OVÍDIO – O POETA SEDUTOR

#Ovídio

Em 20 de março de 43 A.C, nasce, na cidade de Sulmo (atual Sulmona, na região de Abruzzo, Itália), Publius Ovidius Naso (Ovídio), no seio de uma próspera família da classe Equestre.

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(Estátua de Ovídio, em Sulmona)

O pai de Ovídio queria que ele seguisse a carreira jurídica, o que lhe poderia abrir as portas para importantes cargos públicos. Por isso, Ovídio foi para Roma estudar Retórica com o famoso orador Aurellius Fuscus, que, dentre outros, foi professor de Plínio, o Velho.  Mas, como ele nos conta em seu poema que seria escrito no exílio, “Tristeza” (Tristia), desde jovem o que lhe encantava mesmo era fazer versos (Deixo aqui o link para a tradução, em inglês, do poema, no livro em que Ovídio conta a sua biografia, vide https://www.poetryintranslation.com/PITBR/Latin/OvidTristiaBkFour.php)

Após a morte do seu irmão, que tinha apenas 20 anos de idade, o abalado Ovídio viajou para Atenas e algumas cidades gregas da Ásia Menor, passando algum tempo também em uma região italiana de cultura grega, a Sicília, em um périplo comum aos jovens romanos que pretendiam fazer uma espécie de pós-graduação em Retórica e Oratória.

De volta a Roma, Ovídio chegou a exercer cargos de juiz nos tribunais de Centúnviros e Decênviros, que julgavam causas cíveis e criminais. Assim, em tese, Ovídio tinha abertas diante de si a possibilidade de, no futuro, aspirar entrar no Cursus Honorum, que dava acesso às magistraturas maiores, tais como Edil, Questor, Pretor e Cônsul.

Todavia, por volta do ano de 23 A.C., Ovídio decidiu largar a magistratura e se dedicar à poesia, decisão que, evidentemente, deve ter desagradado muito o seu pai. Por essa época, ele já tinha feito sua primeira récita em público e ingressado no círculo literário patrocinado por Marcus Valerius Messalla Corvinus, um general e aristocrata ilustre, que foi Cônsul Suffectus no ano de 31 A.C. Isso permitiu a Ovídio conhecer e fazer amizade com os poetas  Propércio e Horácio, este já consagrado como um dos maiores poetas latinos e patrocinado por Mecenas.

O estilo poético que Ovídio escolheu foi a Elegia, caracterizada por hexâmetros seguidos por pentâmetros, mas com um toque de paródia do estilo convencional de outros poetas.

Sua primeira série de poesias conhecidas foram “os Amores“, poemas dedicados ao amor, dedicados a uma namorada, Corinna (que não é o nome verdadeiro dela) com inspiração erótica, como por exemplo, na Elegia I, 5:

Calor intenso, já passara o meio-dia;
Deitei-me ao leito, os membros repousando.
Em parte aberta, em parte cerrada a janela;
Luz como a que costumam ter os bosques,
qual reluz o crepúsculo, ausente já Febo,
quando a noite foge e o dia hesita.
Tal luz é a que convém às moças tímidas,
nela o pudor espera achar abrigo.
Eis que Corina vem, com a túnica entreaberta,
em desalinho a cabeleira sobre a nuca…

 

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A série de poemas chamada “A Arte de Amar” (Ars Amatoria) continha instruções de como encontrar, conquistar e manter um amor, tanto para os homens como para as mulheres, uma espécie de manual, sarcástico, irônico e cheio de alusões ao ato sexual, mas sem ser jamais pornográfico.

Entre os conselhos de Ovídio aos amantes do sexo masculino, destacam-se:

não esquecer o aniversário dela“, “deixá-la com saudade de você, mas não por muito tempo“, e “jamais perguntar a idade dela“. Lições, como se vê, ainda bem atuais…Já às mulheres, Ovídio aconselha: “maquiar-se, mas nunca na presença dele” e “experimentar os amantes jovens e os maduros“. Ele assim introduz o livro contendo os conselhos para o público feminino: “Eu acabei de armar os Gregos contra as Amazonas, agora, Pentesiléia (Obs: rainha das Amazonas), resta-me  armar-te contra os Gregos“.

 Logo no início, Ovídio dá algumas instruções para se escolher uma amante  bonita:

“Nós frequentemente perdemos a cabeça por uma linda garota em um jantar. Sem dúvida, Juntar amor e vinho é  como colocar combustível na fogueira. Não avalie uma mulher à luz dos candelabros, é enganoso! Se você realmente quiser saber qual a aparência dela, olhe-a de dia e quando estiver sóbrio! Foi ao ar livre, e durante um dia claro, que Páris viu as três deusas e disse para Vênus: “você é mais bonita do que suas duas rivais”. A noite cobre um sem-número de defeitos e imperfeições. À noite, não há mulher feia! Quando você quer ver pedras preciosas ou roupas coloridas, você as leva para a luz do sol, e é de dia que você deve julgar o rosto e a aparência de uma mulher“.

 Depois, o Poeta nos ensina a conservá-la:

Então, quem quer que você seja, não ponha muita confiança no enganoso charme da formosura. Cuide de possuir algo mais do que mera beleza física. O que funciona espantosamente com as mulheres é um jeito insinuante. Brusquidão e palavras rudes só promovem desaprovação. Nós odiamos o falcão porque ele passa a sua vida brigando; e nós odiamos o lobo que se lança sobre os tímidos rebanhos, mas o Homem não captura a andorinha porque ela é mansa e atura o pombo fazer sua casa nas torres que ele construiu. Longe toda discórdia e amargura na fala. Palavras suaves são o alimento do amor. É pelas discussões que a mulher estranha o marido e o marido a sua esposa. Eles imaginam que agindo dessa forma , eles estão pagando um ao outro em sua própria moeda.  Deixe isso para os casados. Brigas são o dote que os casados dão um ao outro. Mas uma amante deve ouvir apenas palavras agradáveis. Não foram as Leis que colocaram vocês na cama. A SUA lei, a LEI para você e para ela, é o Amor. Nunca a aborde senão com carinhos suaves e palavras que acariciem o ouvido dela, de modo que ela sempre se alegre com a sua chegada.

As festejadas “Metamorfoses” estão contidas em 15 livros e são um épico sobre o tema das transformações da mitologia greco-romana, da Criação à deificação de Júlio César.

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Outras obras do poeta são as “Cartas das Heroínas“, os “Remédios para o Amor” e “Calendários” e uma tragédia, Medéia, que infelizmente não chegou até os nossos dias, mas que foi muito apreciada na Antiguidade.

Nos “Remédios para o Amor“, Ovídio escreveu esse verso, em resposta aos seus críticos:

Exploda, Inveja voraz: o meu nome já é bem conhecido; E será ainda mais, se meus pés viajarem pela estrada que eles iniciaram; Mas você está muito apressada – se eu viver, você ficará mais do que arrependida: Muitos poemas, de fato, estão se formando na minha mente.”

