, Teodósio lançou o Império em um “ponto de não-retorno”, cujo resultado foi a Queda do Império Romano do Ocidente.

FIM

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