Em 16 de janeiro de 27 A.C, o Senado Romano conferiu a Otaviano (Gaius Julius Caesar Otavianus), sobrinho-neto e herdeiro de César e vencedor da Guerra Civil contra Marco Antônio e Cleópatra, e, portanto, o homem mais poderoso da República Romana, os títulos de Augustus (Augusto), honraria de caráter religioso que significa “O Venerável”, e Princeps (Príncipe), significando “o Primeiro Cidadão”, marcando formalmente o início do Império Romano.
Ao se tornar “Princeps” e passar a ser chamado de Augusto, Otaviano já ocupava o centro da vida política romana há mais de 30 anos. Na verdade, a partir de 43 A.C. ele dividiu com Marco Antônio (e por alguns anos, com o menos expressivo Lépido, durante o chamado 2º Triunvirato) o governo da República. Com a derrota do rival, em Actium, em 31 A.C., Augusto tornou-se tão poderoso quanto seu tio-avô fora até ser assassinado em 44 A.C.
Porque então, Augusto não adotou a posição e o título de Ditador Perpétuo como César havia recebido?
Nunca saberemos quais os reais propósitos de César: se pretendia tornar-se rei de Roma, como foi acusado pelos conspiradores: se pretendia fundar um Império helenístico mundial casando-se com Cleópatra e fundando uma dinastia (o que parece muito improvável), ou se apenas pretendia ser um ditador, porém mantendo a República, mas reformando-a, mas sem deixar de se retirar um dia, como o fizera Sila. Mas o certo é que o assassinato de César demonstrou ao seu sucessor que os projetos de poder explicitamente monárquicos e dinásticos eram violentamente repudiados pela sua classe, qual seja, a elite senatorial romana.
Após 18 anos de guerras civis ( De César contra o Partido Aristocrático, do Triunvirato contra os assassinos de César, que pertenciam à mesma facção supracitada e de Otávio contra Marco Antônio), o fato é que Otaviano encontrava-se em uma posição de supremacia indisputada no Estado Romano, que precisava ser reconhecida oficialmente de alguma forma pelo Senado, porém sem ferir as suscetibilidades republicanas da classe senatorial, afinal, o próprio Otaviano se apresentara como o campeão da República contra o rótulo de pretenso futuro monarca oriental que a propaganda dos sus partidários colou em Antônio.
Desse modo, a Sessão do Senado Romano do dia 16 de janeiro de 16 A.C. caracterizou uma solução conciliatória bem ao gosto dos políticos. A criação de um título inédito, que reconhecia uma situação excepcional, mas que também ao não sacramentar nenhuma forma nova permanente de governo, aplacava os pudores republicanos dos remanescentes da facção aristocrática do Senado.
Na verdade, foi no decorrer do governo de Augusto, o qual manteve, formalmente e na aparência, todas as magistraturas republicanas, e sobretudo, na sua longa duração (ele ainda viveria e governaria mais 30 anos depois de receber o título de Princeps) que, pouco a pouco, todos foram percebendo que a República estava morta e o Império a substituíra.