Em 8 D.C.,  o imperador Augusto determinou que Ovídio fosse exilado para a longínqua cidade de Tomis, que os romanos recém tinham conquistado do reino trácio dos Odrísios. A cidade ficava onde hoje é a cidade de Constança, na Romênia.

 

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(Ruínas de Tomis, foto de Postoiu Roxana )

 

O motivo real do exílio de Ovídio não é conhecido, embora ele mencione que foi devido a um “carmen” (poema) e a um “error” (deslize ou engano), na sua obra “Tristeza” (Tristis), escrita em Tomis.

 

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Muitos estudiosos acreditam que a poesia de Ovídio estava em choque com a política moralizante de Augusto, que estabelecia penas severas para o crime de adultério.

Porém esses poemas foram escritos bem antes do seu banimento. Sabe-se, entretanto, que Júlia, a Jovem, neta de Augusto, foi exilada por  trair o seu marido com o senador Décimo Júnio Silano, também em 8 D.C, o  mesmo ano do exílio de Ovídio. O marido de Júlia foi executado por envolvimento em uma conspiração contra Augusto, em data indeterminada, mas que pode ter sido também em 8 D.C.. É possível que o poeta ou sua obra tenha de alguma forma se relacionado com este incidente, não sabemos.

No poema Tristeza, Ovídio lamenta o exílio distante, extravasando sua saudade da esposa e da pátria, e apela ao senso de justiça do imperador, sem sucesso. Ele morreria em Tomis, já no reinado do sucessor de Augusto, Tibério, em 17 ou 18 D.C., com aproximadamente 60 anos de idade. Ele teve uma filha que lhe deu dois netos.

 

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VALENTINIANO III

#ValentinianoIII #Valentinian

Em 16 de março de 455 D.C, no Campo de Marte, em Roma,  o imperador  Valentiniano III estava  treinando com o arco e flecha,  quando foi morto por dois mercenários hunos, chamados Optelas e Thraustelas, que também mataram o eunuco Heraclius, que acompanhava seu mestre. Era o fim da dinastia teodosiana no Ocidente.

Nascido em 2 de julho de 419 D.C, em Ravena, capital do Império Romano do Ocidente, Flavius Placidius Valentinianus (Valentiniano III), era filho de Flávio Constâncio e de Galla Placídia.

O pai de Valentiniano foi um dos últimos de uma longa linha de generais nativos da Ilíria que assumiram o trono no período final do Império Romano do Ocidente. Nascido em Naissus, na atual Sérvia, ele derrotou uma série de usurpadores durante o reinado do Imperador do Ocidente, Honório, e conseguiu alguns sucessos contra os Godos, com os quais conseguiu entrar em acordo, assentando-os no sul da Gália.

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(Medalhão romano do século V que se acredita retratar Valentiniano III. Galla Placídia e Honória)

Outro item do tratado assinado por Flávio Constâncio com os Godos foi a devolução à Roma da irmã de Honório, Galla Placídia, que havia sido capturada pelos bárbaros quando do Saque de Roma, liderados pelo rei Alarico, em 410 D.C.

O poderoso Flávio Constâncio acabou se casando com Galla Placídia, em 417 D.C, e, em função disso, em 421 D.C, ele conseguiu ser nomeado Augusto, e, portanto, co-imperador junto com Honório, reinando com o nome de Constâncio III.

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Entretanto, Constâncio III somente reinaria por 7 meses, vindo a falecer de causas desconhecidas, em 2 de setembro daquele ano.

A mãe de Valentiniano III, Galla Placídia, além de irmã de Honório, era filha do imperador Teodósio, o Grande, e neta do imperador Valentiniano I, o último imperador do Ocidente que comandou um grande exército, e, consequentemente, ela era a mulher mais ilustre do Império Romano naquele tempo. Além disso, Galla Placídia, durante o cativeiro nas mãos dos Godos, havia se casado, aparentemente não contra a própria vontade, com o rei deles, Ataulfo, que depois seria assassinado em 415 D.C.

O sucessor de Ataulfo, Wallia, necessitando de alimentos para o seu povo, concordou em assinar o tratado proposto por Constâncio III e devolveu a viúva Galla Placídia aos romanos.

Como Honório era divorciado, Galla Placídia, após a elevação de seu marido Constâncio à posição de Augusto, passou a ser a única Augusta (imperatriz) no Ocidente. Após ela ter ficado viúva de Constâncio, intrigas da Corte e as suspeitas de um relacionamento incestuoso com o irmão Honório forçaram Galla Placídia e seu filho bebê, Valentiniano, a se exilarem em Constantinopla, sob a proteção do Imperador do Oriente, Teodósio II, em 423 D.C.

Naquele mesmo ano de 423, Honório morreu de edema e o trono do ocidente foi usurpado por João, colocado no trono pelo general Castino. Teodósio II obviamente não reconheceu João e nomeou seu parente Valentiniano, filho de Galla Placídia, como César, além de arranjar o futuro casamento deste com sua filha Licínia Eudóxia, sendo ambos ainda crianças.

Após a derrota de João, Valentiniano III foi, oficialmente, coroado como Imperador Romano do Ocidente, em 23 de outubro de 425 D.C, com apenas 6 anos de idade.

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Assim, no início do reinado de Valentiniano III, o governo do Império do Ocidente ficou de fato nas mãos de sua mãe, a Imperatriz Gala Placídia, regente de fato.

O reinado de Valentiniano III caracterizou-se pelo progressivo desmembramento do Império Romano do Ocidente, decorrente de uma série de invasões bárbaras. Com efeito, durante esse período, os bárbaros Vândalos, Suevos e Alanos consolidaram seus reinos na Espanha, e os Visigodos, inicialmente, no sul da Gália. Além disso, o noroeste da Gália encontrava-se virtualmente independente controlado por bandoleiros chamados de bagaudas. Para piorar, os Vândalos deixaram a Espanha e invadiram a rica província da África, que na época era a principal fonte de suprimento de grãos para Roma. (o Egito estava sob a jurisdição de Constantinopla).

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O Exército do Império do Ocidente, durante o reinado do antecessor de Valentiniano III, Honório,  praticamente havia desaparecido, e o Imperador dependia majoritariamente de tropas bárbaras, cujos chefes, cada vez, mais ansiavam o cargo de Comandante Supremo das Forças Armadas (Magister Utriusque Militiae), visando ter acesso aos ainda vastos recursos do Império.

Roma, apesar de tudo, durante esse período (400 a 450 D.C), ainda conseguia desdobrar algum poder militar, nas vezes em que o exército era comandado por um general de prestígio e dotado de orientação patriótica, como foi o caso do meio-romano, meio-vândalo Estilicão, que foi o comandante do Exército de Honório. Esses generais, enquanto o tesouro não se exauriu completamente, frequentemente conseguiam reunir tropas bárbaras que serviam ao Império como “federados” (foederati) e empregá-las no interesse de Roma.

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Foi o que ocorreu, quando, decorridos alguns anos do reinado de Valentiniano III, outro militar do quilate de Estilicão assumiu o comando do que restava do Exército: o general Flávio Aécio, um romano nascido na região do Danúbio. Aécio tinha sido, durante a juventude, entregue como refém aos Godos  que, por sua vez, o entregaram aos Hunos. Porém, Aécio, valendo-se de seu talento para a Diplomacia, conseguiu fazer  muitas amizades e contatos entre os Hunos, que eram os bárbaros mais temidos naqueles tempos.

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De fato, durante toda a sua carreira, Aécio se valeria dessa amizade com os Hunos, que lhe forneceriam as tropas que o Império do Ocidente tanto precisava para fazer frente aos Visigodos, Suevos, Francos, Burgúndios e outros tantos, os quais, já instalados na Gália e Espanha, ou, em reides partindo dos rios Reno e Danúbio, ameaçavam a própria Itália.

Aécio, que alcançara o posto de comandante militar da Gália, teve que combater Bonifácio, um rival pelo comando supremo do Exército, que gozava da predileção de Gala Placídia. Nessa luta entre romanos, Aécio, apesar de ter sido derrotado na Batalha de Rimini, em 432 D.C, conseguiu fugir e chegar até aos seus amigos Hunos, enquanto que Bonifácio morreu em decorrência dos ferimentos sofridos no combate.

Os Hunos forneceram a Aécio novas tropas, com as quais ele não teve dificuldade em “convencer” Gala Placídia a lhe nomear “Magister Utriusque Militae” e Conde (“Comes“).

Infelizmente, os Vândalos se aproveitaram desse conflito e aproveitaram para invadir a África, que era vital como fonte de fornecimento de grãos e de tributos para o Império do Ocidente, e onde os senadores romanos possuíam imensas propriedades.

A estratégia seguida por Aécio diante desse grave quadro é considerada pelos historiadores militares como inteligente e adequada para a delicadíssima situação em que o Império do Ocidente se encontrava.

Com efeito, Flávio Aécio,  procurou proteger, entre todos os domínios imperiais, a Gália, a maior e mais rica província do Ocidente, já bem devastada pelas invasões bárbaras. Ele conseguiu derrotar os Burgúndios e conter os bagaudas, na Gàlia e ,após algumas derrotas e vitórias contra os Visigodos, firmar com eles um tratado delimitando a área que seria destinada aos últimos. Sem ter tropas suficientes para subjugar todos os bárbaros, Aécio passou a se valer da tática de usar as tribos bárbaras que tinham sido recentemente derrotadas e assentadas para conter aquelas outras que fossem julgadas mais perigosas para Roma.

Por outro lado, embora a defesa da Gália, no plano militar, fosse a escolha mais adequada, no campo político essa estratégia colocou Aécio em choque com os interesses da nobreza senatorial italiana, que ainda era muito influente e achava que a Itália deveria ser defendida a qualquer preço.

Efetivamente, Aécio foi a pessoa mais poderosa do Império do Ocidente entre 433 e 450 D.C. Porém, em 451 D.C, Átila, que tinha se tornado rei dos Hunos em 435 D.C, resolveu atacar o Império do Ocidente, valendo-se de um pretexto surpreendente: a irmã de Valentiniano III, Honória, que havia sido presa por ter engravidado de um camareiro, tinha conseguido enviar a Átila um pedido de socorro, junto com um anel, razão pela qual o rei bárbaro considerou que a princesa romana era sua noiva, dando-lhe o direito de exigir o seu dote: Metade do Império do Ocidente!

O irresistível avanço da horda huna, acrescida por várias tribos germânicas súditas de Átila, rapidamente tomou Metz, Reims, Mogúncia, Estrasburgo, Colônia, Worms e Trier que foram saqueadas e incendiadas.

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Aécio, porém, conseguiu formar uma aliança com os Visigodos, Francos e Alanos, que se uniram a um pequeno contingente de tropas romanas tradicionais. Quando o exército aliado aproximou-se de Orleans, sitiada pelos Hunos, Átila teve que abandonar o cerco e rumou para o campo aberto em Châlons, na Champagne.

Ali, em 20 de junho de 451 D.C., travou-se uma sangrenta batalha onde os Visigodos e Alanos aguentaram a maior parte da carga dos guerreiros hunos. Os Romanos colaboraram ocupando uma importante elevação no terreno. Em posição desfavorável, Átila acabou ordenando uma retirada, sem que houvesse uma perseguição por parte dos aliados romanos.

A vitória na Batalha de Châlons foi certamente o auge da carreira de Aécio. Muitos historiadores consideram, para outros com algum exagero, que esta foi uma das batalhas mais importantes da História, e o historiador romano-bizantino Procópio apelidou Aécio de “O Último dos Romanos“. É difícil, no entanto, chegar a uma conclusão, pois Átila morreria dois anos depois e o seu império se esfumaçou tão rápido como surgira.

Todavia, o prestígio político de Aécio não duraria muito. No ano seguinte à Batalha de Chalons, Átila e seus Hunos invadiriam a Itália. Em seu avanço, a grande cidade de Aquiléia foi varrida do mapa.

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Valentiniano III, protegido pelos pântanos de Ravenna, foi obrigado a assistir impotente enquanto a horda se dirigia para Roma. Contudo, por razões até hoje misteriosas, mas provavelmente devido à peste que se alastrava pela Península, Átila, após receber uma embaixada do Papa Leão, resolveu se retirar da Itália e, no ano seguinte, ele morreria sufocado pelo próprio sangue, após a festa do seu casamento com uma nova esposa, quando teria tido uma hemorragia nasal.

Após Chalons, Aécio tinha conseguido a honra de casar seu filho Gaudentius com Eudóxia, filha de Valentiniano III, passando, assim, a ser oficialmente membro da família imperial e colocando seu filho como um sério candidato à sucessão do próprio Valentiniano III.

A ascensão de Aécio despertou muitos ciúmes, especialmente em Petrônio Máximo, então o senador mais poderoso e com mais distinções em cargos públicos. Segundo o historiador romano-bizantino do século VII, João de Antióquia, Máximo foi o maior responsável pelas intrigas contra Aécio, conseguindo envenenar o imperador  Valentiniano III contra o general, cujo prestígio junto aos senadores italianos estava muito abalado pela invasão da Itália.

Petrônio aliou-se a um secretário doméstico do imperador (“Primicerius Sacri Cubiculi“), um eunuco chamado Heraclius, que também era inimigo de Aécio e ambos conseguiram convencer Valentiniano III de que Aécio planejava matá-lo. Em decorrência persuadiram o imperador a convocar o general para um encontro no Palácio, onde seria recebido por Valentiniano III em pessoa,  no que foi provavelmente uma forma de afastar Aécio de seus guarda-costas hunos, sem despertar a suspeita deles.

Em 21 de setembro de 454 D.C., Valentiniano III convocou Aécio ao Palácio e, quando este lhe apresentava um relatório, o imperador acusou-o de traição. Ao tentar se explicar, Aécio foi atacado por Valentiniano III e por Heraclius, sendo morto por um golpe de espada desferido pelo próprio imperador. Não deve ter sido uma luta muito difícil, pois, enquanto Valentiniano tinha 34 anos e era dado a se exercitar, Aécio já tinha a avançada idade, para a época, de 63 anos.

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Dias depois, ao comentar que tinha agido corretamente ao matar Aécio, Valentiniano III ouviu de um cortesão:

Se foi bom ou ruim eu não sei, mas o que eu sei é que Vossa Majestade cortou vossa mão direita com a vossa esquerda“…

O ambicioso Petrônio conseguiu convencer dois guarda-costas de Aécio a vingarem a morte do seu amado chefe, prometendo ainda uma recompensa pela morte de Valentiniano III. Assim, no dia 16 de março de 455 D.C, em Roma, quando o imperador estava praticando com o arco e flecha, os dois bárbaros mataram Valentiniano III, bem como o eunuco Heraclius, que o acompanhava. Assim, terminava a dinastia inaugurada pelo imperador Teodósio, o Grande no Ocidente.

Naquele mesmo ano, Roma seria alvo de um devastador saque pelos Vândalos e, no espaço de apenas 21 anos, o Império Romano do Ocidente deixaria de existir.

                                                                      FIM

ELAGÁBALO – MENINO TRAVESTIDO DE IMPERADOR

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(Busto de Elagábalo, foto de Giovanni Dall’orto)

 

#Elagábalo #Heliogabalus

Em 11 de março de 222 D.C, no Quartel da Guarda Pretoriana (Castra Pretoria) em Roma, os soldados da Guarda Pretoriana atacaram e mataram o Imperador Romano Elagábalo (Elagabalus, nome que às vezes também é grafado como Heliogábalo) e a mãe dele, Júlia Soêmia, em seguida aclamando o seu primo, Severo Alexandre, ali também presente, como novo imperador. Em seguida, os assassinos decapitaram os cadáveres e jogaram os corpos de Elagábalo e de Júlia no rio Tibre.

Nascido com o nome de Varius Avitus Bassianus, na Síria, em 203 D.C, Elagábalo era filho de Sextus Varius Marcellus e de Julia Soemias Bassiana (Júlia Soêmia).

 

Julia_Soemias_2.jpg(Detalhe de estátua de Júlia Soêmia, mãe de Elagábalo, foto de Wolfgang Sauber )

 

O pai de Elagábalo era membro de uma família da classe Equestre, originária da cidade grega de Apamea, na Síria, e  que ascendeu durante o reinado do imperador Septímio Severo, período no qual Sextus Varius Marcellus ocupou vários cargos importantes, como Procurador dos Aquedutos em Roma, Procurador Romano da Britânia, Prefeito da Urbe e Prefeito Pretoriano.

Como evidência do seu status na corte de Severo, Sextus Varius Marcellus se casou com Júlia Soêmia, sobrinha da poderosa imperatriz Júlia Domna, que era irmã da mãe dela, Júlia Maesa.

ulia_Domna_Glyptothek_Munich_354(A poderosa, bela e inteligente imperatriz Júlia Domna era tia-avó de Elagábalo)

As duas irmãs, a imperatriz Júlia Domna e a avó de Elagábalo, Júlia Maesa, eram filhas de Julius Bassianus, sumo-sacerdote do Templo do deus Elagábalo (El-Gabal ou Ilāh hag-Gabal, literalmente, “O Deus da Montanha”), situado em Emesa (a moderna Homs), na Síria, e membro da dinastia dos Sempseramidas, os governantes ancestrais daquela cidade, a qual, durante muito tempo, havia sido a capital de um reino-cliente de Roma, até aquela ser anexada pelo Imperador Caracala. O posto de sumo-sacerdote de El-Gabal era hereditário, e foi assumido por Elagábalo.

Emesa era uma cidade próspera e o culto ao Deus-sol se espalhava pelo império romano no século III. O Templo de Elagábalo guardava uma pedra negra cônica sagrada, que muitos acreditavam ter caído do céu,  a qual  atraía peregrinos e doações de toda a região, Consequentemente, os sumos-sacerdotes de El-Gabal eram riquíssimos.

homs03a(Homs, antiga Emesa, no início do século XX)

Vale observar que o culto a El-Gabal não seria primeira, nem a última religião oriental a cultuar uma pedra negra supostamente caída do céu…Com efeito, hoje os muçulmanos veneram uma pedra negra chamada de al-Hajar al-Aswad, que se encontra no interior da Caaba, uma construção quadrada em pedra, cuja construção é atribuída ao patriarca Abraão, em Meca.

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(A Pedra Negra e o Templo de El-Gabal são retratados nessa moeda cunhada por um governante Sempseramida de Emesa, em meados do século III D.C.),

 

Quando Septímio Severo morreu, ele foi sucedido por seus dois filhos Caracala e Geta. Caracala logo matou o seu irmão Geta e assumiu o trono sozinho, em 211 D.C. A imperatriz viúva, Julia Domna, porém, continuou muito influente na Corte. Porém, após seis anos de um reinado turbulento, Caracala foi assassinado, em 8 de abril de 217 D.C. por um guarda-costas, em uma estada próxima à Carras, na Turquia, onde ele se encontrava em preparativos para uma campanha contra a Pérsia, crime cometido provavelmente à mando do Prefeito Pretoriano Macrino, que assumiu o trono.

Em decorrência, Júlia Domna, mãe do imperador assassinado que estava gravemente doente devido a um câncer de mama, suicidou-se, recusando-se a comer.

Macrino exilou o restante da família de Caracala, agora chefiada por sua tia Júlia Maesa, para a sua nativa Emesa. Esta decisão foi um grande equívoco de Macrino, pois, valendo-se de seu imenso poder e riqueza na região, a influente matriarca síria e suas parentes iniciaram uma conspiração para derrubar Macrino.

Em primeiro lugar, Júlia Soêmia declarou publicamente que seu filho Varius Avitus Bassianus (Elagábalo) era filho ilegítimo de Caracala ( consta que, de fato, ambos eram muito parecidos) e, portanto, o legítimo herdeiro do imperador falecido.

Depois, usando seus vastos recursos financeiros, Júlia Maesa conseguiu convencer a III Legião “Gallica, baseada na Jordânia, e o seu comandante, Publius Valerius Comazon, a aclamarem Elagábalo  imperador, em 16 de maio de 218 D.C.

O prestígio de Macrino já estava abalado pelo resultado desfavorável da guerra que ele vinha movendo contra a Pérsia, onde Roma teve que pagar uma indenização para terminar a guerra.

Macrino tentou combater a insurreição, mas as tropas enviadas aderiram à revolta. Quando ele mesmo entrou em batalha, foi derrotado, em Antióquia, em 8 de junho de 218 D.C e tentou fugir para a Itália e foi executado na Capadócia.

O Senado Romano, sem alternativa, acabou reconhecendo formalmente Elagábalo e ele assumiu o nome oficial de Marco Aurélio Antonino Augusto,  em uma tentativa de legitimar a sua suposta condição de descendente de Caracala (que por sua vez procurara difundir a crença, muito pouco provável, de que ele era descendente do imperador Marco Aurélio).

Não obstante  se tenha inaugurado,  com Trajano,  cidadão romano nativo da Espanha,  a possibilidade de que cidadãos nativos de outras províncias que não a Itália assumissem o trono, com certeza a ascensão de Elagábalo deve ter espantado Roma.

Afinal, Elagábalo era sacerdote de uma religião estrangeira de origem semítica (o povo de Emesa falava aramaico, a mesma língua falada por Jesus Cristo). Ainda que os romanos cultuassem vários deuses estrangeiros, tais como, por exemplo, a egípcia Ísis, estas eram divindades que não ofuscavam as tradicionais do Panteão Romano, pois normalmente elas eram passíveis de associação ou assimilação.

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Antes mesmo que a comitiva de Elagábalo chegasse a Roma, a mãe dele, Júlia Soêmia, já havia mandado para a capital um grande retrato pintado de Elagábalo vestido com os trajes de sumo-sacerdote,  o qual foi pendurado em cima do Altar da deusa Vitória, na Cúria do Senado Romano (cujo prédio ainda existe, no Fórum Romano). para que os romanos fossem se acostumando com o fato de serem governados por um sacerdote estrangeiro…

Enquanto isso, a comitiva parou em Nicomédia para passar o inverno. Lá, segundo as fontes, Elagábalo entregou-se à prática de vários rituais orgiásticos característicos de sua religião, os quais desagradaram às tropas. Houve até o início de uma revolta, mas ela acabou suprimida.

Entretanto, o poder agora baseava-se na riqueza e influência dos sírios, que foram instalados nos postos chaves. Comazon,  o correligionário de primeira hora, recebeu o posto de Prefeito Pretoriano e ela ainda seria duas vezes cônsul. A mãe do novo imperador, Júlia Soêmia, e  a sua tia, Júlia Maesa, foram declaradas “Augustas”. Mais surpreendente, as duas seriam, um pouco mais tarde, as primeiras e únicas mulheres a serem admitidas no Senado Romano. E Júlia Maesa ainda receberia o título de “Mãe do Senado”.

Elagábalo também trouxe junto com ele da Síria a Pedra Negra do Templo de El-Gabal em Emesa para Roma, onde, para guardá-la, mandou construir um templo, chamado de “Elagabalium“, na colina do Palatino (foram cunhadas moedas mostrando a pedra). Ele também mandou retirar várias relíquias de templos ancestrais da Cidade Eterna e transferi-los para o Elagabalium.

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(Ruínas do terraço do Elagabalium, em Roma, e maquete mostrando sua provável aparência)

 

O deus Elagábalo foi associado ao “Deus Solis Invictus“, para identificá-lo como o Deus-Sol, cujo culto vinha crescendo desde a virada do século III.

Em uma grande demonstração de falta de respeito para com a tradicional religião romana, Elagábalo se casou a virgem vestal Aquília Severa, o que muito escandalizou os romanos, já que essas sacerdotisas deveriam permanecer virgens durante os seus 30 anos de serviço. Mais grave ainda, a lei romana previa a pena de morte, tanto para aquele que tivesse deflorado uma virgem vestal, como para esta própria.

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(Denário cunhado durante o reinado de Elagábalo, com a efígie de Aquília Severa)

Pressionado pelo escândalo,  Elagábalo se divorciou de Aquília e se casou com Anna Aurelia Faustina, uma descendente do imperador Marco Aurélio.  Ele teria cinco esposas no total, em sua curta vida (sua primeira esposa foi a aristocrata Júlia Cornélia Paula, um casamento arranjado por sua mãe, após a sua ascensão ao trono, tendo dela se divorciado para se casar com a vestal Aquília).

Entretanto, segundo as fontes,  a maior paixão de  Elagábalo foi o seu escravo Hierócles, um condutor de carruagens a quem ele chamava de marido. Consta que Elagábalo, certa vez, teria dito, a respeito do rapaz: “ Eu tenho muito prazer em ser sua amante, sua esposa e sua rainha“.

Embora alguns historiadores modernos sustentem que as fontes antigas exageraram os fatos acerca dos imperadores, especialmente de Elagábalo, o fato é que Cassius Dio, a História Augusta e Herodiano (os dois últimos, de fato, fontes frequentemente não confiáveis), convergem para afirmar a ocorrência desses comportamentos de Elagábalo.

Narra-se, por exemplo, que Elagábalo se apresentaria em público vestido de mulher, maquiado e com os olhos pintados. E ele teria também mandado depilar o seu corpo inteiro e até procurado um médico para fazer uma espécie de operação de mudança de sexo, visando fazer um órgão genital feminino em si mesmo, o que o tornaria, até onde se sabe, o primeiro governante transexual da História.

Outro companheiro de Elagábalo teria sido Aurelius Zoticus, no colo de quem, reclinado, o imperador chegava até a fazer as refeições. Todavia, consta que Hierócles, ciumento do rival, conseguiu, através de um médico, um tipo de medicamento que  causava impotência, fazendo com que, diluído em alguma bebida, fosse servido a Zoticus, que, sem poder mais satisfazer os desejos do imperador, foi mandado embora do Palácio.

E Elagábalo de fato, segundo as fontes, apreciava ser surpreendido por Hierócles enquanto mantinha relações sexuais com outros homens, ocasião em que se comprazia ao ser castigado fisicamente pelo seu companheiro traído.

Outra prática escandalosa de Elagábalo, relatada pelos historiadores antigos, era o seu costume de se prostituir no próprio Palácio, colocando-se nu atrás de uma cortina, cobrando para praticar sexo com os homens que se deitavam com ele (no que talvez fosse um ritual da religião de El-Gabal, pois vários cultos semíticos incluíam a prostituição sagrada).

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(Representação artística do rosto de Elagábalo com base nos seus retratos que sobreviveram)

 

Em algum momento, Júlia Maesa percebeu que a crescente rejeição a Elagábalo pela sociedade romana, e, sobretudo, pelos militares romanos, colocava em perigo a própria posição da família. Ela também percebeu que os seus reiterados excessos sexuais eram encorajados pelo fervor religioso dele e de sua filha, Júlia Soêmia, a mãe do imperador, no culto a El-Gabal.

Júlia Maesa então aproximou-se de sua outra filha, Júlia Maméia, que também tinha um filho, Severo Alexandre, então com 13 anos de idade. A influente Júlia Maesa conseguiu persuadir Elagábalo a nomear seu primo Severo como seu herdeiro, dando-lhe o título de “César”. Naquele mesmo ano, 221 D.C, Elagábalo e Severo exerceram o consulado.

Contudo, percebendo o entusiasmo que a nomeação de  Severo Alexandre provocou nos soldados da Guarda Pretoriana, há muito incomodados com os seus excessos, Elagábalo resolveu anular sua decisão e revogar os títulos concedidos ao seu primo. Contudo, essa decisão fez o  público e as tropas se alvoraçarem temendo pela vida do menino.

Os Pretorianos demandaram a presença de Elagábalo e Severo no Castra Pretoria, devido aos rumores de que Severo pudesse ter sido assassinado. É possível que o motim tenha sido instigado por Júlia Maesa e Júlia Maméia.

Quando o imperador e seu primo apareceram, os guardas começaram a saudar Severo Alexandre, ignorando Elagábalo, que furioso, teria ordenado a prisão dos simpatizantes do primo. Essa ordem, por sua vez,  enfureceu ainda mais a tropa, que imediatamente atacou o palanque e perseguiu Elagábalo e sua mãe, os quais tentaram fugir. Júlia Soêmia tentou proteger o filho, abrançando-o, mas ambos acabaram mortos e decapitados. Os corpos deles foram arrastados pelas ruas e o de Elagábalo foi jogado no Rio Tibre. Nos dias seguintes, várias pessoas associadas a Elagábalo foram mortas, incluindo Hierócles. A Pedra Negra foi imediatamente mandada de volta para Emesa, e provavelmente ela só não foi destruída porque os romanos eram notadamente um povo supersticioso, e também para não causar desnecessário descontentamento entre a população de Emesa.

 

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(Severo Alexandre, primo de Elagábalo e seu sucessor no trono imperial)

Elagábalo morreu com a idade de dezoito anos. Com apenas cerca de quinze anos ele fora feito imperador pela mãe e pela avó. Ele é descrito pelos historiadores como travesti, transexual ou mesmo transgênero.

Entendemos que é difícil avaliar o comportamento sexual e a moral dos antigos pelos padrões modernos, e nem devemos utilizar exemplos da antiguidade para justificar ou condenar aspectos das sociedades atuais. Certamente, o que era considerado comportamento “normal” ou padrão socialmente aceito pelos romanos é diferente do vigente nos dias de hoje. Heterossexualidade e homossexualidade para os romanos eram conceitos vagos comparados com as nossas definições atuais. Imperadores considerados “bons” pelos historiadores romanos, como Trajano e Adriano, notoriamente sentiam atração e tinham relações sexuais com jovens rapazes, sem que isso tenha comprometido a sua reputação. No máximo, como vemos em Dion Cássio sobre Trajano, isso era mencionado de passagem, como uma curiosidade e uma ponta muito sutil de ironia. A censura moral dos autores antigos aos imperadores sobre este tema, é feita muito mais ao desregramento ou à luxúria desenfreada, ou, ainda, à efeminação caricatural, pois eles esperavam de um imperador uma aparência marcial e um comportamento masculino, característica essa que não era manchada pelo fato deles fazerem sexo com rapazes, desde que eles assumissem a posição ativa.

É provável que muitas das passagens sexualmente escandalosas do reinado de Elagábalo,  mencionadas nas fontes antigas,  estejam ligadas ao culto de El-Gabal, divindade frequentemente associada à Baal, cujo culto parece ter incluído ritos de prostituição sagrada masculina (os kadesh, citados na Bíblia Judaica) e também castração de sacerdotes. Note-se que isso se parece um pouco com os vícios aos quais os autores romanos aludem em suas obras e poderia explicar também a aparência feminina de Elagábalo.

O único erro que poderia ser imputado a Elagábalo é não ter percebido o choque cultural que a reunião, em uma mesma pessoa, dos papéis de imperador e sumo-sacerdote de uma religião tão estranha aos costumes italianos como era a sua causou na sociedade romana. Convenhamos que esperar essa consciência de um menino sírio que foi feito imperador aos quinze anos pelas manobras da mãe e da avó seria demasiado,  mesmo nos tempos atuais.

CUIDADO COM OS IDOS DE MARÇO!

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Adivinho:    —    César!!!!
César: —              Ei! Quem me chama?
Casca: —              Silêncio, novamente! Pare tudo!
César: —              Quem dentre a multidão disse meu nome?
                               Ouvi uma voz, mais alta do que a música, bradar por César…
                               Fala! César se acha disposto para ouvir-te!
Adivinho: —         Tem cui­da­do com os idos de março!
César: —              Que homem é esse?
Brutus: —            Um adivinho. Manda que tu tomes cuidado com os idos de março.

(Ato I, Cena II, Júlio César, de William Shakespeare)

Os idos de março, no antigo calendário romano, correspondiam ao dia 15 de março.

A passagem acima, ocorrida no dia 15 de março mais importante da História da Humanidade, aqui contada nos versos magistrais de Shakespeare, segundo o historiadores romanos, aconteceu realmente. Suetônio preservou até o nome do adivinho, Surinna, , e Plutarco e Cássio Dio também narram o mesmo fato.

No dia 15 de março de 44 A.C, Caio Júlio César, Ditador Perpétuo de Roma, o homem mais poderoso que governara a República Romana em seus 465 anos de existência, acordou e passou a manhã pensando se deveria ou não comparecer a uma sessão do Senado Romano.

Foi um momento em que o destino do Mundo se equilibrou à maneira de uma bola de tênis em cima de uma rede, como na célebre cena do filme Match Point, de Woody Allen…

Na semana dos idos de março, vamos republicar nossa série sobre o drama político que resultou no assassinato de César.

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(Cena do clássico “Julius Caesar” (1953) dirigido por Joseph L. Mankiewicz)

GLICÉRIO – O ANTEPENÚLTIMO IMPERADOR ROMANO DO OCIDENTE

 

Glicerio_-_MNR_Palazzo_Massimo.jpg(moeda de Glicério, foto de TcfkaPanairjdde)

 

Em 3 de março de 473 D.C., em Ravena, Itália,  Flavius Glycerius (Glicério) foi escolhido como novo Imperador Romano do Ocidente, pelas tropas comandadas por Gundobado, o Burgúndio, que sucedera seu tio Ricimer na condição de Patrício (um título que no final do Império era dado ao comandante militar supremo do exército romano, ou Magister Militum, normalmente um chefe bárbaro germânico).

Glicério, quando de sua ascensão ao trono, ocupava o cargo de Comes Domesticorum (Conde dos Domésticos), ou seja, comandava o regimento de guardas imperiais do Palácio de Ravena. E antes deste posto, as fontes citam que Glicério ocupou um comando militar na Dalmácia.

As fontes nada mencionam sobre a origem de Glicério, mas, certamente, ele devia ser um cidadão romano e sem antepassados bárbaros recentes, pois,  para ser considerado um candidato aceitável para o Senado Romano e para a população italiana, era necessário ter este pedigree.

Com efeito, apesar de Ricimer  ser a eminência parda do Império do Ocidente desde 456 D.C. e o responsável pelas nomeações dos imperadores Majoriano, Líbio Severo e Olíbrio, ele mesmo jamais se atreveu a assumir o trono, uma vez que Ricimer era filho de Rechila, o rei dos Suevos, na Galícia e norte do atual Portugal e neto, por parte de mãe, de Wallia, rei dos Visigodos. E se Ricimer,  mesmo depois de quase vinte anos de poder, não foi um pretendente viável ao trono, muito menos o seria seu sucessor e sobrinho, Gundobado.

Contudo, apesar de ser um efetivo criador de imperadores, Ricimer preferiu não se opor à indicação de Antêmio (467/472 D.C.), feita pelo pelo Imperador Romano do Oriente, Leão I, para ser o novo imperador do Ocidente, devido ao fato de que Ricimer precisava do apoio de Constantinopla para contrabalançar a influência de Geiserico, rei dos Vândalos. Como retribuição à sua boa vontade e provável compensação, Ricimero recebeu a mão de Alypia, a filha de Antêmio, em casamento.

Como imperador, Antêmio procurou atacar os dois maiores problemas que ameaçavam a sobrevivência do Império do Ocidente:  a) a ocupação dos Vândalos na África, governados pelo astuto e competente rei Geiserico, que fazia incursões na Itália (entre as quais o Grande Saque de Roma, em 455 D.C) e no Mediterrâneo e intervinha constantemente nos assuntos do governo e, b) a expansão dos Visigodos  na Gália.

E, mais importante, Antêmio contava com o apoio de Leão I, o novo Imperador Romano do Oriente, que também estava comprometido com uma estratégia de enfraquecimento do poder dos bárbaros e, como visto, mostrava-se interessado nos assuntos ocidentais. Sem a participação de Constantinopla, contudo, nenhum plano nesse sentido seria possível, porque seus recursos materiais e humanos eram muitos superiores aos disponíveis ao imperador ocidental.

Leo I Louvre Ma1012 n2 by Marie-Lan Nguyen

Com efeito, o fato é que, após a perda da África, em  sua maior fonte de grãos, em 435 D.C.,  e de boa parte da Gália, a sua província mais rica, o Império do Ocidente mal tinha recursos para pagar o seu exército composto, majoritariamente, de mercenários bárbaros e tribos germânicas servindo como foederati.

Porém, a grande expedição conjunta contra Cartago, a capital dos Vândalos na África, em 468 D.C., foi um retumbante fracasso. E Antêmio não teve mais sorte contra os Visigodos, que derrotaram as tropas ocidentais próximo a Arles, inclusive matando seu filho, Anthemiolus.

Esses insucessos tornaram Antêmio muito mais dependente de seu general Ricimer, que, ostensivamente, já se mexia para colocar um novo fantoche no trono ocidental.

O estopim para  o conflito aberto entre Antêmio e o seu comandante-em-chefe Ricimer foi a execução do senador Romanus, amigo próximo e aliado do general bárbaro, acusado de conspiração, o que levou Ricimer a abandonar Roma acompanhado de 6 mil  guerreiros, em direção a Milão.

O bispo de Pavia intermediou uma trégua entre Antêmio e Ricimer que durou um ano. Quando as hostilidades recomeçaram,  Antêmio julgou mais seguro ir se refugiar na Basílica de São Pedro, no Vaticano, que, desde o reinado de Constantino I era a sede do Bispado de Roma.

Leão I, preocupado com a crise, resolveu mandar à Roma o senador Olíbrio, que se encontrava em Constantinopla para intermediar um novo acordo entre os adversários, além de um emissário levando uma carta para Antêmio

Segundo uma das fontes, porém, a verdadeira intenção de Leão I era se livrar de Olíbrio, já que este era suspeito de ser aliado de Geiserico, o rei dos Vândalos, que por duas vezes já tinha patrocinado a candidatura dele ao trono.

Contudo, os soldados de Ricimer controlavam o Porto de Roma e a carta do imperador foi interceptada. Ao ser aberta a carta, uma surpresa: Leão I dava instruções a Antêmio para executar Olíbrio assim que este chegasse à Roma.

Em abril de 472 D.C. (data provável), Ricimer proclamou Olíbrio como novo imperador do Ocidente. Porém, os nobres e a população de Roma ficaram do lado de Antêmio.

Seguiram-se cinco meses de combates urbanos nas ruas de Roma, com Antêmio e seus partidários entrincheirados no Palatino. Porém, quando Ricimer conseguiu  cortar a rota entre o Palácio e o Porto fluvial do Tibre , interrompendo o abastecimento de víveres, Antêmio foi obrigado a ir se refugiar novamente na Basílica de São Pedro (outra fonte menciona a Igreja de Santa Maria in Trastevere). Vale citar que, entre as tropas comandadas por Ricimer, estava Odoacro, chefe da tribo dos Scirii.

Em uma última tentativa desesperada, durante o conflito, Antêmio enviou um pedido de ajuda às tropas da Gália, também compostas de mercenários germânicos, sendo que Ricimer havia feito, concomitantemente, idêntica solicitação.

Ocorre que o primeiro a atender o pedido foi Gundobado, o sobrinho de Ricimer, que ocupava o cargo de Magister Militum per Gallias. O provável substituto de Gundobado, Bilimer,  também veio em socorro de Antêmio, mas foi derrotado e morto nas proximidades de Roma.

Derrotado e sem reforços, Antêmio tentou fugir disfarçado de mendigo, mas foi decapitado por Gundobado, que não deu a mínima para o fato do imperador estar refugiado em uma igreja.

basilica são pedro 21.jpg(Antiga basílica de São Pedro,no Vaticano, construída pelo imperador Constantino, o Grande. Ela durou até a atual ser construída, no século XVI).

Assim, Olíbrio assumiu o trono, mas, novamente, quem governava de fato era Ricimer, secundado por Gundobado. O novo imperador era integrante de uma das famílias senatoriais mais ilustres e mais ricas do Baixo Império Romano, os Anícios, mas isso não lhe seria de muita serventia, pois o que contava agora era a capacidade de controlar tropas e recursos e isso ele não tinha. Para piorar, como não é de surpreender, ele não foi reconhecido pelo imperador do Oriente, Leão I, o único capaz de oferecer algum auxílio.

Uns 30 ou 40 dias após a ascensão de Olíbrio ao trono, Ricimer morreu, aparentemente de causas naturais, sendo sucedido por Gundobado, agora o novo Patrício.

O reinado de Olíbrio seria curto e insignificante. Não havia nada que ele pudesse fazer para reverter a situação terminal do Império do Ocidente, se é que ele tinha alguma disposição de tentar, assim, não espanta que os esparsos indícios de suas ações relacionem-se com a religião cristã.  Em outubro ou novembro de 472 D.C., Olíbrio morreu de alguma doença cujo sintoma era hidropsia.

Com a morte de Olíbrio, Gundobado tinha 3 alternativas: a) colocar um sucessor no trono ocidental; b) oferecer o trono ocidental a Leão I, que, afinal, ainda que apenas formalmente, tinha legitimidade para reunificar o Império Romano; ou c) proclamar-se ele mesmo o novo imperador romano.

Gundobado, como vimos, jamais seria um imperador aceito pela aristocracia senatorial romana. Esta podia não ter nenhum poder militar, mas o fato é que os senadores do Ocidente tinham, em regra, uma fortuna descomunal, proveniente de séculos de acumulação de patrimônio, e, além disso, a administração pública ocidental não conseguiria funcionar sem o concurso da classe senatorial.

Ironicamente, reunificar o Império também era uma opção indesejada pela aristocracia ocidental. Os senadores ocidentais gozavam de  privilégios e isenções muito maiores do que os seus colegas em Constantinopla, onde a autoridade do imperador era exercida de modo muito mais intenso e abrangente.

Assim, Gundobado optou por agir de modo convencional e escolher mais um fantoche para o trono do Império Romano do Ocidente. E, naquele  03 de março de 473 D.C. (uma fonte menciona o dia 05), o escolhido foi Glicério, que, além de ser aceitável para o Senado, como já mencionamos, era, ao menos tecnicamente, até aquele momento, um subordinado do Magister Militum,  ou seja, do próprio Gundobado.

Glicério e Gundobado, de início, tentaram ser conciliadores com Leão I, como foi demonstrado pelo fato de Glicério não haver escolhido, como era de seu direito, o segundo Cônsul para o ano de 474 D.C, deixando que o neto de Leão I, que era ainda uma criança pequena, servisse como único cônsul para aquele ano.

Mesmo assim, Leão I, que em breve morreria, em janeiro de 474 D.C., não reconheceu a escolha de Glicério como imperador pelo Senado Romano, designando Julius Nepos, o comandante do exército oriental na Dalmácia e parente da imperatriz Verina, como seu candidato ao trono do Ocidente, encarregando-o de uma expedição para depor Glicério. Com a morte de Leão I, seu neto, Leão II assumiu o Império Romano do Oriente, o qual  nomeou, como co-imperador, o próprio pai, e, então, o verdadeiro homem-forte em Constantinopla, Zenão I.

Ainda tentando ser reconhecido pelos colegas orientais, Glicério chegou a cunhar moedas com as efígies de Leão II e Zenão I, mas a corte de Constantinopla se manteve inflexível em considerá-lo apenas um usurpador.

A situação do Ocidente só piorava e Glicério, sem muitas alternativas, fez o melhor que podia para lidar com a ameaça de invasão dos Visigodos e dos Ostrogodos à Itália, que, na prática, era a única província que ele ainda governava de fato: Mandou as tropas que ainda restavam combater, com algum sucesso, os Visigodos (na verdade, era apenas um bando desses bárbaros, comandado por um subordinado do rei Eurico), e, após conseguir acumular algum ouro, pagou  2 mil moedas de ouro aos Ostrogodos para que eles fossem para algum outro lugar. Infelizmente, o lugar onde ambos os bandos foram parar foi a Gália, que já estava sendo avassalada por várias invasões.

Enquanto isso, a expedição de Julius Nepos, que estava aguardando o inverno passar para poder zarpar, finalmente, com a chegada da primavera, pôs-se a caminho de Ravena.

Glicério, que durante o seu reino residira em Ravena ou em Milão, foi para Roma, talvez porque essa cidade estivesse mais distante da Dalmácia, ou, também,  porque lá, contando com o apoio do Senado Romano e da população, ele tenha pensado que fosse mais fácil resistir.

Contudo, Julius Nepos certamente tinha ciência da manobra de Glicério, pois navegou em direção ao Mar Tirreno, desembarcou em Portus (porto de Roma, no litoral), sendo que Glicério não esboçou nenhuma resistência, sendo deposto sem esboçar qualquer luta, em junho de 474 D.C.

Ao contrário do desfecho mais corriqueiro na longa lista de imperadores romanos, Glicério não foi executado, mas apenas destituído do trono e nomeado Bispo de Salona, na Dalmácia (lugar onde Julius Nepos decerto tinha mais capacidade de controlar qualquer ação sua).

O Senado Romano imediatamente reconheceu Julius Nepos como o novo imperador do Ocidente.

Não há registro de qualquer medida tomada por Gundobado para defender Glicério ou atacar Julius Nepos. É bem possível que ele estivesse na Gália, lidando com os ataques de outras tribos germânicas ou tentando reunir tropas para  a defesa de Glicério, não se sabe ao certo. Outra possibilidade é que ele tenha ido reclamar a sua parte no reino dos Burgúndios, na Gália Lugdunense (que daria origem à atual região da Borgonha), após a morte de seu pai, Gundioc, e do irmão dele, Chilperico I, esta ocorrida justamente em 474 D.C. De qualquer forma, o seu comando militar na Itália não existia mais e de fato não  consta que ele tenha voltado à península.

A última notícia que se tem de Glicério data do ano de 480 D.C., quando ele ainda era Bispo de Salona e, segundo um autor antigo, teria participado de uma conspiração para assassinar, ironicamente,  ninguém menos do que o próprio Julius Nepos, que, após ser deposto pelo novo Magister Militum do Ocidente, Orestes, em 29 de agosto de 475 D.C.,  havia fugido para a Dalmácia.

 

 

 

 

 

 

 

MARÇO – O MÊS DA GUERRA

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No antigo calendário romano, utilizado antes do calendário Juliano adotado por ordens do Ditador Caio Júlio César, março era o primeiro mês do ano. Assim, o ano romano começava nas calendas (1º dia de cada mês romano) de março.

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Março, ou Martius, em latim, recebeu esse nome em homenagem ao deus da Guerra, Marte, e, de fato, a temporada de guerra começava nesse mês, quando o inverno aproximava-se do seu fim e começava a primavera.

Entre os muitos festivais romanos celebrados no mês de março, destacam-se os célebres Bacanais (Bacchanalia), em honra a Baco, deus do Vinho,  no dia 17.

Nas calendas de março (dia 1º), ocorreram vários fatos marcantes na História de Roma, entre eles:

1 – Em 509 A.C. : foi celebrado a primeira procissão triunfal (Triunfo) em Roma, pela vitória na Batalha de Silva Arsia, onde os Romanos, liderados pelos dois primeiros Cônsules, Lúcio Júnio Bruto e Públio Valério Publícola, derrotaram os Etruscos das cidades de Veii e Tarquinia, liderados por Tarquínio, o Soberbo,  o antigo rei de Roma que havia sido destronado pela revolta liderada pelos dois cônsules, no episódio que levou à instauração da República Romana. Na Batalha, Lúcio Júnio Bruto foi morto.

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2 –  Em 86 A.C.: o general romano Lúcio Cornélio Sila, encarregado da guerra contra Mitridates VI, rei do Ponto e várias cidades gregas,  consegue invadir Atenas, após vários dias de cerco, e captura o tirano Aristion, aliado de Mitridates, que é executado.

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3- Em 293 D.C.: Os imperadores Diocleciano e Maximiano, respectivamente Augustos das metades oriental e ocidental do Império Romano, nomeiam como Césares os generais Constâncio Cloro e Galério, para ajudá-los a administrar o Império e serem os seus sucessores, instaurando formalmente o sistema de governo que ficaria conhecido como “Tetrarquia”.

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4- Em 317 D.C.: Crispo e Constantino II, filhos do imperador Constantino, o Grande, são nomeados Césares.

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